eu sou o teu estrangeiro tu és a minha estrangeira sou mercador - TopicsExpress



          

eu sou o teu estrangeiro tu és a minha estrangeira sou mercador árabe uso um atabaque da Bahia toco um violão como se fosse um corpo de mulher nas noites de solidão solidão que este deserto esfria até os ossos e onde minha alma fria está de prontidão ando neste mundo em meu camelo uso um violino de Viena e uma cítara antiga e sem dono no deserto onde não há primavera nem outono e toco toda noite com a lembrança dos teus pés descalços a roçar nos meus antes do sono sou mercador árabe que vende tudo a todos e todos a tudo e o medo que eu tinha de ir e a dor que tive em ficar sou mercador não sei criar levo agora o avesso da memória eu preciso de histórias para poder contar ao mundo senão não posso vivê-lo senão não posso vendê-lo nem comprar sal nem os teus cabelos sou mercador árabe eu tenho a pressa da areia e todo cuidado do mundo e o sol consome os segundos do meu coração gelado sim sou mercador te entreguei o que tinha de melhor e que pra ti nem valor tinha te ofereci eu próprio mas querias o ópio e as ervas daninhas sou mercador árabe tenho orgulho do deserto do meu peito aberto em dunas em tempestades sem fim agora vendo esperança em cada cidade deixo uma e vou criando amizades de estrada das que se perdem na poeira e que significam tanto ou nada sou mercador árabe estou cheio de areia e suor seco não tenho medo de nada só um receio presente que vem de carona com o vento e está sempre açoitando sem motivo aparente o deserto me maltrata eu sei mas eu não desisto dele assim como não desisto de me esquivar da tua navalha dos teus olhos de gralha do amor que me dás em graça pois és uma santa portuguesa mercadora de almas e eu um mercador árabe
Posted on: Tue, 25 Jun 2013 04:18:55 +0000

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