WALFREDO GURGEL: ”UM HOSPITAL EMBLEMÁTICO” Ignoro um - TopicsExpress



          

WALFREDO GURGEL: ”UM HOSPITAL EMBLEMÁTICO” Ignoro um termômetro que mensure com tanta correção o descaso com a saúde de nosso Estado. Corredores superlotados; criaturas clamando por acolhimento, ainda que seja em alguns palmos chão; doentes agonizando à espera de um leito de UTI; abastecimento precário. Médicos e demais servidores em clima de desespero, sentimento que aos poucos vai sendo substituído por uma revolta desmesurada. A jornada extenuante de trabalho; as noites de tortura; a luta odiosa contra a morte, cada dia mais frequente e mais robusta; a expectativa insana alicerçada pelo desatino do minuto seguinte, vez que o cenário continua árido e só piora. Os gritos de dor e gemidos de quem padece pelos agravos mais graves; o ambiente cada vez mais hostil, ocupado por aqueles que perdem seus entes queridos e identificam o jaleco e as criaturas que usam a indumentária branca como inimigos, já que são os mais próximos. Nos momentos de infortúnio, sepulta-se a lucidez e esquecem que aqueles serviçais buscam, incansavelmente, preservar a vida e atenuar o sofrimento humano. As vestes ensanguentadas; o momento da intubação, cuja emergência nem sempre enseja o uso de luvas, pela inadequação do cenário que protagoniza o desfecho. A cardioversão frustrada; a droga que falta; o equipamento que não funciona, justamente na única fração secular em que a vida mais precisa de vida. Depois de tudo, a expressão usual e impiedosa que tanto sacrifica a tantos: “Doutor, o paciente parou”. E aí, no comum das vezes, tem início o recomeço de mais um fim. E assim é o cotidiano de quem doa sangue, suor e saúde, em prol da vida de seu semelhante e em busca do tão precioso “pão de cada dia”, que cada dia é mais sofrido e exíguo. Paradoxalmente, em meio a um cenário dantesco em demasia, leitos de UTI estão na iminência de aviso prévio; profissionais pedem exoneração; outros planejam abreviar o período laboral, acionando a justiça em busca de uma aposentadoria precoce. O amanhã só acena com a possibilidade de cobranças e coerção. Vivemos o momento mais perverso da saúde do Rio Grande do Norte e do país. A realidade existencial do maior Hospital de Emergência do Estado é o retrato do descaso e da falta de compromisso com quem sofre agravos à saúde e com quem disso cuida. Um sistema mal gerenciado, falido e abusivo pelas exigências e humilhação impingidas a quem dele se utiliza como meio de subsistência. Pelo jeito, o “poder que comanda” é infame, insensível e insano. Não bastasse tanto, supõe-se eterno e infalível. Ledo engano! O calvário parece infindo. No entanto, o deslinde será outro, ainda que a vida que sempre salva, não seja salva. Outros virão e lutarão com destemor até o amanhecer de um novo dia. Sebastião Paulino
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 08:31:11 +0000

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