Considerações sobre os #ProtestosBrasil do professor Luiz Carlos - TopicsExpress



          

Considerações sobre os #ProtestosBrasil do professor Luiz Carlos Villalta.Leiam e vamos levar ideias assim às assembleias! "1) Há uma insatisfação geral no país, em parte pelo que temos por aqui, noutra, pelo que NÃO TEMOS, pelo que queremos conquistar. 2) A grande mídia, em parte, gerou essa insatisfação, mas APENAS EM PARTE: na parte referente à corrupção, com sua propaganda incessante contra o mensalão petista, propaganda essa bastante vesga, por deixa de lado o mensalão do PSDB e do DEM, sem falar da Privataria Tucana. 3) O PT, no poder, gerou também em parte essa insatisfação. Recorreu às práticas e aos vícios dos outros partidos e promoveu uma peemedebização do governo. Com as eleições em vista, as ações passaram a ser ditadas pelo alvo da reeleição, o que levou a concessões e concessões (tenho um aluno que diz que não se trata de concessões, mas, sim, de algo que está entranhado no interior dos objetivos do próprio partido). 4) As ruas estão tomadas por uma galeria muito diversificada, em termos de classes sociais, grupos organizados, bandeiras políticas etc. Há gente de esquerda e extrema-esquerda, ligada ou não aos partidos políticos. Mas há gente de direita e uma maioria de despolitizados. a) Classes e grupos. Há gente de classe média, média alta e também populares. Há vândalos e criminosos. Há infiltrados dos organismos policiais (resta saber se eles estão ou não criando fatos para dar razão à repressão). Há um bando de fascistinhas de classe média e do lumpenproletariado, que são contra bolsa família, negros, gays, pobres e que são porta-vozes dos valores mais reacionários. Esses últimos são os que usam da violência contra os que carregam bandeiras de partidos e organizações sindicais, além de fazerem o mesmo com os gays. Há, ainda, moças e moços de classe média que vão às manifestações como se estivessem indo ao shopping ou a um evento em Copacabana. Há também cristãos, que vão rezar nas manifestações, carregando bandeiras contra o aborto e hostilizando os gays (aliás, até a esquerda hostiliza esses últimos, fazendo o mesmo com as mulheres que carregam bandeiras feministas). Segundo alguns relatos, ontem em BH, em parte da passeata, reinou o silêncio, a ausência de palavras de ordem; segundo outros, parte dos manifestantes comportava-se como se estivesse numa Micareta. Outros relatos trazem momentos emocionantes. Conforme uma aluna, um mendigo, ao ouvir uma palavra de ordem da multidão ("ô, ô, eu quero o meu metrô"), reclamou da falta de cobertor, pedido que se tornou grito dos manifestantes que ali passavam no momento. Um professor, por sua vez, denunciou a brutalidade da repressão policial quando se passava diante da UFMG e, um agravante, não havia como procurar refúgio na universidade, seu local de trabalho, pois era dali que partia a violência. Li um post que fala que esse discurso sobre os perigos dos “infiltrados” (leia-se, dos que se aproveitam do movimento para outros fins) é discurso velho, anacrônico, que data da ditadura militar, que dizia que as manifestações da oposição estavam “infiltradas de comunistas”. Seria um discurso mistificador, dos partidários do governo petista. Acho que há equívoco nessa análise. As manifestações contra a ditadura civil-militar tinham sempre alvos muito específicos e determinados. Os “comunistas” submetiam-se a esses objetivos, por oportunismo ou não. Hoje, não há pauta clara, e os “infiltrados” não querem senão ditar os objetivos, as bandeiras, além de fixarem as próprias estratégias, muitas vezes puramente despolitizadoras (como fazer rezas e cantar o hino nacional), ou claramente desestabilizadoras (como os ataques a prédios públicos e as provocações à polícia). Então, não dá para comparar as críticas feitas aos “infiltrados” de hoje àquelas que a ditadura civil-militar fazia às manifestações de oposição. b) Bandeiras. As bandeiras são bastante diversas, indo de problemas da alçada do município a outros que são da jurisdição dos estados ou do governo federal, ou de questões relativas ao Congresso Nacional. Vejamos: Contra o aumento das passagens nos transportes públicos. Contra a corrupção (bandeira meio udenista, que permite galvanizar um monte de gente, dos ressentidos com as políticas sociais petistas aos moralistas oportunistas de plantão, passando por aqueles que realmente são contrários a todas as formas de corrupção, inclusive o suborno de policiais e outros agentes públicos). Contra a Pec 37 (duvido que a maioria saiba o que tem nessa PEC). Por mais verbas para a educação e saúde. Contra os gastos públicos na construção dos estádios e a corrupção que a envolveu. Contra as imposições da FIFA. Contra Renan Calheiros. Contra o Marcos Feliciano e o projeto da “cura gay”. Contra o Estatuto do Nascituro. Contra o machismo e a homofobia. Contra Veja e Rede Globo. No Maranhão, contra a família Sarney. Pauta, portanto, bastante variada, com peculiaridades regionais. Há erros estratégicos nas manifestações. Um deles é o de enfrentar os bloqueios policiais e as agressões, verbais e físicas, aos agentes dos órgãos repressivos. Nossa polícia tem os problemas notórios. Ao enfrentá-la, é preciso que consideremos a ótica que a orienta: ela não quer senão “preservar a ordem pública, controlar o monopólio do uso da força física”, isto é, visa garantir o respeito às ordens governamentais e, ao mesmo tempo, impedir que grupos disputem consigo o uso da força. Ademais, na perspectiva da polícia, manifestantes que ameaçam se aproximar dos estádios são um risco em potencial para a segurança de torcedores e dos próprios estádios, num contexto de uma competição internacional, apoiada pelos governos municipais, estaduais e federal. Uma polícia despreparada e regida pela ótica sublinhada, diante de manifestantes que querem furar bloqueios, apela para a violência. Por sua vez, a reação aos ataques policiais, com arremesso de pedras etc., atiça ainda mais a gana repressiva. Há badernas, com a destruição e o ataque a prédios públicos: assembleia legislativa do Rio de Janeiro, Palácio dos Bandeirantes, Prefeitura de São Paulo, Catedral de Brasília, Palácio do Itamarati, Palácio dos Leões (no Maranhão), Centro Cívico (Curitiba) e Prefeitura de BH. Há, ainda, crimes de vandalismo de todo tipo. Um aluno assim descreveu o que viu sobre vandalismo em Belo Horizonte ontem: “Eu estava na rua, no Centro comprando um cachorro quente. Quando do nada apareceram umas 100 pessoas correndo e quebrando tudo pela frente, lojas, carros e coisas tipo radares e tal... Saí correndo pra casa. Uns minutos depois as bombas começaram a estourar, e muita gente passou na porta da minha casa chutando carros que passavam pelas ruas e portas de lojas”. c) As posições da mídia. Inicialmente, a grande mídia condenou as manifestações (FSP, Arnaldo Jabor etc.). Depois, fez propaganda, com certeza querendo desgastar Dilma e o PT, como se viu no Jornal Nacional, com o protagonismo de William Bonner. Nunca a Rede Globo interrompeu sua programação, quebrando sua grade de novelas, para transmitir ao vivo notícias sobre manifestações. Nas Diretas Já, fez questão de deixar uns minutinhos para noticiar o evento, desvirtuando sua natureza. Bonner e uma jornalista da Globonews insistiam que excessos e badernas eram coisa de uma minoria, que a manifestação era pacífica. Ontem, viu-se a mídia condenar um pouco mais os excessos, talvez temerosa que sobrasse para seus próprios prédios a fúria dos manifestantes. Hoje, em O Globo (que trouxe a melhor cobertura factual sobre o que se passou ontem), Merval Pereira qualifica o MPL como radical de esquerda, condenando-o severamente, abrindo o caminho para execrar-se tudo o que não se enquadrar nos ditames da Globo, sobretudo o que tiver um matiz de esquerda. Elio Gaspari comentou, no mesmo jornal, a possibilidade, em tom de conjectura, de Joaquim Barbosa sair do STF e candidatar-se a presidente. Certamente não por acaso, a FSP noticiou que Barbosa é o preferido dos manifestantes. Tudo isso demonstra que, de um lado, nada que seja de esquerda e que não se enquadre nos propósitos dos grupos que controla a mídia terá endosso doravante e, de outro, que a mídia organiza o bote. 4) Estratégias futuras O que fazer diante disso? Abandonar as ruas, deixando-a para os grupos conservadores? Definir uma pauta mais precisa? Ir para as ruas em lugares determinados, longe dos estádios? Aliás, em Londres, manifestações foram permitidas apenas em locais específicos. Por que, aqui, temos que furar os bloqueios? Antes de mais nada é preciso considerar que enfrentamos um momento de luta política feroz e, mais ainda, de crise política. Para superarmos esse momento, teremos de considerar duas coisas muito importantes: de um lado, que sem partidos não há democracia e, de outro, que vários problemas postos em pauta têm soluções que contrariam interesses de classes e grupos poderosos. Ou seja, entramos num momento em que, em última instância, os interesses de classes e as lutas entre elas precisam ser considerados. Se é para ir às ruas para protestar, é preciso fixar alvos claros, tendo consciência que nem todos os grupos sociais poderão se unir em torno deles. Em manifestações sem pauta determinada, que juntem uma galeria imensa de pessoas e de grupos, vai ter sempre um fascistazinha de classe média ou um vândalo do lumpenproletariado prestes a recorrer à violência. Em movimentos com esse perfil, eles se aproveitam da névoa do apartidarismo para mostrar suas garras. Em movimentos mais ideológicos, contudo, eles partirão para cima porque não concordarão com os objetivos. a) Fazer o discurso, recorrente nas manifestações, segundo o qual "meu partido é o meu país" é um retrocesso enorme: representa cair na armadilha típica do fascismo, que dizia opor-se às "divisões semeadas pelos liberais e pelos comunistas", mas que, na verdade, representava uma brutal negação dos direitos dos trabalhadores e das liberdades em geral. Se sem partidos, da direita à esquerda, não existe democracia, será preciso que os partidos se oxigenem, sobretudo os de centro-esquerda e esquerda. O que digo vale para o PT, PSOL, PSTU, PSB, mas também para o PSDB, que teve um papel importante nas lutas democráticas do passado. Breno Altman, hoje, no Brasil247, defende uma faxina no PT. E ele tem razão. Dilma Roussef deveria fazer uma faxina no ministério, por exemplo. Oxigenar suas relações com o Congresso Nacional e o sistema político estabelecido, até mesmo em prejuízo de suas pretensões de reeleição. b) Questões como melhoria nos transportes públicos, na saúde, na educação e nas instituições políticas (com o fim da corrupção) não se resolvem com esta ilusão de que "todos os interesses irão ser conciliados". B1) Melhoria dos transportes públicos pressupõe enfrentar os empresários de ônibus e as privatizações nefastas de companhias estatais, caso do metrô do Rio de Janeiro, por exemplo. B2) Melhorias na saúde e na educação igualmente envolvem um enfrentamento com determinados setores empresariais e com seus representantes políticos no parlamento, que não vão dar sustentação a mais dinheiro para saúde e educação PÚBLICAS. O Congresso Nacional conta com um grande número reacionários e de fisiológicos de todo tipo e apenas sob pressão muito forte cederá nesses pontos. Veja-se, por exemplo, o caso de Eduardo Cunha, líder do PMBD. Aliás, o PMDB foi o calcanhar de Aquiles de FHC e, agora, é também o de Dilma. B3) Oxigenação nas instituições políticas requer financiamento público das campanhas, fortalecimento dos partidos e destruição das oligarquias partidárias. Isso tudo implica confronto com empresários que financiam as eleições dos políticos e os mantêm sob rédeas curtas na defesa dos seus interesses. Esses homens e "seus parlamentares" serão contra o financiamento público das campanhas. Serão também contra tudo o que ameace os caciques partidários. Afinal, essas medidas representarão o fim do esquema corrupto que os elegeu, sustenta e que lhes permite sangrar os recursos públicos em licitações fajutas, em obras superfaturadas etc. Uma proposta que me parece merecer consideração é esta, por atacar os problemas supracitados: eleicoeslimpas.org.br/assets/files/projeto_de_lei_eleicoes_limpas.pdf?1371963119 B4) Oxigenar as instituições públicas implica também enfrentar os oligopólios que controlam os jornais e as redes de TV. A mídia se aproveita das manifestações para satisfazer seus interesses econômicos e políticos. Ela faz uma campanha contínua contra o governo federal, por seus méritos, não pelos defeitos. Até anteontem, ela insistia que a violência que tomas as ruas é pequena e que se devem afastar as organizações partidárias. À mídia interessa encurralar o governo federal no que ele tem de bom e atrelá-lo a políticas neoliberais, que satisfaçam aos interesses do "mercado". Portanto, para oxigenar o sistema político será preciso lutar contra conglomerados midiáticos, especialmente contra a Rede Globo. Não se trata de estabelecer censura, mas de quebrar o monopólio que grupos têm sobre tvs, rádios e jornais. Com o discurso que fala de uma união supra e extra-partidos, extra-classe, enganoso, ingênuo, pueril, seremos incapazes de perceber que teremos de minar as bases da grande mídia. B5) Para melhorar a educação, é preciso aumentar os recursos. Os royalties do petróleo ajudam. É preciso exigir que o Congresso aprove essa destinação exclusiva. Cristovão Buarque, senador por Brasília, tem um projeto ousado, que acho plenamente defensável: federalizar toda a educação básica progressivamente. Acho a medida plenamente salutar. B6) A saúde só pode ser melhorada com mais recursos e com melhor uso dos recursos. Isto exige uma engenharia do executivo para viabilizá-los e também a aprovação do Congresso. Certas políticas relativas às DST e AIDS também precisam ser retomadas, o que implicará contrariar os interesses dos grupos evangélicos, que impuseram retrocessos graves nesse campo.
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 22:47:28 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015