Leilão de Libra: para que a pressa? Rodrigo Garcia A indústria - TopicsExpress



          

Leilão de Libra: para que a pressa? Rodrigo Garcia A indústria mundial de energia possui alguns consensos em relação ao uso do petróleo — a principal fonte de energia primária das sociedades — para 2030: 1) Apesar da utilização de outras fontes de energia, o petróleo representará em torno de 25% a 30% da matriz energética mundial (em 2008 correspondeu a 33%). 2) O que será consumido ainda não foi identificado e, por conta disso, dependeremos da descoberta de novas reservas mundiais ou da reavaliação das reservas atuais. 3) Por causa do ponto anterior, o petróleo continuará sendo caro em relação ao que era antes (em agosto de 2003 um barril de petróleo custava aproximadamente 55 dólares; em agosto de 2013 custava quase o dobro). Em 2007 a Petrobras comunicou ao governo brasileiro a descoberta de uma gigantesca província petrolífera com potencial de 60 bilhões a 100 bilhões de barris. Esta enorme reserva, conhecida como Pré-Sal, está numa área marítima a pelo menos 5 mil metros de profundidade, a 300 km da costa, e localizada próxima aos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Para efeitos comparativos, as reservas provadas brasileiras fecharam o ano de 2012 em 15 bilhões de barris, pouco menos de 1% das reservas mundiais, que fecharam o mesmo ano em torno de 1,6 trilhões de barris. Se o Pré-Sal confirmar a oferta de 80 bilhões de barris, isto representará aproximadamente 20% (!) das reservas mundiais atuais, e o Brasil será um dos países mais destacados no mercado de hidrocarbonetos. Fica clara, portanto, a importância do Pré-Sal. O mundo está ávido por petróleo, e o Brasil, um país democrático, confiável e alinhado ao Ocidente, possui uma reserva que pode abastecer o próprio país e permitir a exportação para outros países. O Pré-Sal é tão importante que a presidenta Dilma Rousseff acredita ser ele o motivo para ser espionada pelos EUA (Folha de São Paulo, coluna Painel, 3/9/13) e o Wikileaks registra reuniões específicas do embaixador norte-americano no Brasil para montar o lobby de empresas de seu país. Além disso, a exploração e produção destas reservas exigirá um grande esforço industrial, tecnológico e de recursos humanos, o que ajudará a desenvolver o país. Como a exploração de petróleo do Pré-Sal é comprovadamente mais profícua do que a média da indústria mundial e nacional, e como as reservas são muito significativas, o governo Lula, em 2010, criou regras especiais para sua exploração: A) A Petrobras será a única empresa a realizar as operações técnicas de exploração e produção. B) Ela deverá investir pelo menos 30% dos recursos financeiros dos consórcios que atuarão na área. C) O petróleo produzido pertencerá à União, em vez de pertencer às empresas que o produziram. Estas receberão uma comissão — em petróleo — pelos seus serviços. Este conjunto de mudanças aumenta o controle do governo sobre o Pré-Sal e beneficia a sociedade, pois coloca nas mãos públicas — e não nas do mercado e de empresas estrangeiras — as principais decisões sobre este imenso volume de óleo. Porém, apesar das mudanças das regras, o governo comete um grave erro com a sociedade brasileira. Como é fartamente divulgado pela imprensa, no mês que vem a Agência Nacional do Petróleo, vinculada ao governo federal, fará o primeiro leilão de uma área do Pré-Sal sob as novas regras. Estima-se que Libra, a área a ser leiloada, possua entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris de petróleo, algo em torno de 53% a 80% de nossas atuais reservas — o que a torna a maior nova área petrolífera do planeta. Leiloar Libra atualmente é um contrassenso. Primeiro, porque a Petrobras, que é pública, brasileira e competente, atualmente está envolvida técnica e financeiramente com outros projetos. Segundo, porque a própria indústria petrolífera nacional, que merece fornecer equipamentos, peças, serviços e tecnologias ao setor de petróleo — em detrimento às empresas estrangeiras — também corre contra o tempo e precisa amadurecer mais para atuar melhor nas empreitadas do Pré-Sal. O ideal seria leiloar áreas menos relevantes. Oferecer Libra neste momento atende ao mercado internacional, mas não é estratégico para a Petrobras e para os interesses brasileiros. Adequar (dentro do possível) o ritmo de leilões de petróleo à capacidade das empresas nacionais é fortalecer o capitalismo, a economia e o desenvolvimento nacionais. Como o governo não deve recuar do leilão, fica a torcida para que a Petrobras consiga arrematar o bloco e manter sob controle brasileiro esta reserva que é estratégica para o Brasil e para o mundo.
Posted on: Sat, 14 Sep 2013 13:30:41 +0000

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