Manifesto da Santa Merda por Friedensreich Hundertwasser! Uma - TopicsExpress



          

Manifesto da Santa Merda por Friedensreich Hundertwasser! Uma pessoa deveria ser sepultada a somente meio metro abaixo da terra, ou dois pés abaixo da superfície. Daí, nesse lugar, deveria ser plantada uma árvore. Essa pessoa deveria ser sepultada num caixão biodegradável de tal modo que a árvore plantada pudesse retirar do corpo enterrado substância e nutrientes e reutilizá-los para o seu crescimento, transformando-os em sua própria substância. Quando visitássemos a sepultura não estaríamos visitando um ser morto, mas um ser vivo, que se transformou em árvore. Diríamos: “Este é o meu avô, e a árvore está crescendo bem, fantástico.” Criaríamos um belo bosque, mais belo que um bosque normal, pois as árvores teriam suas raízes em sepulturas. Seria um parque, um lugar prazeroso, um lugar para viver, até um lugar para caçar. Foram necessários milhões de anos para que a vegetação cobrisse a lama e as substâncias tóxicas com uma capa de húmus, uma capa de vegetação e uma capa de oxigénio, de tal forma que os humanos pudessem viver na terra. E agora os humanos mal agradecidos estão a trazer lama e substâncias tóxicas – que tinham sido recobertas por um tedioso esforço cósmico- de novo à superfície. Dessa maneira, por meio dos desacertos da irresponsável espécie humana, o fim do mundo converte-se no começo de todos os tempos. Estamos suicidando-nos. Nossas cidades são carcinomas. Não comemos o que cresce perto de nós – importamos comida de lugares longínquos, da África, América, China e Nova Zelândia. Não conservamos a nossa merda. Os nossos desperdícios, o nosso lixo é descarregado e enviado para bem longe. Envenenamos os rios, lagos e oceanos, ou transportamos a nossa merda para fábricas de purificação complicadas e dispendiosas, ou raramente em centrais onde ela é transformada em composto. Outras vezes o nosso lixo é destruído. A merda nunca volta aos nossos campos, nem volta aos lugares de onde vem a nossa comida. O ciclo pelo qual a comida se converte em merda continua funcionando. O ciclo pelo qual a merda se converte em comida foi quebrado. Sempre que accionamos os nossos autoclismos, com a convicção de que estamos executando um acto de higiene, estamos rompendo as leis cósmicas, porque, na realidade, é um ato ímpio, um sacrílego gesto de morte. Quando vamos ao banheiro, fechamos a porta por dentro, apertamos a descarga e mandamos a merda para bem longe, tentando pôr um ponto final a alguma coisa. De que temos vergonha? Negamos o que acontece com a nossa merda, da mesma maneira como negamos a morte. Para nós, o buraco da sanita parece-se com a porta da morte, procuramos fugir dela o mais rápido possível, esquecer o mais rápido possível a podridão e a decadência, quando é exactamente o contrário. É com a merda que a vida começa.
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 17:30:05 +0000

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