Relações entre o Talento Inato e a prática deliberada A - TopicsExpress



          

Relações entre o Talento Inato e a prática deliberada A discussão acerca da existência de um talento inato que predispõe alguns jovens para a obtenção de performances mais elevadas, tem-se tornado cada vez mais acesa. A corroborar este pensamento, estão as palavras de Fonseca e Garganta (2006), ao afirmarem que “ a existência, ou não, de um talento inato é uma questão controversa”. De facto, existem os defensores da ideia de que os grandes jogadores de futebol nascem já com um “Dom especial” que os predispõe para a prática desportiva, enquanto que do outro lado da “barricada”, estão os que defendem que o talento inato, só assume especial relevância, quando consubstanciado numa prática regular que inculque novos comportamentos e atitudes nos jovens. Estamos, desta forma, perante dois pensamentos diametralmente apostos, mas que de alguma forma se assumem como complementares, pois como veremos, os exemplos demonstram-nos que os atletas que atingem o mais alto nível, relacionam de uma forma “simbiótica” o chamado “Dom natural” com o trabalho árduo no treino. Quer isto dizer que, um atleta que nasça com um talento inato para a prática do Futebol, mas que não seja sujeito a um posterior processo de treino que possa exponenciar essas capacidades, dificilmente poderá chegar a patamares de “elevado nível”. Todavia, também não é menos verdade que um atleta pode beneficiar de um excelente processo de treino, mas se todavia, não tiver sido “bafejado geneticamente”, não será um talento. Apesar disso, atentemos nas palavras dos especialistas acerca desta matéria, para melhor entendermos o que na verdade é mais importante na formação de jovens talentos. 2. O Talento Inato De facto, se atentarmos no termo “inato” verificamos que significa algo inerente a um indivíduo, que nasce com ele, não sendo fruto da aprendizagem. O inato não é mais do que uma “herança genética”, um “legado” que nasce com um indivíduo que o talha para desempenhos acima da média. Na verdade, um olhar mais atento sobre o fenómeno desportivo, coloca a descoberto uma realidade que é indesmentível, ou seja, há crianças que evidenciam desde cedo uma predisposição clara para realizar proezas que as demais não são capazes de realizar, ou seja, um talento, é um atleta que pelas qualidades que possui, consegue “inventar” uma solução rápida e inovadora para um problema que surja. Diríamos que um talento tem uma capacidade de descriminação fina, que lhe permite descortinar um desenlace diferente para cada situação de jogo. A este respeito o treinador Carlos Carvalhal, assume que os pre-destinados, os fora-de-série, nascem…”.Na mesma linha de pensamento surge Rui Barros ao afirmar que existem determinadas características, sobretudo nos jogadores que desequilibram sistematicamente, que já nascem com eles. Esta filosofia de pensamento reforça a ideia de que “ os Génios” do futebol, nascem com características endógenas, que se assumem como condição “sine qua nom” para as elevadas prestações que evidenciam. Apesar disso, será que esta “riqueza genética” chegará para atingir as tão almejadas prestações? A importância do Treino no “lapidar” de talento Sem desmentir as premissas anteriormente apresentadas, existem autores que conferem ao Treino um papel fundamental no “Lapidar” das qualidades genéticas com as quais nascem determinados atletas. Araújo (2004) refere que o conceito de talento tem servido para justificar tudo o que não se sabe explicar e está relacionado com o desempenho dos atletas. Também Garganta (2006), afirma existir a crença de que dons inatos são uma pré-condição para altos desempenhos, levando os técnicos ao desinvestimento em atletas não identificados como talentos. A base desta descrença, tem a sua génese no facto de na maioria das vezes, o talento surgir associado a um maior desenvolvimento maturacional, isto é, em fases mais precoces do desenvolvimento dos atletas, é dado maior ênfase aos jovens que apresentam já uma maturação mais avançada e que fruto desse desenvolvimento atingem resultados desportivos mais elevados. Todavia, o que importa aqui referir, é a ideia de que os Grandes talentos associam de forma harmoniosa “ as ferramentas genéticas”, a um processo de treino de qualidade, que permite a expressão de qualidades individuais, no seio de um projeto coletivo. Nesta perspetiva, o atleta talento, deve ser encarado como um “diamante em bruto” que necessita de um trabalho de lapidação constante. Este trabalho, deve ser levado a cabo pelo treinador, que neste caso se assumirá como um “joalheiro”. O Treinador e os Jovens Talentos Uma das questões fulcrais que importa responder, quando se fala na formação e deteção de jovens talentos, é o papel do Treinador em todo este processo. De facto o Treinador assume um papel de especial relevância no processo de treino de jovens atletas, sejam eles talentos, ou simples jogadores. Todavia, quando falamos na integração de atletas com um potencial acima do normal, importa referir as implicações que esse facto pode ter na equipa. É certo que qualquer treinador gostaria de contar com atletas talentosos na sua equipa, contudo, a ação do mesmo assume uma importância inquestionável. Se ter talento significa fazer aquilo que poucos conseguem realizar, então torna-se importante que este virtuosismo individual assuma contornos coletivos pois o talento de um atleta ganha tanto mais valor, quanto maior for o seu vínculo aos “desígnios coletivos”. Significa isto que, cabe ao Treinador “harmonizar adequadamente a criatividade de cada um dos seus jogadores, ou seja, todas as criatividades individuais dentro do jogo coletivo”(Camino, 2002). A validar esta premissa, atentemos nas palavras de Frade (1985), ao referir que os jogadores mais extraordinários, são aqueles que sem deixarem de jogar para a equipa, põem em campo os primores da sua subjetividade. Conclusões Não gostaríamos de terminar este artigo, sem tecer algumas reflexões finais acerca desta temática: -Em primeiro lugar importa compreender que o Talento é um “dom natural”, uma “herança genética”, que torna o seu possuidor capaz de realizar aquilo que o normal atleta não pode fazer. Assim, é se singular importância a forma como, nós treinadores, intervimos juntos destes atletas, amplificando o seu potencial peculiar, e ao mesmo tendo firmando-o no seio de um projeto de equipa -Em segundo lugar, é de basilar importância inculcar no atleta a ideia de que todo o seu talento bruto, necessita de ser polido para que o atleta possa exprimir todo o seu potencial. Esse polimento só pode ser levado a cabo através de um processo de treino bem orientado. -Em terceiro lugar, o treinador jamais poderá confundir Talento, com desenvolvimento maturacional precoce, isto é, o atleta que nos escalões mais baixos apresenta elevados resultados desportivos, fruto de um desenvolvimento físico acima da média, não pode ser confundido com o “jeito “ natural para realizar façanhas que só estão ao alcance de uns. -e por último, importa lembrar que não podemos tratar da mesma forma, um jogador talento e os restantes atletas. Não se trata aqui de conceder ao primeiro um tratamento privilegiado em relação aos outros, trata-se de compreender que o respeito pelo princípio da individualidade é fundamental para o desenvolvimento de todos, correndo o risco de perdermos os talentosos e a restante equipa. Valter Pinheiro
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 04:36:20 +0000

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