A Força da Tradição: A pressão do presente me fez pensar na força da tradição, que minha geração, impregnada de imaginação revolucionária, muito subestimou. Nunca subestimem a força da tradição, sobretudo no Brasil, país de arranjos, jeitinhos, conchavos. Expressando isso de forma mais sofisticada, lembro nossa vocação histórica para "equilibrar antagonismos", como repetia Gilberto Freyre citando implicitamente Carlyle. Este, sendo inglês, sabia muito de tradição e acomodação de conflitos. O problema do culto à tradição no Brasil é que nosso passado não é nada recomendável, para dizer o mínimo. Ele se sustenta no colonialismo, como consequência da ocupação portuguesa, e no patriarcalismo escravocrata. Essa herança é ainda muito viva no presente. Por isso nunca endossei esse discurso da nossa identidade cultural, que a esquerda e seus herdeiros, nem falo da direita e dos extratos mais conservadores da nossa sociedade, celebram por ignorância ou conveniência. A força da tradição pesa muito mais no Brasil do que em países conservadores como a Inglaterra e a França, que lutou durante mais de um século para consolidar os melhores ideias da Revolução Francesa (Ver, a propósito, o livro de Arno Mayer, A Força da Tradição). Quando afinal passaremos a limpo nossas tradições retrógadas, as que impedem nosso pleno ingresso no mundo da modernidade?
Posted on: Thu, 04 Jul 2013 01:23:39 +0000
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