Miguel Serra diz: Você estava dando uma voltinha com o seu rotweiller na vizinhança, quando aparecem uns conhecidos seus. Você se desentende com eles, eles se aproximam e um deles começa a te segurar. O cachorro parte pra cima dele. Você tenta afastar o cachorro, mas o cara se precipita, saca uma arma, atira, e mata seu cão. Final chocante? Afinal, quem eles pensam que são pra reagir desse jeito? Mas, e se os “conhecidos” na verdade são policiais guardando a cena de um crime, e o desentendimento é causado porque você fez uma pergunta idiota, enquanto os filmava com o celular de longe? Continuando, eles se irritam e vêm em sua direção. Você guarda o seu cachorro no carro, e volta para se render a eles, que te dão voz de prisão e te algemam. O cachorro, vendo aquilo, salta a janela do carro para defender seu dono e parte para um dos policiais. Você grita um comando para interrompê-lo e ele até recua. Os policiais te afastam do cão, e um deles saca a arma e tenta afastar o cão. O cão vê aquela coisa sendo sacudida na cara dele e volta para o ataque. O policial atira. E atira, e atira, e atira, e atira, e o seu cão estrebucha no meio da rua a dor da morte, cuspindo o sangue que já banha o resto de seu corpo, enquanto os moradores e transeuntes, entre eles crianças, gritam e choram diante do terror da cena que se conclui. youtu.be/nBUL021qDFo?t=2m6s Essa é a cena (sobre a qual advirto o espectador para as imagens fortes), que se passou em Hawthorne, na Califórnia, onde a polícia é “humana” e “bem preparada”. Enquanto restar a diferença entre a propriedade privada e a pública, que autoriza o mandato desta sobre aquela, restará também a mesma sensação de superioridade moral, de distinção social, que autorizou os tiros que mataram Max, o cãozinho de 2 anos, em Hawtorne este mês, e que autorizou o drone que matou Abdulrahman Al-Aulaqi, jovem americano de 16 anos, no Iémen ano passado, e que autorizou os paredões de Fidel Castro em Cuba, os gulags na União Soviética e as câmaras de gás na Alemanha. O peso dessas mortes é consequência de não entender o peso da autoridade pública, o peso da mão do Estado, que serve aos seus filhos as mesmas carícias que utiliza para matar um verme.
Posted on: Wed, 10 Jul 2013 03:42:14 +0000
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