Mano Caje debulhando....e eu bem na foto...heheheh "Esse é um registro do mestre Ricardo Paes Carvalho da passeata de protesto dos médicos ocorrida no início de julho, se não me engano com a data. O desafio, aqui, é encontrar um manifestante negro. O fato da profissão de médico ser uma atividade quase exclusiva de pessoas brancas é um sintoma de que as coisas não vão nada bem em nosso país. As manifestações de hoje em todo o país contrastam com as outras manifestações que pedem redução da tarifa nos transportes, das que exigem o fim da corrupção e das injustiças. A principal característica dos protestos dos médicos, embora declarem o desejo de melhores condições de trabalho, é manter privilégios. Digo isso com a mais absoluta convicção. Se fosse uma manifestação ética, teria sido convocada por médicos que trabalham nas periferias e em hospitais públicos, que sempre protestaram e nunca foram atendidos pelos governadores ou prefeitos. Os figurões que comandam as associações que organizaram esses protestos são todos muito ricos e trabalham em seus próprios consultórios e hospitais bilionários. Atendem também a uma demanda reacionária: colocar nas costas do governo federal todos os problemas da saúde que são responsabilidade também dos governadores e prefeitos. O governo federal tem sua cota de responsabilidade, mas o sucateamento da saúde em nosso país está relacionada a governos passados, como o de Sarney e FHC. A privatização da saúde por meio de planos de saúde, seguros saúde, etc, instituíram no Brasil a visão da medicina como negócio, business. Na massa de manifestantes brancos e de branco que paralisam avenidas pelo Brasil, hoje, há seres humanos que só salvam a nossa vida se pagarmos para isso. É uma massa que contrasta com o que Elias Canetti chamou de "negrume de gente", que era a massa de trabalhadores vienenses vestidos com seus paletós e chapéus pretos nos protestos de 1927. A brancura do protesto de hoje não é por pão e café, é por ternos e sapatos caros que terão assento em carros que custam mais de 100 mil reais. É para assegurar o que é inalcançável para a massa de negros em nosso país, como é inalcançável um curso de medicina. Se tivéssemos médicos e pesquisadores negros, indígenas e caboclos em nosso país, teríamos, possivelmente, a melhor indústria farmaceutica do mundo. Mas não temos. Como também não temos bons médicos, nem boas associações de médicos, nem boas políticas de saúde pública. Antes de sair para protestar, deviam fazer autoanálise e uma análise conjuntural profunda. O fato de não haver negros nessa fotografia exige muita reflexão. Garanto que durante as passeatas as salas de espera dos hospitais também poderão estar vazias. O povo negro, que precisava de atendimento hoje, ficou em casa para ser informado pela gente branca da televisão."
Posted on: Wed, 31 Jul 2013 15:12:42 +0000