Um dia conversávamos sobre literatura e ela sacou um livro antigo da estante, abriu e recitou Manuel Bandeira para mim. Assim, de bobeira e altiva, entre a sobremesa e o cafezinho. E se emocionou e eu fotografei. Um dia outro ela cantou My Way e chorou, saudosa do marido, Vô Cordeiro, que há muito já havia partido. Nunca consegui chamá-la de Vó, e ela sempre ralhou comigo por isso. Quando eu a chamava de Vó emprestada, ralhava mais ainda. Falava que eu devia rouba-la logo, que esse empréstimo já tinha quase 30 anos. Para mim, por respeito, desses que a gente só tem por quem está meio que acima do bem e do mal, ela sempre foi Dona Helena, a avó dos meus irmãos, a dona dos mais saborosos doces e da mais delicada voz. Vá em paz e com muita luz, minha Vó roubada. Sempre foi minha também. E agora, na saudade que já bate, desse batismo roubado eu não abro mão.
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 06:30:22 +0000