A luta continua Pensei em começar citando aquele poema que diz - TopicsExpress



          

A luta continua Pensei em começar citando aquele poema que diz "Como ave que volta ao ninho antigo,/ depois de longo e tenebroso inverno,/ eu quis também rever o lar paterno,/ o primeiro e virginal abrigo". Mas recuei, pois a galera para a qual eu ia falar talvez não curtisse. Também porque não fazia tanto tempo assim que eu não voltava ao Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFICS), da UFRJ, onde me formei em julho de 1981. Sem dúvida, seu prédio histórico é para mim um lugar repleto de lembranças e voltar ali, ainda mais junto com o Chico e a Marina Felipe (que acaba de ter sua matricula aceita no curso de Filosofia) tinha uma graça toda especial. Até porque o lugar, meus acompanhantes e meu público vestem as mesmas roupas, falam as mesmas palavras de ordem e têm as mesmas atitudes dos meus colegas do final dos anos 1970. Agradeci à minha amiga, Maria Paula Araújo, e ao Francisco Carlos Teixeira, professores do IFCS que dividiam mesa comigo - junto com um dirigente do CAMMA, Centro Acadêmico Manuel Mauricio - o terem me resgatado do começo do século XIX, onde estou mergulhada há mais de vinte anos, para me levar direto para a História do Tempo Presente, laboratório que ali coordenam. Comecei estabelecendo um contraponto entre o que vivíamos ali e o que aqueles estudantes da plateia estão vivendo hoje. Também fiz questão de lembrar o que foram os anos de governo neoliberal no Brasil. Período negro de nossa história que não pode ser esquecido pois seus agentes ainda estão aí, fazendo a propaganda do mesmo receituário de desemprego, recessão e miséria através dos tantos articulistas da grande imprensa que agem sob o patrocínio do capital financeiro e especulativo, grande interessado no retrocesso. Aliás, não precisamos voltar no passado para ver as consequências do que propõem. Basta olhar para a Europa. Basta ver o que está acontecendo em Portugal. Naquele Brasil de triste memória, diziam os governantes que na universidade pública estavam os filhos dos ricos e que, por isso, aquele ensino não devia ser gratuito. Privatizar era a palavra de ordem. Com os salários congelados, não restava aos professores senão antecipar a aposentadoria para tentar a sorte nas universidades privadas, essas sim, em franca expansão. Para as vagas abertas com a aposentadoria desses não se abriam concursos e eram selecionados professores temporários. Quase sempre de formação recente, com salários que, às vezes, não chegavam a um quinto do que ganhavam os colegas. Com práticas como essas se esvaziou e se desmoralizou o movimento popular nos governos neoliberais. A meu ver, as recentes manifestações representam uma oportunidade única de recuperação da força desses movimentos. O processo que teve início no começo desse mês passou por várias etapas. Dos protestos apartidários pelo passe livre para a tentativa de apropriação deles pela direita; dos ataques violentos da polícia, ao vandalismo oportunista de alguns manifestantes; da expulsão dos partidos e dos movimentos sociais de esquerda para a incorporação definitiva deles ao movimento das ruas. A meu ver, foi naquele momento tão criticado por alguns, em que o Partido do Trabalhadores convocou a militância para ir às ruas, pois a luta pelos direitos dos trabalhadores foi sempre sua, que a onda virou para a esquerda. Foi a partir da corajosa presença de militantes de todas os partidos de esquerda que as manifestações encontraram seu foco e este foi e será sempre o da luta por saúde e educação gratuita e de qualidade para todos. O da luta por mais empregos, melhores salários e melhores condições de vida. E para isto é preciso garantir a qualidade do transporte urbano que hoje sacrifica e exaure o trabalhador, roubando-lhe o tempo e o dinheiro. Aos manifestantes, a máfia que controla e impede a melhoria e a democratização dos transportes, fez lembrar da máfia dos planos de saúde que vem sabotando o SUS para obrigar o trabalhador a pagar preços extorsivos por um serviço cada vez pior. Fez lembrar ainda a resistência que os governos estaduais têm demonstrado contra o aumento dos salários dos professores das escolas públicas. Sem um salário decente ninguém vai querer ser professor. Ninguém vai procurar se qualificar cada vez mais para exercer um ofício que é mais mal pago do que serviços que exigem pouca ou nenhuma qualificação. A mobilização dos movimentos sociais se volta agora para a luta pelo Financiamento Público Exclusivo das Campanhas Políticas. Enganam-se os que acham que isto seria dar mais dinheiro público aos políticos. Na verdade, o dinheiro público já financia indiretamente as campanhas eleitorais. Hoje, para se eleger um parlamentar são necessários milhões e quem se candidata só consegue obtê-los junto aos que os têm: os grandes grupos econômicos. São os vereadores, deputados e senadores eleitos através dessas doações que vão ocupar as cadeiras do Parlamento. Assim, muitos dos recursos que iriam para a educação, a saúde e os transportes ficam retidos sob a forma de subsídios e de isenção de impostos para essas empresas a partir de leis, emendas e medidas aprovadas pelas bancadas que o dinheiro elegeu. Só a eleição de um Parlamento identificado com os interesses da população, nela incluída também os empresários (mas não somente), vai significar realmente uma mudança. Só um Parlamento eleito em condições iguais de competição, com recursos iguais para usar na propaganda, será realmente representativo. É preciso impedir que, sob o pretexto de "melhorar" o sistema, esse mesmo parlamento que vem sabotando políticas distributivas, promova falsas reformas embutindo nelas as mesmas emendas maliciosas que contradizem o que foi proposto no enunciado.
Posted on: Sun, 30 Jun 2013 01:32:05 +0000

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