Cioran não precisa da fé para ver no pecado original, enquanto idéia, um elemento indispensável para se pensar a condição humana e sua miséria ontológica. Sem ele, o homem permanece inexplicado, um enigma, pois tudo nele sugere uma corrupção original, um “defeito de fábrica”, cujos desdobramentos empíricos são tão nítidos aos olhos de Cioran que a idéia do bom selvagem de Rousseau resulta aos seus ouvidos inaceitável: “É um erro fundamental! Completamente falso. Repare nas crianças, como são malvadas.” O pecado original é, portanto, afirmado filosoficamente, pretendendo-se uma verdade antropológica, fenomenológica e empiricamente demonstrável. Sua postulação prescinde da fé, não parte de dogmas teológicos e tampouco se conforma a eles. Trata- se de uma visão heterodoxa, subversiva, herética. Uma teologia atéia. CIORAN, E. Entretiens. Paris: Arcades/Gallimard, 1995, p. 273.
Posted on: Thu, 01 Aug 2013 02:21:26 +0000
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