Como fica muito claro nos cartazes, nas falas, nas palavras de - TopicsExpress



          

Como fica muito claro nos cartazes, nas falas, nas palavras de ordem, vistas e ouvidas com frequência nos últimos dias, tem gente que acordou tardiamente e que acha, - motivos há - que os partidos e associações de classe, et caterva não prestam. Não deixam de estar certos, posto que vivemos, nestes trinta anos de pesadelo neoliberal, uma crise dos partidos conservadores liberais, social democratas e aqueles que, em nome do socialismo moreno ou metalúrgico, contribuíram para instaurar essa política que resultou na cómoda leitura de que ninguém presta. A ideia –globalizada - de que as representações partidárias tradicionais - incluindo a o partido do governo e sua base aliada- hoje não representam mais do que meia dúzia de defensores de um Estado que é visto como uma extensão do universo familiar – diria Sérgio Buarque de Holanda em 1936 - parece instalada na consciência coletiva. Desde a trágica época em que imperou a dupla morangos do nordeste - Sarney e Collor – foi possível construir esse sentimento generalizado (e globalizado) de que todos são iguais, não perante a lei, mas na vocação de driblá-la. Nunca é demais lembrar que se ninguém presta lá encima, possivelmente poucos prestam cá embaixo, pois somos NÓS, cá em baixo, que colocamos, como ficou claramente demostrado nessa inédita ocupação das ruas do país, não nossa representação, mas ELES lá encima. É isso que a massa enfatiza. De maneira que esse discurso generalizador, além da atitude belicosa que vi na passeata e que hoje de manhã alguns alunos comentavam alegremente enfatizando que “os partidos não nos representam”, me inquieta, diria até que me assusta, pois muitos dos que acordaram ontem querem decidir, quem tem ou não tem, legitimidade para expressar seu descontentamento. Há, nessa atitude agressiva, além de uma certa miopia, uma arrogância de decidir quem tem o direito de ocupar a rua e com que bandeiras. Ora, a rua é um espaço público e democrático, espaço de encontro da pluralidade, da diversidade que convida a pensar. Embora tenha participado das passeatas, com certa preocupação, não compartilho do pessimismo do meu querido colega Andre Videira de Figueiredo. Por uma questão de saúde mental não me é permitido iniciar qualquer comentário dizendo: perdemos. Diria que estamos iniciando um novo caminho. É uma guerra, mais próxima da primeira que da guerra do Golfo. É uma luta de trincheiras. Na avaliação geral não me parece que o campo progressista tenha perdido. A não ser que concorde, e a realidade e dura, que estamos perdendo desde a “Carta ao povo Brasileiro” do Lula em 2002. Me parece mais instigante a pontuação de Ana Lucia Enne alertando para a necessidade de prestar atenção nas narrativas que estão sendo construídas e disputadas. Não podemos perder de vista que estamos no meio de uma disputa. Muito mais complicada pois ela é pública, tem visibilidade, ganhou uma dimensão midiática há menos de uma semana e Eles, que não são bobos nem nada, constroem com firmeza suas narrativas. Há uma frente de luta interessante. Prefiro imaginar um horizonte promissor. Claro, sem perder de vista que, como alerta de Boaventura de Souza Santos, a desilusão com as expectativas é o esteio do fascismo social. Contra isso, só a luta de trincheiras, nas ruas e nas redes sociais.
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 22:06:43 +0000

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