O PASQUIM Entre o final dos anos 1970 e início do anos 1980, o - TopicsExpress



          

O PASQUIM Entre o final dos anos 1970 e início do anos 1980, o semanário Pasquim foi uma voz inteligente e bem humorada da oposição à ditadura militar. Foi o inventor de expressões e entrevistas bem humoradas, e oxigenou a imprensa tradicional da época. Era uma espécie de Mídia Ninja com qualidade editorial e sem dinheiro público. Mas depois a Ditadura terminou, os militares transferiram as ações do Estado insolvente para os civis, e instalou-se a Democracia à Brasileira. Os militares também repassaram um corpo técnico com longa experiência em fracassos, muito bem aproveitado pelos civis, que obedeciam à risca as imposições militares. A ameaça de um novo golpe para retomada de poder foi uma constante. A ditadura continuara, mas nas sombras, mais discreta. Foi a razão pela qual a extraordinária Lei de Autoanistia, que absolveu agentes públicos jamais identificados, responsabilizados e condenados pela morte de civis pacíficos, mas temidos pela forças das ideias, foi até hoje preservada. Antes da anistia, bolsões sinceros, mas radicais, como se dizia na época, tentaram impedir a todo custo a democratização e os privilégios, como os altos soldos e acréscimos e os empregos garantidos em diretorias estatais. O que explica porque o regime mais anticomunista do Brasil tinha aversão ao liberalismo e queria estatizar tudo e era fechado ao mundo. Precisaram de Collor, para abrir um pouquinho, e de FHC, para privatizar, mesmo a baixo preço e rápido, porque se demorasse não haveria privatização. Nos subterrâneos da caserna havia muita resistência a qualquer mudança que representasse perda de poder. A idéia era cerrar fileiras e emplacar como presidente o General comandante do SNI. Foi nesse tempo que ocorreu o atentado ao Riocentro, durante um show de MPB. A ideia era creditar a explosão à esquerda e fechar novamente o regime. Era uma ideia sem pé nem cabeça, porque era a própria esquerda que organizava o evento e ela não atentaria contra si mesma. Tão sem pé nem cabeça que ninguém conteve o riso quando o Inquérito Militar divulgou laudo pericial concluindo que o pênis do motorista do Puma estava intacto. Como se fosse humanamente possível resistir a tamanha explosão. O Pasquim não perdoou e estampou como manchete: “O Pênis do Ano”. Foi o que bastou para a edição do jornal – mais uma – ser completamente apreendida. Felizmente, aqueles que tinham assinatura fizeram o exemplar circular entre amigos. Os atentados a bomba contra bancas de jornais que vendiam O Pasquim e outras publicações da chamada Imprensa Alternativa, tornaram a acontecer e a circulação começou a reduzir-se. Ninguém queria ser visto comprando ou vendendo. Muito menos estampara exemplares do lado de fora da banca. Jornaleiros mais ousados passaram a distribuir como se fossem aqueles famosos catecismos do Carlos Zéfiro – discretamente e exclusivamente para clientes amigos, dentro de outro jornal. O Pasquim era um ícone da luta contra a ditadura, mas ao longo dos anos 1980 perdeu função, leitores e anunciantes. Mudou de estilo, de formato (de tablóide virou standard), e terminou arrematado em uma aposta feita entre Ziraldo, que o desejava veículo para o PMDB, e Jaguar, vinculado ao PDT de Brizola, e que o desejava mais à esquerda e reivindicativo. Jaguar ganhou a aposta e, sem o mesmo time de colaboradores do passado, resistiu o quanto pôde em um velho e empoeirado sobrado da Rua da Carioca, no Centro. Paulão, um escuro alto e gordo, que costumava figurar nas fotonovelas do jornal, servia de segurança e faz tudo. Paulão morreu, e logo depois o jornal acompanharia. Ninguém chorou pelo Pasquim. Creio que nem o Jaguar, que depois seria Editor do também finado A Notícia, especializado em mortes de todo tipo. Não era mais uma mercadoria de 1ª Necessidade. Os tempos mudaram e o jornal não soube ou não pôde acompanhar. Dizem que onde menos se espera é que não sai nada mesmo, mas, décadas depois do fim da ditadura e da queda do Muro de Berlim, um grupo de jovens idosos criou o Pós-Quim Uébi Zine – vencedor do título de Trocadilho infame do ano passado e retrasado – e o Pasquim Raitéqui. Ambos limitam-se a ser porta-vozes dos direitos da esquerda corrupta. A direita faz exatamente o mesmo, mas por ter mais experiência, deixa menos rastro. Também por criar menos atrito. O Centro, se houver efetivamente, também. Não há salvação no poder. A venalidade é a regra. Mas há uma diferença enorme entre aceitar cinicamente e apoiar entusiasticamente, ou mesmo negando fato criminoso fundado em prova documental. Ou atacar acusadores para defender criminosos, como pretendem fazer com o Ministro Joaquim Barbosa, do STF, criando um crime inexistente. Nada demais em exigir que se punam todos. Houve Mensalão em Minas Gerais e em Brasília. É enorme a quantidade de casos em Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas pelo Brasil afora. É uma pena que tenham ressuscitado o nome do Pasquim para isso. Há muitos blogs recebendo verbas públicas para defender o Poder Executivo. Não precisam de mais gente. Se fazem de graça, sem receber nada, como já me contaram, então é pior ainda. Já fui um intransigente defensor dos Macs contra os PCs. Era no tempo em que a Apple estava ameaçada de falir e as máquinas da empresa eram efetivamente melhores. Agora que a empresa é vitoriosa, líder de mercado em segmentos diversos, não faz mais o menor sentido dar contornos de religião a um gosto pessoal. Só teria sentido se eu fosse acionista da Apple. Até tive a oportunidade, mas não investi porque não acreditei. O Pasquim teria ficado melhor se continuasse enterrado. Sua versão na Internet é puro proselitismo. Não tem graça porque evita tudo que prejudique e desabone o discurso oficial. Nos bons tempos de Millôr, Ivan Lessa, Paulo Francis e Sérgio Augusto, isso não teria acontecido. Ressuscitaram o Pasquim em seus momentos finais, onde tudo era permitido, desde que garantisse uma ligeira sobrevida. Karl Marx, tão reverenciado por aqueles que nunca leram seus intrincados textos de economia, e que somente revelam com argúcia a eficiência funcional do capitalismo, disse uma vez que a história só se repete como farsa. Entenderam errado a piada. E não foi culpa do Português, do Papagaio ou do Fanho. A culpa é de quem contou a piada.
Posted on: Tue, 13 Aug 2013 20:10:17 +0000

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