DUM PAÍS LONGÍNQUO Sentado na poltrona que não se acomodava o - TopicsExpress



          

DUM PAÍS LONGÍNQUO Sentado na poltrona que não se acomodava o corpo todo, dentro do emaranhado cobertor, tentava me esticar e cochilar. Café da manhã a noite e jantar ao meio dia, já não distinguia a noite e o dia. Pela janelinha via apenas o claror do céu, sem nuvens, sob o deserto da paisagem, a terra, o mar. Levantei algumas vezes para ir ao banheiro, saltando a poltrona seguinte para não acordar o senhor ao lado e de miúdo ir ao banheiro e lá dentro, do minúsculo toalete pego a me imaginar o xixi escorrendo da privada para o céu e chovendo mijo na cabeça das pessoas que ali podiam estar, mas não havia possibilidade nem da urina sair e muito menos de ter pessoas tomando banho lá embaixo, já que o ar evaporaria todo o meu líquido amarelo. De volta, sentei e apertei o cinto, pois a plaquinha luminosa se acendia para a aterrissagem e numa espera longa, o mundo ali dentro se curvava num ângulo semiverticilastro e planava com os gigantescos pneus sob o asfalto, deslizando um sonoro forte de contenção, freou. Bagagens amontoadas, pessoas se amontoando ao sair, algumas com aspecto confuso, outros abatidos e muito ansiosos. Descendo pela escada de passageiros do avião, lembro-me de histórias de embarcações passadas, na chegada dos estrangeiros em terra indígena, o humano amazônico, a descendência globalizada, o país do samba e do carnaval, a minha volta ao Brasil. Vinha dum país longínquo, duma pequena ilha oriental conhecida pelo ar gelado e do calor infernal que se consta num clima gaseificado por uma história poeirada, duma religião Xintoísta que preserva e resguarda a vida, a pedra, o papel e a tesoura. Uma sociedade presa numa história de guerra e de horror, o ataque das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki irradiando radiação no ar, na terra e na água. Uma crise econômica mundial acorrentado desde épocas distantes até nos dias de hoje. Existindo complicações, muitas complicações numa viagem como essa, no trabalho, sem dinheiro e dependente de uma boa atitude humanitária que pudesse me ajudar, mas as pessoas não se ajudam tão facilmente, existe um preconceito dominante pelas classes, a frieza humana é de gelar qualquer coração quente e é frio… as casas quase que padronizadas, numa arquitetura antiga e opaca. Quase não se vê pessoas pelas ruas, pois a sociedade está submergida no interior do país, nos metros super povoados, nas estações de trem, no submundo da metrópoles é que se percebe as pessoas dum país de primeiro mundo, a tecnologia de ponta fica resguardada, as pessoas querem ter um bom estudo, uma boa alimentação e uma boa leitura, são nas conveniências que boa parte dos jovens se juntam no primeiro corredor para ler os mangás, as revistas em quadrinho do oriente. Vez ou outra têm alguém filmando ou fotografando algum monumento histórico ou religioso, o restante da vida é lenta, simples e de muito respeito. Respeito que aprendi para a solidão e ao pão. Dum albergue em Tóquio minha gratidão, ao consulado e ao Japão, que me trouxe consciência de uma dormência assistida, vivificando o preto, o branco e o rosa da vida.
Posted on: Mon, 30 Sep 2013 18:38:10 +0000

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