Do meu novo livro, "Causos de Vila Velha", que sai do forno daqui - TopicsExpress



          

Do meu novo livro, "Causos de Vila Velha", que sai do forno daqui a uns três meses: ARREPETE, EXCOMUNGADO! Alaor era um advogado sem caráter que costumava circular pelo calçadão da Praia da Costa rebocando dois cachorrinhos cujos nomes, Pompom e Pompinella, já davam pista da viadagem do dono. Bichona barbuda e parruda, escancaradamente do mal, seu golpe favorito era alugar um apartamento e recorrer a expedientes legais para ficar morando de graça sem pagar o locatário, até mudar de repente, roubando o que pudesse, de luminárias às torneiras do banheiro. Durante sua permanência num prédio, que podia durar anos dada a morosidade da Justiça e as chicanas jurídicas que ele conhecia como ninguém, infernizava o condomínio promovendo festas barulhentas que varavam a madrugada, muitas vezes acabando em baixarias. E ái de quem ousasse reclamar. Recorrendo aos punhos treinados numa academia de box, apelava para a ignorância e distribuía porrada. Um dia alugou o apartamento da desavisada Dona Celeste, uma senhorinha que fora morar com a irmã justamente para poder sobreviver do aluguel de seu único bem. Ô ilusão! Todo fim de mês, quando ia receber, ela voltava de mãos vazias, ou melhor, cheias de desculpas e evasivas. Na última tentativa, Alaor estava bêbado e deu-lhe uma tremenda prensa, chegando ao cúmulo de ameaçá-la de morte. Desesperada, Dona Celeste se lamentou com o parceiro de dança, um velhinho pé-de-valsa que conhecera num clube da terceira-idade. Seu Damião, esse o nome do velhinho, enxugou suas lágrimas e avisou: “Amanhã, faz uma feijoada carregada no tempero e põe numa marmita, que nóis vai dá de cumê pro excomungado”. Meio-dia, Seu Damião e Dona Celeste tocam a campainha. Alaor atende. “Viemo cobrá os atrasado e lhe botá pra fora.” Alaor dá uma gargalhada cínica: “Vai cagar, vovô!” Sem alterar a voz, Seu Damião responde: “Eu vou, ocê é que tão cedo capaz de num ir.” E enfia o cano de um revolvão nas fuças de Alaor, empurrando-o até à cozinha. “Tira as carça e a cueca”, ordena. Alaor obedece, tremendo como vara verde. “Marra ele, Celeste.” Dona Celeste amarra Alaor com as cordas que tinham preparado de antemão. “Agora serve a feijoada.” Alaor recusa abrir a boca. Seu Damião procura nas gavetas até achar uma faca do seu gosto. “Ou come ou passo na faca teus dois cachorrico.” Por adorar Pompom e Pompinella, Alaor abre a boca e come. “Arrepete.” Alaor repete. “De novo.” De novo. “Mais uma vez”. Mais uma vez. Vai indo, Alaor não consegue engolir mais nada, de tão embuchado. “Agora é no funir”, diz Seu Damião, colocando um funil na boca de Alaor e despejando feijoada até o homem ficar verde, pronto para desmaiar. Então, seu Damião mostra a ele um recorte de jornal. “Lê o que tá escrito, pra sabê com quem tá lidando”. Alaor lê: – Após 30 anos no manicômio judicial, ganha a liberdade e volta para as ruas o famoso Damião Costura-Cu, matador que aterrorizou Minas Gerais costurando o orifício anal de suas vítimas com anzol e linha de pescar e obrigando-as a comer até o estômago romper e causar uma hemorragia fatal. Seu Damião dobra o recorte, guarda no bolso e dá o ultimato: “Escói. Ou paga os atrasado e some no mundo ou vorto pra rematá o serviço.” Há muito tempo, Pompom e Pompinella não são vistos no calçadão. Uma pena. Eles eram bonitinhos.
Posted on: Wed, 03 Jul 2013 03:55:36 +0000

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