Caminhando pelo vale das sombras... um olhar ao redor faz chamar a atenção daquele que pisa o chão sem olhar por onde... Ele pensa: "Onde está a Esperança? Aquela jovem tão bela e meiga que sempre me acompanha?" Sem querer, tropeça em uma pedra caindo no chão úmido... Ao erguer a cabeça, se depara com um grande portão antigo de ferro que guarda silenciosamente alguns túmulos... era um cemitério. "Quem sabe, por aquelas ruelas escuras, eu não a encontre." Então, com dificuldade, levanta do chão e abre o grande portão... Ele a procurava, mas não a via em lugar nenhum. Túmulo após túmulo, andando por aquelas ruelas escuras... Ele a procurava. Quando então, parou percebendo algo que iluminou todo aquele lugar lúgubre... Algo brilhava dentro dele. Ele pode vê-la! Ela estava lá o tempo todo. Esperança era uma jovem com o dom de ver fenômenos mais finos, como as formas de pensamentos e de desejos de todos aqueles que dela se aproximavam... Infelizmente, o mundo não era mais o mesmo há tempos... Aquele cemitério representava tudo o que havia restado dos bosques ensolarados de até então. Aquele homem que tanto a buscava, por vidas, estava diante dela como que deslumbrado. Ela tinha um “quê” de enigmático que o fazia temer seus próprios pensamentos... Diante dela ele já não sabia o que sentia e o que pensava... Tudo em seu íntimo se tornava caótico... Caótico como aquele chão úmido e cheio de pedras por onde sempre retornava em seus passos para procurá-la... Não havia como dizer não. Não havia como esquecê-la. Suas fugas sempre resultaram em desastres, em tristezas e em desânimos. Apesar de tudo se tornar tão caótico ao se aproximar dela, a sensação de encontrar algo a muito perdido, iluminava seu coração. Era algo inevitável... “Nunca mais quero ficar longe” pensava se consolando, apesar de todo o medo que sentia. Esperança fitava aquele homem... Podia ver ao redor dele seus próprios túmulos... Cada um deles era um de seus medos. Cada lápide continha suas inseguranças inscritas por seus vacilos... Ao mesmo tempo em que fios dourados eram misturados cuidadosamente por pequeninas mãos delicadas, tecendo algo de maravilhoso que saiam daquele homem em direção a ela... Apesar da alegria sentida pela jovem ao ver aqueles fios, Esperança permanecia imóvel. Aqueles fios dourados, que se formavam no presente, podiam cair para se tornarem parte da neblina que se espalhava por aquele lugar úmido... Ela também possuía suas próprias lápides, guardadas por aquele grande e antigo portão de ferro... Notou há tempos que todos sempre temiam aqueles túmulos... O que todos aqueles que a procuravam não sabiam, e nem haviam se dado conta, é que eles mesmos podiam mudar suas lápides, mas não sem antes passar por cada uma delas... E aquele homem havia retornado para ela, mais uma vez. “Esse homem sempre repete o mesmo caminho e quando está diante de mim, quando penso que ele finalmente virá, não consegue reunir coragem para nos libertar.” Para sua surpresa, dessa vez, ele deu alguns passos e ficou diante dela. Sua respiração era ofegante... Ela escutava o coração daquele homem pulsar acelerado como se fosse o dela... Do chão brotavam pequenas folhas... Aqueles túmulos sombrios se desfaziam na neblina úmida... Tudo ao seu redor ganhava vida. Luz havia nas copas das árvores antes enegrecidas pelo tempo... Aos poucos o calor de raios ensolarados faziam surgir pássaros que antes estavam extintos... Quando as mãos dele tocaram seus ombros, todo aquele lugar sombrio deixou de existir. continua...
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 12:12:10 +0000