A DECEPÇÃO DOS 35 SEGUNDOS Minha CARTA ABERTA À PRESIDENTA - TopicsExpress



          

A DECEPÇÃO DOS 35 SEGUNDOS Minha CARTA ABERTA À PRESIDENTA DILMA ROUSSEF, como resposta ao seu pronunciamento de 21 de junho de 2013. Excelentíssima Senhora Presidenta Dilma Rousseff, Como cidadão brasileiro, venho aqui declarar que só precisei ouvir os 35 segundos iniciais de vosso discurso, pronunciado na noite do dia 21 de junho de 2013, como resposta às diversas manifestações que têm levado, ao longo de todas essas semanas, centenas de milhares de famílias brasileiras às ruas de diversas cidades brasileiras. Eu mesmo integrei os protestos, junto a mais de 100 mil pessoas de minha cidade, aspirando por um novo tempo e pleiteando causas comuns, que vislumbram o bem-estar da nação. Portanto, nem preciso dizer o quanto aguardava por vosso discurso em resposta. Mas os 35 segundos iniciais do pronunciamento foram suficientes para confirmar que o grito das ruas precisa continuar reverberando, visto que, ao que parece, até agora o Brasil não foi ouvido. Obviamente, Vossa Excelência tem todo o direito de questionar como posso ter chegado a tais conclusões em 35 segundos. Aliás, eu mesmo me espanto! Passo, portanto, a registrar o conteúdo de vosso pronunciamento, em seus 35 segundos introdutórios, para esclarecer a causa de minha tão profunda decepção. Eis o pronunciamento: “Minhas amigas e meus amigos, todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar. Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas.” Foi nesse exato ponto que eu parei, não precisava ouvir além. E as causas da minha decepção por conta de vosso pronunciamento são basicamente três. A primeira causa diz respeito ao fator DISTANCIAMENTO. Em vossa abordagem, a senhora se reporta a mim como sendo vosso amigo. Mas não somos amigos, Excelentíssima Presidenta. Minha casa está à vossa disposição, bem como meu escritório. Seria uma honra tomarmos um café qualquer hora dessas. Mas não tenho acesso aos governantes do meu país. Para ser amigo, é preciso que se tenha acesso. O povo está nas ruas justamente porque não há outras maneiras de sermos ouvidos. O acesso é simplesmente nulo. É óbvio que não me contento com os mecanismos formais de ouvidoria. Mas grandes nações do mundo, civilizadas e prósperas, possuem mecanismos de interação entre população e o poder público, os quais diminuem a lacuna que hoje está entre nós. De forma, Senhora presidenta, que nossa relação é praticamente feudal. Eu sirvo, pago, e continuo sem acesso aos senhores. Indivíduos de índole deplorável como o Senador Renan Calheiros assumem postos basilares para o encaminhamento da nação e eu sou violentado em meu direito de contestar. Sem contar que vosso partido me prometeu orçamento participativo, e só mesmo em meu próprio domicílio isso tem sido possível. Não sou ouvido pelo meu governo, não tenho qualquer acesso. Assim, sinto-me lisonjeado, e ao mesmo tempo ludibriado, ao ser chamado de amigo por Vossa Excelência. A segunda razão de meu desapontamento diz respeito ao vosso OPORTUNISMO. Ao propor que “aproveitemos bem o impulso” das manifestações, é como se Vossa Excelência sugerisse que já estamos trabalhando em parceria. Como se dissesse que “fomos juntos às ruas, lutar pelas mesmas causas, e agora vamos continuar nos esforçando para melhorar”. Mas Presidenta, desculpe a sinceridade: isso foi extremamente oportunista. Vosso marqueteiro trabalhou relativamente bem, mas não convenceu. As manifestações não pretendem oferecer carona ao oPorTunismo. O impulso das manifestações gira em torno de algo novo, e não de aliar-se à máquina já existente. Essa conversa de “juventude”, “energia política”, me reporta a 1989, quando o candidato Lula quis ter “o meu primeiro voto”. Mas presidenta, o povo está amadurecendo, e não vislumbra receber de vossa parte uma aula de educação moral e cívica. Não tente nos ensinar a ser brasileiros. Vossa Excelência precisa, de fato, responder às manifestações, e não tratar delas como se estivéssemos “surfando a mesma onda”. Por último, o que mais me ofendeu foi o fator CINISMO. Segundo vossa proposta, Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas.” Será que entendi errado? Ou a senhora crê mesmo que são esses nossos principais limitadores? Então, nesse caso, não somos o que deveríamos ser simplesmente porque não possuímos estrutura de gente e recursos? Presidenta, nossos principais limitadores não são políticos ou econômicos. Eles são morais. A corrupção é o que não permite que o Brasil seja o tal “país de todos”. O povo está nas ruas justamente por conta desses limitadores morais. E deseja que sejam retirados do caminho. De qualquer forma, Excelentíssima Presidenta, agradeço por vossa preocupação em responder aos meus gritos. Esperei muito por esse retorno. Mas confesso que me decepcionei. E só precisei dos primeiros 35 segundos. Curiosamente, o Haiti foi devastado por um terremoto, ocorrido em 12 de janeiro de 2010. O país já possuía um histórico sofrido, pobre, oprimido e turbulento, mas o terremoto veio para legitimar a miséria e impor níveis sub-humanos de existência. E o terremoto aconteceu em 35 segundos. Em 35 segundos, terríveis estragos podem acontecer, e manchar a memória de toda uma nação. Quanto ao café, o convite permanece. Se for para sermos amigos, adentremos pelos nobres enlaces da verdade. Atenciosamente, Mário Freitas Cidadão Brasileiro
Posted on: Sat, 22 Jun 2013 19:35:59 +0000

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