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O CONTEÚDO ABAIXO É APENAS PARTE DO MEU TEXTO PUBLICADO EM VÁRIOS SITES EM 2012. SER NEGRO, TER CONSCIÊNCIA NEGRA... SER APN NO BRASIL *Helcias Pereira Para poder refletir e entender a atuação do movimento negro na conjuntura atual, tanto no Brasil quanto fora dele, faz-se necessário recordar o mais longínquo possível, um passado/presente que se perpetua permanentemente nas lutas e resistências dos povos afro-ameríndios. Ao lembrar Roselis Von Sass em seu livro “Revelações inéditas da história do Brasil” (1973), nos reportamos para a transformação geográfica deste país/continente, obviamente considerando desde os primórdios a realidade de seus habitantes, os “tupanos” também chamados “filhos de Tupã” ou “filhos do sol e da terra”, os quais viviam na floresta em perfeita harmonia, fato que não davam um grito sequer na selva para “não agredir nem desrespeitar” os outros seres, por isso, era natural a comunicação “imitando os animais”, eram homens e mulheres que falavam cantando como parte que o eram da mãe natureza, até então harmônica e indestrutível. Leia-se: Os filhos de Tupã haveriam de chegar neste paraíso advindos de terras distantes atravessando oceanos com suas pequenas embarcações, encontrando ilhas quase sempre submersas, explorando grandes geadas e, sobretudo, como nômades que o eram, realizando grandes aventuras, povoando e transformando o mundo até então desconhecido. Então surpreendentemente nos anos contemporâneos descobriu-se “LUZIA”, um fóssil encontrado no Sudeste brasileiro, comprovando que há milhares de anos os seres humanos advindos da África conseguiram chegar ao Continente Sul Americano. O fóssil encontrado seria naturalmente bem mais antigo que as esculturas feitas no México datadas 1000 anos antes de Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral. Indubitavelmente, tratava-se de inteligência humana extremamente avançada à época, caso que nos faz refletir criticamente o quanto foram no mínimo tendenciosos os argumentos dos colonizadores portugueses ao dizerem que o povo africano não tinha cultura, civilização e nem mesmo ALMA. Torna-se então mais que necessário refletir sobre a Mãe África enquanto berço da humanidade! Na verdade, o que devemos aprofundar é algo muito lógico: Como poderíamos acreditar que não havia civilização na África, se milhares de anos antes mesmo da Europa existir, os africanos já dominavam agriculturas e tecelagens, Técnicas medicinais, conhecimentos matemáticos e geométricos, várias escritas, metalurgias e fundições, embarcações com navegações marítimas e comércio por todo continente? Como então chegaram à Mongólia, Austrália, nas Américas e sobretudo, América do Sul? E ainda: como explicar tamanha engenharia e arquitetura em cidades urbanizadas, nas muralhas do Zimbábue, nos obeliscos da Etiópia, nas pirâmides do Egito, nos grandes palácios no Império de Mali e em outros grandes reinos e impérios? Como negar então nossa descendência diante de uma série de obviedades no sentido de que o povo negro povoou o mundo, naturalmente adequando-se geneticamente às climatizações locais, ora reduzindo, ora aumentando o teor da melanina causando necessária resistência epidérmica. Essa é a verdadeira defesa de que ser NEGRO é ser universal, e ser descendente da Mãe África. O que seria então TER CONSCIÊNCIA DE SER NEGRO (A)? Considerando que a ÁFRICA é o berço da humanidade, defendo que SER NEGRO é ser antes de tudo, filho da África, homens e mulheres descendentes geneticamente de diferenciados grupos étnicos e culturas como os Yorubás, Gêges, Bantos e tantos outros, cuja ancestralidade está presente no nosso jeito de falar, andar, dançar, vestir, cozinhar, etc. Está na força da nossa oralidade, intrínseco na nossa epiderme, nos traços faciais, no encarapinhado de nossos cabelos, na consciência sócio-histórico-cultural e religiosa, sobretudo, correlacionados às raízes de matizes africanas. Mas também, está na consciência cidadã de dizer não ao racismo e combatê-lo junto a outras formas de preconceito, independente da quantidade de melanina. Ser negro é ter CONSCIÊNCIA NEGRA = consciência ÉTNICORRACIAL, que por sua vez implica em alto-identificação, sentimento de pertencimento, de ser afro-brasileiro e sentir na grande contextualidade a importância de se assumir afro-ameríndio. Ter consciência negra é não aceitar comportamentos e ações racistas, discriminatórias e muito menos segregacionistas, é não acirrar e ainda se opor a qualquer tipo de sentimento de superioridade diante do outro por causa das diversidades, é dizer não ao ETNOCENTRISMO que oprime e segrega da mesma forma. Ter consciência negra é não aceitar a intolerância religiosa que humilha e agride individual e institucionalmente as comunidades de fé de matriz africana; É não aceitar discriminações correlatas a exemplo dos diversos casos de homofobias e xenofobias, principalmente no tocante a prática do eurocentrismo. Ter consciência negra é defender permanentemente a causa do povo negro, cuja comunidade ainda vivencia os infortúnios do colonialismo e da exploração de mão-de-obra barata e semi-escrava. Ter consciência negra é lutar por políticas de promoção da igualdade racial. Defender as mulheres e crianças negras dos estereótipos e abusos etnocêntricos, capazes de esmorecer sua alto-estima, fruto de todas as inoportunidades causadoras de extremas desigualdades sócio-culturais e econômicas. Ter consciência negra é lutar igual e simultaneamente por direito à terra, educação com qualidade, segurança alimentar permanente, cultura, esporte e lazer, inclusive resgatando e avivando os cantos e as brincadeiras circulares ancestrais, garantia de direitos a moradia com dignidade e ainda um olhar com ações direcionadas as comunidades tradicionais remanescentes de quilombos e de matriz africana. Enfim, garantir políticas públicas reais de ações afirmativas que promovam a igualdade racial e, sobretudo, estabeleça o compromisso de combater as injustiças sociais causadas pelo RACISMO AMBIENTAL que promove sistematicamente a excludência, a vulnerabilidade e a negação de direitos daqueles que se condicionam em formar favelas e sobreviver nas lamúrias das serras, vales, grotões e ao lado dos lixões das grandes cidades. Helcias Pereira - Ativistas do MN desde 1988 - Membro Diretor do ANAJÔ - Membro da Coordenação Nacional dos APNs - Conselheiro Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR /SEPPIR/PR
Posted on: Tue, 19 Nov 2013 10:39:52 +0000

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