21-08-2013 QUAIS OS ERROS NA ECONOMIA BRASILEIRA - TopicsExpress



          

21-08-2013 QUAIS OS ERROS NA ECONOMIA BRASILEIRA As Lições de Casa que ainda não apreendemos O economista Tony Volpon, chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes da Nomura Securities, com sede em Nova York, não esconde o pessimismo em relação à economia brasileira. Ele foi o primeiro analista a revisar os números e a prever crescimento abaixo de 2% para o país neste ano, provocando a ira de integrantes da equipe econômica de Dilma Rousseff. Pelas suas contas, o Produto Interno Bruto (PIB) avançará apenas 1,6% em 2013 e 1,8% no próximo ano, quando o atual governo tentará a reeleição. Nascido no Rio de Janeiro, mas com sólida carreira internacional, Volpon não descarta, inclusive, a possibilidade de o Brasil entrar em recessão ainda neste ano, com retração do PIB neste e no próximo trimestre. “Na nossa projeção, há queda do PIB do terceiro para o quarto trimestre em 2013. Porém, pode haver um recuo também entre o segundo e o terceiro trimestres, porque os dados de julho estão vindo muito ruins. Então, seriam dois trimestres seguidos com queda, o que configura uma recessão.” Ele acredita que esse quadro ruim decorre de sucessivos erros cometidos pelo governo, sobretudo na área fiscal. Os truques contábeis comandados pelo Tesouro Nacional minaram a confiança dos investidores. “A grande boa notícia para esse quadro um tanto pessimista é que o ajuste na política econômica está começando a acontecer.” O Banco Central passou a subir os juros para controlar a inflação e o Palácio do Planalto convenceu-se de que não adianta mais estimular o consumo das famílias, mas, sim, os investimentos. Volpon ressalta, contudo, que a efetiva recuperação do país, se vier, só ocorrerá a partir de 2015. Para isso, é preciso que o Planalto deixe o BC atuar, sem colocar pressão política de olho nas eleições, e que o dólar se acomode em torno de R$ 2,40, de modo a garantir competitividade à indústria. “É preciso ter paciência. Este governo cometeu muitos erros na condução da política econômica ao longo de dois anos. Não será em apenas em um que conseguirá colocar o país no lugar”, avisa. Veja a entrevista que o economista concedeu ao Correio Braziliense. O governo tem sido muito criticado por recorrer a maquiagens contábeis nas contas públicas, minando a confiança dos investidores. Criou-se uma expectativa positiva em relação ao anúncio de um novo corte no Orçamento, mas o arrocho de R$ 10 bilhões anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, decepcionou por incluir mais revisão de despesa do que redução efetiva. Qual a sua avaliação? O que foi anunciado está sendo muito criticado, tanto pelo tamanho do corte, quanto pela forma. O mercado avalia que, para conseguir um superavit primário de 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto), o corte teria de ser, no mínimo, de R$ 20 bilhões. Então, o valor anunciado é muito menor que o necessário. Basicamente, são reestimativas de todos os tipos. O corte mesmo é pequeno. E não há detalhamento de como serão atingidos esses valores. Mas (o contingenciamento anunciado) traz um aspecto importante: indica que não haverá piora na parte fiscal. Setores do governo chegaram a falar que poderia não haver superavit primário algum, ou mesmo um deficit. Então, no mínimo, estancou-se uma situação que vinha piorando ao longo do tempo. Na minha opinião, os técnicos do governo vão usar o espaço (orçamentário) que sobrou no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para preencher a falta de receita — por lei, pode abater até R$ 65 bilhões de gastos, mas disse que descontará R$ 45 bilhões. Isso porque o crescimento está superestimado (3% de aumento no PIB em 2013) ou porque não esperam ter tanto dinheiro com as concessões (de portos, rodovias, aeroportos, ferrovias e petróleo). O governo deve usar essa diferença de abatimento para cobrir o que faltar e produzir um superavit de 1,5% ou 1,7%. As manobras constantes do governo tiram a credibilidade da política fiscal do país? O que todos pedem é transparência e qualidade nos dados. E, fundamentalmente, que isso seja mais sistemático. Nos últimos meses, a situação ficou mudando o tempo todo. Até banda fiscal surgiu. Eu estava em Brasília no começo de junho e, durante uma apresentação do Tesouro Nacional, falou-se em economia para o pagamento de juros da dívida entre 1,8% e 3,1%. Aí veio a pressão do mercado e foi estabelecido (um superavit em relação ao PIB de) 2,3%. Só que ninguém mais acredita nisso. Ficar mudando a meta e não ter uma sistemática clara de como é feito o ajuste são coisas que prejudicam muito o país, porque o mercado não consegue realmente projetar para frente qual será a política fiscal deste ano, de 2014 e daí em diante. Essa imprevisibilidade é que acaba com a credibilidade. E qual é o risco disso? Estamos, hoje, vivendo num mundo que está em função do eventual aperto de liquidez do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA, que ameaça subir juros, retirar estímulos e reduzir a injeção de US$ 85 bilhões por mês no mercado), o que já está acontecendo. E também em função da China. A visão da Nomura é que a China terá taxas menores de crescimento daqui para frente. Nesse mundo, o grau de liberdade das políticas econômicas de países emergentes, como o Brasil, cai muito. Quando o mundo está recebendo um tsunami monetário (excesso de dinheiro em circulação), na verdade, os países não precisam se comportar muito bem. E os investidores — eu acho isso irracional, mas é o que acontece — não são muito críticos com relação à qualidade das políticas econômicas, porque estão comprando o tema “emergentes” como um todo. O que dirige o dinheiro é a ideia de ele ficar aplicado nas nações em desenvolvimento e não nas desenvolvidas, por causa do diferencial de crescimento entre os dois blocos. Infelizmente, os investidores não diferenciam a qualidade da política econômica de um país para outro. Mas esse quadro mudou. Como fica agora? Em um cenário como o atual, em que há alternativas de investimento em determinados países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, os poupadores não precisam fazer aplicações em nações emergentes. Se vão aplicar, ficam mais críticos. A questão fiscal é muito mais importante hoje, justamente porque os investidores estão mais criteriosos e descartando países com taxas menores de crescimento e mais sensíveis a choques globais — e o Brasil certamente é um deles, dada a sua relação comercial com a China — ou que não têm qualidade e clareza nas suas políticas econômicas. E nisso, de novo, o Brasil se enquadra. Em resumo, a falta de credibilidade na área fiscal, certamente, afeta a decisão dos investidores. Com relação à política monetária, como o Brasil está sendo percebido? Há três anos, a inflação do país está perigosamente perto do teto da meta, de 6,5%? Há, atualmente, um descompasso entre o fiscal e o monetário no Brasil. O Banco Central tem sido bem mais consistente. Se perguntar para os investidores, eles vão dizer que estão gostando muito do caminho que a autoridade monetária adotou recentemente, mais focado no combate à inflação e reconhecendo o fato de que a política fiscal é expansionista, portanto trabalha contra o controle da inflação. Independentemente daquilo que diz o ministro (da Fazenda, Guido) Mantega, essa é a percepção da maior parte do mercado. O BC, agora, reconhece que há um risco inflacionário em função do movimento do câmbio, que nós estamos num mundo onde a liquidez vai ser muito menos farta e que isso tem consequências bastante importantes para a economia brasileira. Ou seja, tudo o que o BC tem feito até agora, elevando a taxa básica de juros (Selic) — desde abril, a taxa passou de 7,25% parta 8,50% ao ano — , tem agradado ao mercado. Já na parte fiscal, isso não acontece. O BC vai ficar com a responsabilidade pelo baixo crescimento, ao aumentar os juros para combater a inflação? O crescimento vai ser baixo de qualquer maneira. A nossa previsão é de um aumento no PIB de 1,6% em 2013 e de 1,8% em 2014. Chegamos a esses números a partir de uma avaliação do aperto global que ocorreu entre maio e junho. A economia já estava voando baixo, perto do chão, e recebeu esses choques, do Fed e da China. Não há espaço na política econômica para contrabalançar isso, porque o governo usou tudo o que tinha nessa resposta errada que deu desde 2011. Houve uma leitura errada sobre o fraco crescimento do país. O governo, inclusive o BC à época, achava que o problema era de demanda, da falta de consumo, quando, na verdade, era de oferta, de produção. Foram gastos os cartuchos fiscais e monetários tentando adicionar demanda na economia. Quando se faz isso, obviamente, o resultado é inflação. O BC ficou com duas opções: crescimento baixo com inflação alta ou crescimento baixo com inflação menos alta. Optou, corretamente, por atacar aquilo que pode controlar. Como não vai conseguir salvar o crescimento de 2013 nem tem muito o que fazer por 2014, o Banco Central pode tentar reduzir o custo de vida para que, quando a economia começar a se recuperar, lá por 2015, os índices de preços estejam perto do centro da meta, de 4,5%. Esse é o plano de voo do Banco Central. Talvez não seja o plano do governo em função do calendário eleitoral do ano que vem. Como o senhor avalia o quadro para 2014, quando a presidente Dilma Rousseff, que está com a popularidade derretendo, tentará a reeleição? Tem um grande mistério sobre isso que as pessoas não estão comentando ou analisando: por que a Dilma está deixando o BC correr sozinho? Cadê o fogo amigo? Eu acho isso interessante, pois a interpretação do mercado, inclusive a minha, é de que o Banco Central foi dominado pelo Palácio do Planalto para agir na tentativa, que deu errado, de aumentar o crescimento com mais crédito e juros baixos, baseado no consumo. A repentina independência do BC é um mistério. Durante grande parte do mandato do presidente Lula, não houve interferência do governo na autoridade monetária. Mas isso mudou muito com a Dilma. Ela se envolve pessoalmente nas decisões da economia. O BC do (presidente Alexandre) Tombini foi alinhado com uma certa agenda do Planalto. Agora, com a inflação insistentemente alta, parece que tudo mudou. Mas isso vai durar? Quando ficar mais claro, no fim do ano, que a economia fechará com crescimento abaixo de 2% e que a recuperação só virá em 2015, haverá uma pressão maior sobre o BC para atuar cortando juros? O senhor acha possível um “cavalo de pau”, ou seja, que o BC inverta o ciclo de alta e passe a reduzir juros em função do baixo crescimento e do ano eleitoral? É possível. Mas os números atuais da inflação exigem uma taxa Selic entre 9% e 9,25% ao ano no fim de 2013. E esse resultado, com crescimento muito baixo, vai colocar a inflação em rota de queda, rumo que já está sendo tomado. Nossa projeção de inflação para 2014 é de 5,2%, indo gradualmente para o centro da meta, de 4,5%. Mas duas coisas podem levar a um cavalo de pau. Uma, é de que a nossa previsão de crescimento de 1,6% para este ano seja muito otimista, mesmo que esteja abaixo do consenso geral, de 2% a 2,3%. E isso é possível, basta ver a confiança do consumidor, que está no mesmo nível de 2009, quando a economia teve uma recessão. A outra é uma pressão política. Se nenhuma das duas coisas acontecerem, o BC deve levar a taxa básica de juros até 9,25% ao ano e segurá-la nesses níveis em 2014. Como está a dinâmica da inflação? Os números mostram uma alta de preços disseminada e resistente. Melhorou, mas ainda é ruim. A inflação dos serviços está rodando perto de 8% em 12 meses. E a dos preços administrados pelo governo, abaixo de 2%. Isso é insustentável. Todas as empresas concessionárias estão subindo tarifa a 2% e os serviços, a 8%. Tem que haver uma convergência, e isso leva tempo. Não tem muito milagre. Essa convergência vai demorar, e o BC tem de ter sangue frio e segurar os juros altos para ajudar isso a acontecer. Vamos ver se a conjuntura política vai deixar. Na sua avaliação, o Brasil pode caminhar para uma recessão? Na nossa projeção, há queda do PIB, trimestre sobre trimestre, do terceiro para o quarto em 2013. Porém, as informações que recebemos nas últimas semanas indicam que pode haver um recuo também entre o segundo e o terceiro trimestres, porque os dados de julho estão vindo muito ruins. Então, seriam dois trimestres seguidos com queda, o que configura uma recessão. Como gestor, o senhor já ouviu clientes falarem em não investir mais no Brasil? Nas conversas que eu tive, vi várias empresas otimistas com o programa de concessão do governo. Algumas acham que há oportunidades de investimento no país, como as concessões de infraestrutura. Mas é uma questão complexa, porque o Planalto não definiu como será. Se dialogar mais com o mercado em relação aos leilões, pode ser que o governo tenha um certo sucesso, o que seria importante em relação ao crescimento no futuro. Qual a sua projeção ideal para o dólar em relação ao real? Muita gente acha que um dólar perto de R$ 2,30 é um valor justo. Nós trabalhamos com R$ 2,40. Isso daria mais competitividade à indústria brasileira, porque o desafio é o seguinte: de onde virá o crescimento nos próximos cinco anos? Não será mais do consumo das famílias. A alternativa de se alavancar a atividade por meio de mais crédito se esgotou. Também não será da venda de commodities (grãos e minérios) para a China. Então, sobra a indústria. Para ela crescer, é preciso que o setor ganhe competitividade, o que depende de infraestrutura melhor. “Na nossa projeção, há queda do PIB do terceiro para o quarto trimestre. Porém, pode haver um recuo também entre o segundo e o terceiro trimestres, porque os dados de julho estão vindo muito ruins” “É preciso ter paciência. Este governo cometeu muitos erros na condução da política econômica ao longo de dois anos. Não será em apenas em um que conseguirá colocar o país no lugar”
Posted on: Thu, 22 Aug 2013 00:46:30 +0000

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