Entre Aspas Entre Aspas, assim se resume a vida de ... Bom! Não se sabe ao certo quem exatamente ela foi. Era alguém que, do acordar ao adormecer, vivia entre aspas. Com a tentativa frustrada de ser alguém, esqueceu de ser ela mesma. E copiou a luta de um, o sorriso do outro, a lágrima do vizinho, o corte de cabelo de alguém. O amor? o amor da vida dela, também não era dela. Amava aqueles que estavam entre as aspas de outras vidas. Tomava as Entre Aspas continuamente, como um remédio contra a solidão. Sentia-se popular, presente, amada, tudo entre aspas. Estudou de acordo com a regra de outrem, trabalhou conforme as Entre Aspas, em horário padrão, pontualmente, tanto na entrada, quanto na saída do expediente regular. Se todas as aspas fossem abolidas, ela perderia a sua identidade, Construída de retalho em retalho, costurada com muito zelo, nos quadrados perfeitos, semelhantes aos moldes da sociedade. Não se reconhecia no espelho, tudo o que via era apenas alguém Entre Aspas, e se orgulhava por isso. Parafraseava sem trocar uma vírgula, sem mudar uma oração, sem expressar a sua opinião. Criou o seu filho rigorosamente Entre Aspas, e se surpreendeu com a rebeldia dele, quando resolveu escrever a própria história com originalidade. Escolheu viver nas reticências, interrogações e exclamações. Que decepção! E por acaso existe vida após as Aspas? Como ele pode abandonar a vida feita? Selecionou o descontentamento pronto de alguém, fez o efeito necessário e presumido, com doses de superação no final. E assim viveu: Entre Aspas até a hora de sua morte, no grito sufocante do último dia, com o tardio pesar de não ter vivido um parágrafo fora das Aspas. Que Assim Seja
Posted on: Sat, 26 Oct 2013 12:36:48 +0000
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