Texto do Antônio Carlos Costa, riodepaz.typepad Extrapolação - TopicsExpress



          

Texto do Antônio Carlos Costa, riodepaz.typepad Extrapolação do amor: a dimensão política da regra de ouro John Stott, famoso teólogo britânico, morto ano passado aos 90 anos de idade, afirma num dos seus livros que, "a pressão política é uma extrapolação legítima do mandamento de amar ao próximo". O que ele quer dizer com isso? A Bíblia não fala nada explicitamente sobre pressão política. Ela manda amarmos ao próximo, o que significa, entre outras coisas, fazer o que estiver ao nosso alcance para socorrê-lo nas suas necessidades, especialmente, quando este não tem subsídios para socorrer a si mesmo. Esse amor é chamado nas Escrituras de misericórdia. No Estado moderno, neste modelo de sociedade dentro do qual vivemos, certas necessidades humanas só podem ser supridas quando o poder público age. O que fazer quando somos postos em contato com pessoas cuja carência só pode ser suprida mediante a ação de um governo que se recusa a agir? Ali está alguém cuja dor demanda uma resposta do cristão. Este, porém, percebe-se de mãos atadas em razão do fato de -a desgraça daquele que a providência botou em seu caminho para ser socorrido-, depende, para ser mitigada, de políticas públicas que não são implementadas pela autoridade pública. Nestas horas, o amor evangélico, revelado por Cristo nas Escrituras, pede por inferência lógica insofismável, que o único caminho para a solução do problema seja naturalmente tomado. Sendo esse caminho, a pressão política, essa extrapolação do amor tornar-se-á legítima. Tudo o que estou dizendo tornou-se claro para mim através do trabalho de campo. Tenho me deparado todos os dias com seres humanos reais que sofrem por causa da incompetência, falta de compaixão e descaso do poder público. Deixe-me falar sobre duas experiências vividas por mim nos últimos anos. Estou numa prisão distribuindo camisas brancas, sandálias havaianas, remédios, pasta de dente. Observo, ao mesmo tempo, que a temperatura das celas chega a quase 57 graus celsius, os cárceres estão superlotados, inocentes encontram-se presos, pessoas que cometeram crimes insignificantes estão enjauladas e não há a mínima perspectiva de reintegração social do apenado. Tem gente que não gosta que falemos de misericórdia pela vida do preso. Pessoas que não olham para suas próprias vidas e não dão conta que o princípio que sustenta sua existência é o favor imerecido de um Deus que sente repulsa pelo que elas fazem. Deixe-me falar de um outro contexto. Estou numa favela onde pessoas vivem abaixo do nível da pobreza. Levo cesta básica para elas. Tomo conhecimento, através desse contato, que policiais estão praticando abuso de poder na localidade. Ao lado dos barracos percebo um rio para onde escorrem o esgoto, um Amazonas de fezes, em cujas margens ratazanas se alimentam do lixo. Crianças morrem de leptospirose. Quem pode dar conta dos problemas supramencionados? Não estou perguntando quem tem a responsabilidade de resolvê-los. Pode acontecer de que assumamos a responsabilidade, em nome do amor, pela inoperância dos outros. A questão é outra. Qual a única solução para estes problemas? A igreja precisa aprender a vivenciar essa "extrapolação do amor". Amor que a levará à imperiosa decisão de se envolver com algo que ela julga tão sujo (não menos sujo do que muita política eclesiástica que conhecemos por aí), a dimensão política da vida.
Posted on: Wed, 10 Jul 2013 04:29:12 +0000

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