Em defesa das Forças Armadas Os que defendem o Golpe Militar de - TopicsExpress



          

Em defesa das Forças Armadas Os que defendem o Golpe Militar de 1964, ainda insistem que ele teve como objetivo impedir uma revolução comunista que estava em curso. As práticas adotadas pela ditadura a partir dali: assassinatos, sequestros, torturas e ocultação de cadáveres teriam sido ações necessárias, no sentido de identificar os subversivos e impedir a revolução que se tramava. No entanto, como bem lembrou Paulo Sergio Pinheiro, nem mesmo as leis da Ditadura autorizavam tais práticas. Os interrogatórios desumanos de jovens estudantes só levaram à prisão e à morte de outros jovens estudantes. A inexpressiva força das organizações armadas de esquerda, totalmente desarticuladas, não era o verdadeiro alvo. O que se queria destruir eram os movimentos sociais que então se organizavam na defesa de seus direitos. A mobilização popular das sempre consideradas "classes perigosas" gerava intranquilidade nas elites e na classe média conservadora. Faltam estudos históricos que detectem como foi a evolução desse sentimento de pânico que acabou garantindo apoio expressivo para o golpe. Estudos que avaliem também em que medida a campanha que vinha sendo orquestrada pela direita, desde a década de 1940 foi capaz de convencer os militares daquela quimera: a de que o comunismo estava à porta e que ele era o mal maior. Qualquer coisa devia ser permitida para evitá-lo. Em geral, os que defendem de forma tão intransigente a Ditadura e seu corolário de violações aos direitos humanos alardeiam que o fazem em defesa da honra das nossas Forças Armadas. Apelam certamente para aquele espírito de corpo que as caracteriza e que forma parte de sua essência. Mas, mesmo os que amam a farda acima de tudo podem adotar uma postura histórica crítica e rever determinados dogmas que lhes foram inculcados. Afinal, entre a juventude militar das três armas, há hoje um número razoável de jovens historiadores comprometidos com os princípios científicos que orientam a pesquisa histórica. A honra de nossas Forças Armadas estará melhor protegida quando seus historiadores se debruçarem sobre os documentos que vêm sendo revelados e a partir dessas novas fontes, produzirem obra analítica consistente. Nenhum brasileiro, com um mínimo de conhecimento sobre a realidade da política entre nações, deseja que seu país dispense os serviços de suas Forças Armadas. Eles as querem ver bem pagas, bem armadas, bem treinadas e sempre alertas para nos defender de qualquer eventual agressão externa. A história de nossas Forças Armadas é muito maior do que 1964 e do que os 21 anos da ditadura militar. Quando, em 1887, os fazendeiros de Campinas dirigiram ao governo imperial um apelo no sentido de que fizesse uso da força do Exército na perseguição e captura dos fugitivos, Deodoro da Fonseca, então presidente do Clube Militar, dirigiu ao governo requerimento em que pedia que se poupasse o Exército daquela humilhação: "Não é tanto pela injustiça clamorosa do morticínio decretado a homens que buscam a liberdade sem combates nem represálias; é pelo papel menos digno que se quer dar ao Exército". E este papel indigno não cabia ao Exército que Deodoro representava e a serviço do qual perdera três de seus irmãos nos campos de batalha do Paraguai. Foi das fileiras da jovem oficialidade formada pelo cientificismo positivista que ali imperava quando foi proclamada a República, que saíram Rondon e Euclides da Cunha. Gente que rompeu com a letargia monótona do nosso tradicional beletrismo, preferindo se internar pelo Brasil adentro, abrindo caminhos para as expedições sanitaristas que viriam depois. A "Canção do Expedicionário" foi cantada por todos os brasileiros orgulhosos das ações da FEB e da FAB na Itália. Soldados e oficiais descritos em "Guerra em surdina", por Boris Schneiderman, pracinha brasileiro nascido na Rússia e que o exército aproximou da gente do povo. As Forças Armadas ampliam seu contingente a cada ano com a entrada de novos recrutas. Para os meninos pobres que se engajam, seguir a carreira militar é uma possibilidade de inserção social. Ali são formados no espírito da corporação que inclui um sentido estrito de hierarquia (indispensável para as situações de combate) e a consciência de que começam uma vida de serviço permanente ao Brasil. Por isso, essa juventude não pode ser levada a se solidarizar com os crimes da Ditadura, nem pode ser associada pela sociedade civil àqueles crimes. O Brasil precisa de seu Exército tanto quanto precisa de seu Parlamento. Cid Benjamin, um dos que foram torturados sob a "assistência" do tenente-médico Amilcar Lobo, publicou artigo em "O Globo" em que reconhece que Lobo tem a favor de si o fato de ter sido o único a confessar e a se arrepender de seus crimes. Depois de sua confissão, no entanto, foi acossado tanto pela direita quanto pela esquerda. Benjamin considera hoje que a perseguição que ele e outros lhe moveram foi excessiva e que teria sido preferível se "tivéssemos compreendido sua angústia e, a seu lado, tratássemos de recuperar tudo o que ele sabia a respeito dos porões da repressão". Os mortos têm que ser enterrados. As feridas precisam ser fechadas. Os que sofreram torturas e violações têm o direito de identificar e denunciar seus algozes. Mas o Brasil precisa seguir unido em torno de suas instituições fundamentais. Conservando-as e respeitando-as como patrimônio de toda a Nação. Dizem que, durante a sublevação militar que possibilitou a Proclamação da República, o Ajudante-General do Exército, Floriano Peixoto, recusou-se a reagir. Lembrado da coragem que demonstrara no Paraguai, alegou que lá lutara contra estrangeiros e que ali estavam brasileiros. Frase que parece ecoar na legenda da fotografia de 1968, em que a atriz Vanja Orico, aparece ajoelhada diante dos tanques que iam reprimir manifestação estudantil, implorando: "não atirem, somos todos brasileiros".
Posted on: Sun, 07 Jul 2013 00:37:31 +0000

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