(...) Um dos principais líderes do movimento de Maio de 68, onda de protestos iniciada pelos estudantes que sacudiu a França, Daniel Cohn-Bendit, hoje deputado verde europeu, começou a ler Camus em sua adolescência, mas conta que só foi descobrir o lado libertário do pensador bem mais tarde, quando os ruídos da revolta de maio já haviam cessado. — Maio de 68 foi um pouco o triunfo de Sartre. No início eu era bastante sartriano, mas depois fui muito tocado por Camus por seu aspecto mais reflexivo em relação às tomadas de posições mais peremptórias de Sartre — diz. Cohn-Bendit, que lançou este ano o livro de provocativo título “Pour supprimer les partis politiques!?” (“Pela supressão dos partidos políticos!?”), admite que a influência de Camus foi muito forte para que ele próprio assumisse a sua via libertária. — Ele conseguiu evitar a armadilha de ter de escolher entre os americanos e os russos, o imperialismo de um e de outro. Teve essa lucidez. Não é verdade quando se diz que era apolítico. Era, ao contrário, muito político. Hoje procuramos referências na análise política, e penso que podemos encontrar mais facilmente um quadro moral de reflexão em Camus do que em outros pensadores — defende. Cohn-Bendit vê na vontade atual de superação das clivagens políticas tradicionais a veia libertária antitotalitária de Camus, mas aponta nuanças. — Camus tinha uma indignação prudente, e vejo nos manifestantes de hoje uma indignação desesperada. A indignação pode ser o motor de um movimento, mas em política a prudência não é algo de todo ruim. Fernando Eichenberg (O Globo – Prosa e Verso)
Posted on: Sat, 09 Nov 2013 07:46:25 +0000