Comentário de: Idelber Avelar Guarani Kaiowá Há uma - TopicsExpress



          

Comentário de: Idelber Avelar Guarani Kaiowá Há uma sequência de confusões bem daninhas que se reiteram no Brasil, em alguns casos por má fé, em outros como consequência da nossa cultura política pouco democrática, a cada massacre policial contra manifestantes. Acontecimentos de ordens absolutamente distintas são colocados no mesmo balaio, na mesma frase, como se se tratasse de coisas comparáveis. Essas confusões voltaram à baila durante e depois das agressões policiais de ontem no Rio de Janeiro. Elenco duas delas abaixo, aproveitando a oportunidade para fazer o autojabá de um livrinho em que desenvolvo esse problema da violência com mais vagar (bit.ly/1bsFEXA). 1. A comparação ou confusão entre a violência contra patrimônio material e a violência contra seres humanos. Nunca, em nenhum caso, em circunstância nenhuma, pode-se tratar o dano a janelas, portas, carros, postes, prédios ou o que seja, como acontecimento comparável à violência contra a integridade física de seres humanos, especialmente se essa violência é perpetrada por agentes armados do Estado. Se você diz “a PM agiu errado, mas nada justifica o quebra-quebra”, você pode até estar enunciando duas verdades, mas a junção entre as duas orações no mesmo período, através da conjunção adversativa, produz a mentira. Afinal de contas, estamos carecas de saber que a brutalidade policial não é consequência do fato de que alguns manifestantes quebraram algumas janelas de bancos. A brutalidade policial é consequência do fato de que o Brasil é um estado que, apesar de formalmente democrático em seus mecanismos eleitorais, ainda vive um modelo ditatorial e militarizado de segurança pública. A prova disso é que a cobertura escandalosamente governista da Rede Globo, ante oito horas de manifestação, com violência policial, flagrantes plantados, prisões ilegais e truculência inaudita, optou por só mostrar as cenas de “vandalismo” nas quais … tchan tchan tchan tchan! não havia nenhum policial por perto! Por que as câmeras da Rede Globo foram capazes de chegar até os lugares em que ocorria “vandalismo” e a PM, não? A violência da PM não se justifica pelo “vandalismo”? Por que a PM não estava lá, e sim atacando manifestantes pacíficos? 2. A comparação ou confusão entre violência causada por manifestantes e a violência estatal. Nunca, em nenhum caso, em circunstância nenhuma, pode-se tratar alguma violência provocada ou causada por cidadãos numa manifestação como acontecimento comparável à violência provocada ou causada por agentes armados do Estado. O Estado, numa democracia, tem o monopólio da violência legal. Por definição, é obrigação desse aparato saber usá-la. Se você diz “a PM agiu errado, mas os manifestantes iniciaram a violência”, mesmo que essas duas orações estejam corretas (e, na esmagadora maioria dos casos, a segunda é falsa), a sua junção delas no mesmo período está produzindo uma mentira. É o Estado que tem que ser cobrado. Inclusive na detenção PACÍFICA e LEGAL de que estiver cometendo algum ato ilegal. Mesmo nos poucos casos em que a segunda oração é verdadeira, o período completo, criando a relação adversativa entre as duas orações, produz uma mentira. Mais que dizer, portanto, que o presidente da OAB-RJ precisa revisitar seus manuais de História para aprender tudo de novo, por conta dessa estapafúrdia associação entre as manifestações e o fascismo (bit.ly/13BPyNa -- será que ele sabe mesmo o que é fascismo?), é preciso dizer que ele está errando o alvo completamente. O que as manifestações no Rio e em todo o Brasil estão reiteradamente mostrando é a inadmissibilidade dessa excrescência que temos no nosso país: uma força de segurança ditatorial, militarizada, que não se submete a lei nenhuma. É isso que nós temos que frear. Chega de Polícia Militar. Chega de um aparato armado que não se submete a nenhuma legalidade.
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 04:46:02 +0000

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