Dialogo 57º O calor do deserto estava insuportável, olhei para - TopicsExpress



          

Dialogo 57º O calor do deserto estava insuportável, olhei para todos os lados e só vi um mar de areias escaldantes que bailavam confundindo minha visão. Meu cavalo estava nitidamente abatido, assim como eu, seus passos eram vacilantes e vagarosos, eu não podia força-lo, era uma boa montaria e tinha me auxiliado inúmeras vezes durante a Cruzada. Perde-lo era tudo o que eu não queria, ele estivera comigo desde potro, ganhei ele de um lord cujas terras eu e meu irmão Templário ajudamos a livrar de saqueadores. Ele era um grande companheiro, estivera ao meu lado em muitas batalhas e aventuras no ocidente, meu antigo lar... Quando fui convocado para ser um Cruzado, exigi que “Crow” meu negro cavalo embarcasse comigo, e assim foi feito. Eles já tinham me negado levar Lobo, eu também na verdade concordava que o lugar de Lobo era na floresta, tive um primeiro impulso de leva-lo, mas logo recobrei a consciência. Mas Crow deveria seguir comigo, eu necessitava de um bom animal para atravessar aquelas terras desconhecidas, um animal que fosse de minha total confiança, e Crow e eu nos entendíamos só pelo olhar. Então lá estávamos nós dois, caminhando na imensidão desértica após longos dias e noites, perdidos numa Cruzada sem tréguas, incansável foram os caminhos que já havíamos percorrido juntos na Terra Santa, eu só podia pensar: “Que bom que ele estava comigo o tempo todo”. A parte da manhã pareceu uma eternidade para passar, subimos e descemos infinitos montes de areia, horizontes que ficavam cada vez mais distantes, depois de horas sob a grande bola de fogo castigando severamente encontramos uma pequena entrada rochosa que proporcionava um pouco de sombra, paramos ali mesmo e ficamos por um bom tempo, dois moribundos afogando-se nas profundezas desérticas... Eu estava febril novamente, ouvia vozes ecoando na minha cabeça, via vultos que dançavam como sombras sem formas, Crow também estava muito cansado, parecia estar doente, nunca antes tinha visto Crow abaixar em direção ao solo, sempre fora um corcel tempestuoso, a cabeça sempre elevada e elegante, crinas longas e negras esvoaçantes ao vento. Mas agora tudo era sem brilho, de um tom ferrugem árido, seco, sem vida, eu e ele... Trapos lançados no imenso mar de areia! Peguei o pouco de alimento e água que me restava e dei com as mãos para Crow, ele necessitava nitidamente mais do que eu daquele ultimo reforço para continuar o pouco de jornada que nos restava. Isso era fugir das minhas próprias regras de racionamento, mas era visível que ele estava sucumbindo gradativamente, e isso era tudo que eu podia fazer por ele naquele momento! Esperei o tempo que deu para que ele recuperasse forças, mas o dia avançava rapidamente, não tive escolha a não ser seguir viagem, passado quatro milhas ou um pouco mais, Crow tombou dobrando as patas traseiras, jogando-me de costas no solo insuportavelmente quente, sua respiração era ofegante e tremula, afrouxei os cintos da sela para facilitar sua respiração. Restavam muitas milhas até chegar à fronteira do Templo, me vi numa das situações mais extremas que já tinha vivenciado, estava vulnerável como nunca, fraco e jogado no meio do nada... Aguardei um pouco, ele se levantou, Crow era um corcel de guerra, tinha o espírito de um guerreiro dentro dele, colocou-se de pé como os heróis fazem. Eu removi parte da carga que estava sobre ele e continuei caminhando a pé, puxando meu cavalo... Entre delírios e tropeços fomos ambos nos arrastando pelo mar de areia, estávamos desidratados, eu estava queimando numa febre delirante, após algumas horas caminhando meus pés sangravam castigados. Mesmo assim nós seguimos, as vozes ecoavam no espaço sem fim, diziam: “Vocês já são alimento para abutres e coiotes, não adianta resistir, finalmente é o fim para vocês”. O Sol fez seu giro pelos céus, quando percebi o crepúsculo já tomara conta em mil tons avermelhados, minha velha espada nunca pesara tanto em minhas costas, como se eu tivesse carregando o mundo todo... Então me veio Ele no pensamento, fitei aquelas terras a se perderem no horizonte do entardecer e pensei fixamente Nele, no Cordeiro de Deus carregando sua própria cruz no passado, peregrino daquelas mesmas velhas terras, ajoelhei-me, fechei os olhos e pedi Sua proteção! FlavioK2 – Lobo Bárbaro Poeta
Posted on: Thu, 22 Aug 2013 00:17:03 +0000

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