João Miguel Tavares no Público de hoje. O Orçamento para - TopicsExpress



          

João Miguel Tavares no Público de hoje. O Orçamento para 2014 vai ser hoje entregue no Parlamento, mas por esta altura já ninguém acredita que a sua filosofia seja diferente daquela que inspirava os orçamentos anteriores. Vamos certamente continuar ao nível das continhas de merceeiro, a ir buscar uns milhões aqui mais uns milhões acolá, sempre fiéis à máxima de Passos Coelho e Paulo Portas: sacar o máximo mexendo no mínimo. É a homeopatia aplicada à política. O doente está-se a finar, mas em vez de o levarem para a mesa de operações, os nossos governantes continuam a ter medo das terapias invasivas e a esperar que a coisa passe com umas infusões de austeridade. A grande tragédia de Portugal não é o país estar a empobrecer. A grande tragédia é o país estar a empobrecer para nada. Passos Coelho e Paulo Portas continuam exactamente iguais ao que sempre foram, a gerir o dia-a-dia, a tapar os buracos que vão aparecendo e sem uma visão de futuro para o país. Há dois anos e meio que se promete uma reforma do Estado que por esta altura já está mais enevoada do que D. Sebastião. Setembro já se foi, Outubro vai a meio, e enquanto esperamos por aquilo que nunca chegará, recordemos ao menos o fundamental mea culpa de Vítor Gaspar na hora da sua partida, quatro meses atrás: Pensei que se poderia dar prioridade à consolidação orçamental e à estabilização financeira sem uma transformação estrutural profunda das administrações públicas. Neste momento, é claro que um esforço muito mais concentrado, desde o primeiro dia, na transformação das administrações públicas teria sido mais apropriado. Vítor Gaspar, pelo menos, percebeu isso e saltou do barco. Portas e Passos Coelho continuam a mandar a orquestra tocar. Quando um gestor chega a uma empresa falida e os credores lhe dizem que é preciso cortar 10% dos custos, ele tem duas hipóteses. Cortar 10% em cada um dos sectores da empresa. Ou então identificar os sectores mais ineficientes e eliminá-los até chegar aos 10%. O bom gestor optará sempre pela segunda hipótese. Os governantes portugueses optam invariavelmente pela primeira. Pior: como são extremamente sensíveis aos sectores mais poderosos, permitem até que alguns consigam escapar aos cortes por entre os pingos da chuva, como é o caso da TAP ou da CGD. Eis a razão por que digo que o maior problema de Portugal não é o país estar a empobrecer - o empobrecimento seria sempre inevitável a partir do momento que andámos uma década a consumir 10% acima daquilo que produzíamos em cada ano -, mas sim estar a empobrecer sem qualquer utilidade. Ou seja, trágico não é acabarmos mais pobres, mas acabarmos mais pobres sem que nada mude em termos estruturais. Em vez de ficarmos com um país mais ágil e mais competitivo, ficamos apenas com um país mais frágil e mais desigual. Estas são as críticas que partidos sérios estariam a fazer ao Governo assim que o novo Orçamento de merceeiro chegasse à Assembleia da República. Infelizmente, não são essas as críticas que nós iremos ouvir. PS, Bloco, PCP, CGTP, UGT irão indignar-se com mais austeridade, centenas de comentadores irão proferir milhares de profecias apocalípticas, e o país continuará a discutir se quer austeridade ou não, em vez de discutir que austeridade quer. Não admira que tantos portugueses se sintam longe desta forma de fazer política. Se em 230 deputados não há um único que discuta o que vale a pena, eles estão lá a fazer o quê?
Posted on: Tue, 15 Oct 2013 10:52:54 +0000

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