“ Eu jurava que as coisas tremiam ou moviam-se depressa demais, - TopicsExpress



          

“ Eu jurava que as coisas tremiam ou moviam-se depressa demais, só pra justificar cada topada, cada esbarrão acompanhado de um pedido de desculpas e cada cadarço desamarrado visto em queda livre contra o asfalto. Justificava cada ato, cada passo. Justificava até as linhas do diário que era pra não conceder exceção à regra alguma, exceção de mim mesmo por aí. Senão eu transformava verso em prosa e deixava os parágrafos que eu rabisco no braço morrerem durante o banho. Mas você, você não veio justificado, em linha, acertado com os ponteiros do relógio da cozinha, nem com os meus ponteiros e mesmo assim tava ali inserido, ritmando as coisas todas do meu dia a dia. Dá pra parar de me deixar ruborizada com essas maneiras e gestos que me agradam, que me abraçam e que não me pedem justificativa? A gente esquece que gentileza é pior que blush. E que insegurança é o reverso da solidão de quem anda sem as mãos entrelaçadas nas tuas. Poço de secura pra quem ama de longe e ama dentro de uma redoma de vidro, protegido do frio e da chuva é a segurança. E um dia, num almoço a tarde, eu te explico como são essas coisas todas que eu sinto e que misturam angústia, bobagens,alegrias e receios. É tudo medo de perder as reclamações por conta do sono ou da falta de atenção e deixar a implicância diária de lado por algum motivo. E você me deixa assim, com o riso escancarado, achando graça de tudo, até dessa gente toda que acha graça de tudo por aí. Compensa o tempo – que é relativo e só existe pra me pesar as costas quando não tem massagem tua. Digo, ouço, rio e repito que com você cada abraço vem sob medida, como as minhas formas se adaptassem e os seus ossos usassem algum revestimento de veludo pra justificar a suavidade. Nem o nosso choque de atrito é ruim. Daí eu divido tudo com você e paro de contar o tempo e largo o relógio, e quem convive comigo já sabe do teu nome e do que você mudou na minha casa e de todos os quadros e dos filmes que a gente assistiu no fim de semana e bate aquele formigamento na pele que não dissolve e só aumenta e, parece um chute na barriga dado por uma criança enfurecida, sobe pelo estômago e ali fica, fica, incomoda, faz pesar o peito e o medo é bem assim mesmo, ainda mais aflito por pensar em perder você. Eu jurava que as coisas tremiam ou moviam-se depressa demais, só pra justificar nada com nada. Até que encontrei você.”
Posted on: Fri, 22 Nov 2013 00:52:20 +0000

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