Sobre obesidade, fuga, amor próprio e a saúde do ser: uma - TopicsExpress



          

Sobre obesidade, fuga, amor próprio e a saúde do ser: uma reflexão sobre os gaúchos e a vida em geral no feriado de 20 de setembro Semana passada, fui a algumas lojas comprar roupas de verão e me deparei com tamanhos imensos. Tudo largo com o maldito "cintinho", que usavam como justificativa para as peças gigantes. - Coloca o "cintinho", que acintura. - Não quero "cintinho". Quero saber o que está acontecendo com a indústria. Todas as lojas por onde passei me deparei com isso. Roupas muito grandes e um "cintinho" pra quem quiser transformar o saco de batata chamado de moda verão 2013 em algo menos burca. Foram dezenas de lojas. Perguntei o porquê disso e apenas uma vendedora ousou dizer que o tamanho das clientes tem aumentando ao longo dos anos. Segundo ela, roupas PP, P e M estão difíceis de vender nas últimas estações e, portanto, o que antes era G virou P. Segui caminhando e caí numa loja da usaflex, pois precisava de tamancos. Na loja, a moça falava com outra cliente. Dizia que, no RS, a modelagem da fábrica de sapatos usaflex estava sendo AMPLIADA. Aqui no estado especificamente, pois as mulheres gaúchas eram MAIORES do que as do resto do país. Interessante, pensei comigo. Apaixonada como sou pelo interior do estado, compreendo muito. Neste momento, enquanto cortava os legumes, frutas e brotos da feira, olhava pela porta de vidro e via aquela chuva fria caindo. Olhava para o broto de girassol e pensava em pão caseiro. Olhava para o broto de beterraba e pensava em geleia. Olhava, por fim, para o broto de moyashi e pensava em kaschimier. Conseguimos reunir os elementos mais tristes da culinária mundial. A carne vermelha e a influência alemã/italiana. Cerveja/chope, trigo e carne vermelha (e excesso de trabalho/falta de sono). Receitinha muito, muito destrutível. Fiquei bastante assustada de saber que, mesmo que as gaúchas apresentem os piores índices de saúde do país, as coisas estão piorando a ponto da indústria da imagem mudar por elas. Passei a vida sofrendo pra encontrar roupa quando era obesa e não lembro da indústria repensar um centímetro por mim. O que me leva a crer que é algo massivo ou que possui um número "lucrativo"de pessoas acima do peso. Pelo que notei das roupas e dos sapatos, que caem dos meus pés - e eu estou longe de ser mignon, tenho um corpo na tênue definição do "normal" (com muito, muito, muito esforço, pois sou a personificação da tendência a engordar), não falamos mais de uma mulher com os clássicos e bonitos três ou quatro quilos acima do peso. Falamos de mulheres com riscos de saúde. Temo bastante ao ver como a indústria aumentou tanto um padrão de modelagem. Direi algo bastante polêmico, mas enfim: quanto maior a roupa no nosso armário, mais nos permitimos engordar. Fosse um engordar com aveia orgânica e arroz integral, fantástico, mas, infelizmente, sabemos que as coisas não são bem por aí. Sou muito criticada por uma percepção minha, que vai contra todo pensamento feminista existente no planeta: nos últimos anos, tenho analisado um fenômeno não por questões morais, mas por saúde. Com a explosão das "mulheres fruta", que iniciou com a boazuda Priscila no BBB, o número de mulheres anoréxicas caiu muito. Tem caído. O padrão brasileiro mudou não apenas no obscuro universo das patologias alimentares, mas aos olhos de todos. As mulheres estão cada vez maiores. Explicaria isso por meios ainda mais polêmicos, mas me calarei sobre este ponto. O que importa é que a ditadura da magreza já estava sendo afastada gradativamente, mesmo que por meios que "denigram" o valor da mulher. Há positivo em tudo, mesmo na mulher fruta balançando a bunda na tela. Mas, me parece que o movimento de polo em polo é inescapável de fato e pra tudo. Infelizmente. Da anoréxica pro risco de obesidade, de doença para doença, reproduzimos, em nossos corpos, a doença do sistema. Somos reações aos traumas do passado e levantamos bandeiras perigosas por tabus, por politicamente correto, mesmo que isso coloque a saúde da população em risco. Eu escrever um texto deste me coloca numa posição complicada num perfil cheio de mulheres. Mas, temo que não posso ser complacente, tendo vivido nos dois polos e estando eu, hoje, observando tudo por todas as áreas que a ciência pode analisar. Após escrever este desabafo, fui atrás de alguns dados e os coloco aqui (todos de 2013): - mulheres de Porto Alegre, acima dos 60 anos, apresentam os piores índices de vitamina D no país: mais de 80% delas têm deficiência da substância no organismo. - segunda edição da pesquisa Saúde do Coração do Estado, divulgada pela Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (Socergs), mostrou que a saúde do gaúcho piorou nos últimos anos. Conforme os dados, 57,5% da população está com excesso de peso. Na primeira edição da pesquisa, em 2010, esse índice era de 43%. O sobrepeso vem acompanhado de cansaço, estresse e sobrecarga emocional - fatores que há três anos atingiam 52,4% da população gaúcha. Atualmente, são 70,9%. - As gaúchas estão entre as brasileiras com maior risco de desenvolver câncer de mama. Porto Alegre é a capital de mais proporção de casos novos em relação à população feminina, e o Rio Grande do Sul é o segundo Estado em incidência desse tipo de tumor. - A mulher gaúcha está bebendo mais e comendo muito mal, além de trabalhar em jornada dupla ou tripla. Cansada não pratica atividade física, e sem movimento o corpo se deprime o que induz a busca do chocolate,o álcool ou doces com açúcar e farinha de trigo refinada para compensar as frustrações . O que tenho pra dizer é sempre o mesmo e vem de alguém que perdeu um pai por isso, de alguém que, aos 20 anos, ouviu que tinha mais dois anos de vida por isso: eu. E eu digo amem-se. Amem-se acima do trabalho, do abraçar o mundo por meio do "fazer" tudo. Sejam tudo. Para si mesmas. Saibam impor limites. A mãe sabe fazer isso. Dizer não. Para si mesmas e para o mundo. Mundo, afaste-se. Agora é minha vez de me amar. Não priorizarei nada ou ninguém antes de mim. E note, isso não é um manifesto individualista. É um manifesto pela vida. Tem filho? Vai viver até quando por ele? Tem marido? Paixão e admiração são irmãs siamesas. O amor do outro por ti é reflexo da tua construção de ti por ti. Amor é transbordar. Foram anos vivendo com todos os graus de indivíduos favoráveis à lógica da bengala. Anos. Concluí meu doutorado em bengala este ano. Não, não é lindo ter alguém pra nos motivar. Isso é dependência e colocar tua responsabilidade de ti mesmo sobre o outro. Isso é infantilidade e sofrimento. Ninguém pode viver por ti. Ninguém pode te amar por ti. Lindo é ser motivo de inspiração para si mesmo. Lindo e BÁSICO. Parem de buscar tábuas de salvação em namorados, empregos, diplomas, cerveja, açúcar, objetos externos. Não são os objetos externos que fazem tu te amar, é o modo como tu busca os objetos externos, como símbolos de um amor que já existe em ti. Nesse momento, poderemos compartilhar, juntos, tudo que somos e ninguém vai precisar construir ninguém - e essa teoria furada da bengala, que precisa ser acompanhada de infinitas justificativas e fugas destrutivas para preencher os buracos que ela causa em nós poderá deixar de existir. Toda vida embasada numa mentira implica tapa-buracos destrutíveis. O álcool, a mamãe que acolhe, o filho usado como desculpa, o emprego que preenche toda tua agenda, o namorado que te motiva a sair da tua própria cama. Não pense que, porque o Bosque de Berkana e os amiguinhos compartilham citações bonitas que legitimam tua razão para que tu fuja do teu amor por ti teu próprio inconsciente não sabe o que tu está fazendo. Ele sabe. E ele volta na insônia, na aceleração, na incapacidade de estar presente na tua própria vida. Na incapacidade de enxergar o que tu está fazendo com tua própria existência. É impossível escapar do amor próprio. Ele é o norte da vida do ser. Pode ser a maior prisão ou o caminho da libertação. Escolham a segunda alternativa, por favor. Construam-se. Plenamente. Ao infinito. Nos abraçamos ao longo da jornada.
Posted on: Sat, 21 Sep 2013 20:28:40 +0000

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