A indignidade civil é lei, nesses climas. Todo homem declina de - TopicsExpress



          

A indignidade civil é lei, nesses climas. Todo homem declina de sua personalidade, ao converter-se em funcionário: a cadeia não é visível no seu pé, como nos dos escravos, mas êle a arasta, ocultamente, amarrada ao seu intestino. Cidadãos de uma pátria, são os incapazes de viver pelo seu esforço, sem a cevadura oficial. Quando tudo é sacrificado a esta, sobrepondo-se os apetites às aspirações, o sentido moral se degrada, e a decadência se aproxima. Inutilmente se buscam remédios na glorificação do passado. Dessa fadiga, os povos não despertam louvando o que foi, sinão, semeado o porvir. O gênio cria instituições e o bárbaro as viola. Os medíocres as respeitam, impotentes para forjar ou destruir. Esquivos à glória e rebeldes à infâmia, são reconhecíveis por uma circunstância inequívoca; seus comparsas não ousam denominá-los gênios, por temor ao ridículo, e seus adversários não os poderiam sentar em bancos de imbecis, sem flagrante injustiça. São perfeitos em seu clima; esguelham-se na história, à mercê de cem cumplicidades, conjugam, em sua pessoa, todos os atributos do ambiente que os repuxa, mesclados por equívocas hierarquias militares, por opacos títulos universitários, ou pela amidoada improvisação de nobiliarquias adventícias e açacalam, no seu espírito, as rotinas e os preconceitos que engelham as crenças da mediocridade dominante. Têm sempre os passos curtos; sua marcha, em momento algum, pode ser comparada ao voo do condor, nem à reputação de uma serpente. Todas as piaras inflam algum exemplar predestinado a possíveis enaltecimentos. Selecionam o prototipo acabado, entre os que compartilham as suas paixões e as suas voracidades, os seus fanatismos ou os seus vícios, as suas prudências ou as suas hipocrisias. Não são privilégio de tal casta ou de tal partido; sua leviandade surpreendente flutua sobre todos os lamaçais políticos. Pensam com a cabeça de algum rebanho, são irresponsáveis: ontem, de sua vacuidade; hoje, de sua proeminência, amanhã, do seu ocaso. Brinquedos, sempre, de vontades alheias. Entre êles, as repúblicas elegem os seus presidentes, os tiranos procuram os seus favoritos, os reis, os seus ministros, os parlamentares todos em seus gabinetes. Sob todos os regimes: nas monarquias absolutas e nas republicas oligárquicas. Sempre que cresce a temperatura espiritual de uma raça, de um povo ou de uma classe, os obtusos e os senis encontram clima propício. As mediocracias evitam os píncaros e os abismos. Intranquilas sob o sol meridiano, e timoratas durante a noite, procuram os seus arquétipos na penumbra. Temem a originalidade e a juventude; adoram os que nunca poderão voar, ou os que já têm as asas cobertas de moio. Cada rei elabora a sua mentira, erigindo-a a dogma infalível. Os tunantes somam os seus esforços, para enaltecer a hombridade do seu fantasma: chama-se lirismo a sua inaptidão; decoro na sua vaidade; ponderação a sua preguiça; prudência a sua pusilanimidade; fé o seu fanatismo; equanimidade a sua impotência; distração aos seus vícios; liberalidade a sua aragem; razão a seu emurchecer. A hora os favorece: as sombras se alongam à medida que o crepúsculo avança. Em certo momento, a ilusão cega muitos, calando toda dissidência voraz. A irresponsabilidade coletiva apaga a quota individual do erro: ninguém se enrubece, quando todas as faces podem reclamar a sua parte, na soma de vergonha comum. Onde medram oligarquias, sob disfarces democráticos, prosperam esses pavões reais empolados, tesos pela vaidade: um garoto travesso os esvaziaria, se os picasse, ao passar, descobrindo o nada absoluto que re-touça em seu interior vácuo. Fonte: livrariasaraiva.br/produto/1389681/o-homem-mediocre
Posted on: Sun, 25 Aug 2013 21:55:06 +0000

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