"O fim da paixão pelo carro parece decretado. Nas manhãs - TopicsExpress



          

"O fim da paixão pelo carro parece decretado. Nas manhãs londrinas, ao longo do Rio Tâmisa, diariamente, centenas de jovens pedalam rumo ao centro O fim da paixão pelo carro parece decretado. Nas manhãs londrinas, ao longo do Rio Tâmisa, diariamente, centenas de jovens pedalam rumo ao centro. O figurino padrão é capacete, roupa de trabalho na mochila e fone de ouvido conectado no aplicativo com o melhor roteiro a seguir em duas rodas. As bicicletas são 25% dos veículos em circulação em Londres nas horas de rush e viram maioria em algumas ruas do centro. A cena, popularizada primeiro em Amsterdã, agora se repete em toda a Europa, sinalizando uma mudança de valores impensável há pouco tempo: o automóvel, símbolo do milagre econômico do pós-guerra e estrela da sociedade de consumo ocidental, perde seu poder de encantamento e, na capital dos modismos do mundo, Nova York, já foi relegado à categoria brega. Aconteceu com o cigarro há mais de uma década, agora chegou a vez de os automóveis começarem a perder a guerra cultural por corações e mentes dos cidadãos antenados com seu tempo. As bicicletas de aluguel, como as laranjinhas no Rio, se espalham por todas as cidades. Em Londres, por exemplo, elas são azuis e em três anos foram usadas por 24,5 milhões de pessoas, em geral por um período de menos de 30 minutos, em que são de graça. Na Alemanha, há 80,5 milhões de pessoas, 73 milhões de bicicletas e vendem-se quatro milhões por ano, a um preço médio de € 450. Em Amsterdã há mais magrelas do que gente — 880 mil bikes para 800 mil seres humanos — e já viraram um problema para o trânsito. Na Escandinávia e em alguns lugares em Londres, museus e teatros — como o Saddle Wells — recebem, com a maior naturalidade, aquelas bicicletas dobráveis junto com casacos e cachecol. “É um processo difícil de reverter. A relação com os automóveis vem esfriando há 20 anos”, diz o sociólogo berlinense Andreas Knie. Um país de gigantes da indústria automobilística como a semiestatal Volkswagen e a bávara BMW, a Alemanha viu despencar para 7% as compras de carros novos entre jovens com menos de 29 anos. Em pesquisa de uma universidade, só 4% preferiam comprar um carro a sair da casa dos pais. É uma questão de geração. Não é que os jovens — entram na categoria também os jovens de espírito — tenham deixado de ser individualistas, mas o carro perdeu o valor simbólico, substituído por gadgets eletrônicos e pela própria bicicleta. É ligado a esta cultura ascendente, por exemplo, um dos casos de sucesso no mundo empresarial: Rapha, uma grife criada há menos de uma década, ano passado vendeu 18 milhões de libras (cerca de R$ 72 milhões) em roupas, acessórios e livros para uma afluente clientela de ciclistas cool ao redor do mundo — as lojas da marca chamam-se cycle club, existem em Londres e São Francisco, mas aparecem temporariamente, como pop shops, em Nova York, Maiorca, Tóquio. Tornou-se caro e complicado manter um carro próprio. Virou uma coisa antiga e trabalhosa, dizem os jovens. Claro que a indústria automobilística contra-atacou e alugar carro virou tão fácil quanto tomar táxi. Naquelas situações bem conhecidas — de exaustão a temporais e urgências variadas — em que só o automóvel resolve, basta usar o celular. Se você mora em Berlim ou em outras cidades alemãs, um aplicativo mostra onde estão estacionados os carros de aluguel de curto prazo e nunca é preciso andar mais de poucos minutos para achar um. É quase irresistível: o aplicativo tem instruções de como acionar o carro e pagar de € 0,29 a € 0,34 por minuto — no mesmo trajeto, o táxi custa quatro vezes mais. Tá bom, no Brasil a gente acha que estas coisas nunca vão funcionar no momento mais fundamental, mas nesses países do lado de cá, os administradores são bons em prever problemas e em não deixar eles acontecerem, seja em caso de furacão ou saída de show do Rolling Stones. Mas, como no Rio, está cada vez mais difícil fazer caber tantos automóveis nas ruas e, por isso, todos investem em ciclovias e segurança dos ciclistas. O prefeito Boris Johnson, com seu senso de marketing aguçado, por exemplo, há muito assumiu a defesa da construção de uma Londres amigável para os ciclistas: tem um orçamento de 913 milhões de libras para a construção de ciclovias e discute restringir a circulação de caminhões na cidade, já que eles estiveram envolvidos em cinco das sete mortes em acidentes com bicicleta neste ano. Na Itália, um projeto sensacional prevê a construção de 674Km de pistas para bicicletas, ligando Turim a Veneza, num idílico percurso sob a sombra dos Alpes, com vista para os palácios de Ferrara e a garantia de uma boa pasta para repor as energias. Não tem jeito. Os engarrafamentos constantes, o negro cenário para o futuro do planeta traçado pelos sábios do clima e a procura de um estilo de vida mais saudável fizeram a bicicleta entrar como estrela nos planejamentos urbanísticos e turísticos."
Posted on: Sat, 05 Oct 2013 18:16:27 +0000

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