A SÉTIMA PROSOPOPEIA OU A RUA DA INDEPENDÊNCIA Escrevo essas - TopicsExpress



          

A SÉTIMA PROSOPOPEIA OU A RUA DA INDEPENDÊNCIA Escrevo essas últimas linhas à luz do crepúsculo para nutrir a certeza e a despedida que elas trazem. Já transitei por vários momentos falando sobre esse tema: a ironia, na 1ª; a dúvida, na 2ª; a revolta, na 3ª; a perplexidade, na 4ª; a lacuna, na 5ª e por fim, o pesar, na 6ª. Chego à sétima e última – agora, pra valer – mais calejado, maduro e com a certeza de não ser mais um filósofo de boteco. Não que isso seja importante, mas seria incômodo. Afinal, promover a reflexão é um desafio que move. Tocar na ferida da Pátria é um jogo perigoso e instigante, além de ser polêmico, independente do que eu disser. Dessa vez, não vejo necessidade de evocar a Pátria como uma entidade que fala. O formato tornou-se batido e obsoleto, admito, mas um motivo maior rege essa escolha: a Pátria não é uma entidade divina que deve ser evocada, mas vive em cada um de nós. Portanto, sem falsa modéstia, eu sou um pedaço da Pátria e por isso ela está viva comigo. Hoje deveria ser um dia apenas de comemorações, mas nós sabemos que nem todos levam o espírito dessa festa das quatro cores, mas os medos afastaram todos. Covardia ou sabedoria? Quem sabe dizer? Há quem diga que o lugar do cidadão brasileiro hoje tenha sido na rua. E que o verdadeiro cidadão hasteou uma bandeira negra no lugar da bandeira do Brasil, como prova da luta que se travou. Eis como se comemorou o dia da Independência em 2013: com desordem, bagunça e falta de reflexão. Buscar o verdadeiro sentido da História do Brasil, para que fazê-lo nesse momento? O esforço é muito grande, assim como guardar os versos do hino. E que hino é esse que exalta a passividade de estar deitado eternamente em berço esplêndido. O berço é tão inferior que merece ser queimado, não é mesmo? Criticamos, criticamos e criticamos mais ainda visando o que? O simples prazer de criticar. De certa forma, o chamamento “vem pra rua” faz polemizar e fazer um carnaval vazio, esgotando a verdadeira essência do ato. Hoje, as margens do Ipiranga estão sujas de veneno, mas não das fábricas.. O que suja é a nossa própria toxina. Somos vira-latas, das favelas ao Senado e a sujeira está pra todo lado. O patriotismo da Canção do Exílio deu lugar a um anarquismo cego, sem espaço patriota e entende-lo não passa de um exercício que pode abalar a sanidade mental de qualquer um. O lema positivista da bandeira não passa de uma mera ilusão, como tudo: só há espaço para a bandalheira e o sonambulismo. As três ‘ades’ que inspiraram a Inconfidência Mineira estão reduzidas a babado, confusão e gritaria. Índios e padres e bichas e negros e mulheres e adolescentes celebram o samba dos podres poderes. E todos convocam para contestar os desmandos das Casas do Povo. Mas não seria surpresa se soubéssemos que, bem no fundo, os desmandos deles também são nosso, afinal, eles chegaram lá através de nós. É tão fácil se esquecer desses detalhes sórdidos diante de gritos irracionais. E eu, como um filho da Pátria, não me eximo disso, mas estou no meio de um rio, olhando para as margens com desespero. O que eu posso fazer se sou apenas um cronista de sétima que não vai para a rua? Quem disse que eu não vou? Mas não para essa que todos falam. Eu vou para a Rua da Independência, a rua na qual escrevo, a rua que eu escrevi no fundo dos meus pensamentos. É aquela onde as palmeiras balançam, o morro do Castelo sobrevive incólume, a História é descoberta dos seus véus. Não é uma rua perfeita, mas segue infinitamente e explorá-la é um prazer. Numa ilustração, não sei se ela seria de asfalto ou de terra. É um lugar onde escrever causa todas aquelas revoluções por minuto e gera polêmica pra pensar. Lá, a bandeira é hasteada e brilha ao sol, não queimada pelo fogo. Essa Rua da Independência é o meu logradouro particular, mas nada impede que cada um tenha o seu. A prosopopeia se encerra sem pedidos ou apelos, apenas o silêncio certo de que nem tudo foi em vão... A Pátria mudou, mas ainda há um longo caminho... e eu aguardo por onde esse caminho leva, enquanto escrevo com confiança e fé. Danilo Julião – 07/09/2013)
Posted on: Sun, 08 Sep 2013 02:51:27 +0000

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