O meu amigo e ex-companheiro de copos antigos, mais os modernaços - TopicsExpress



          

O meu amigo e ex-companheiro de copos antigos, mais os modernaços que bebemos ultimamente, de cognome Zé de Ourique, com restaurante homónimo, decidiu mandar o mundo à merda. O mundo certamente merece, talvez ele não o merecesse com esta despedida. Vai daí e prega fogo ao restaurante que explorava, enforcando-se de seguida na cozinha. Nunca supus o estado de desespero e agonia que o Zé transportava. Vejo-o agora nitidamente, e eu impotente e desconcertado e inútil. Nem quero avaliar mais que o já muito evidente quadro económico e endividado, mais os fantasmas de uma vida social mal conseguida. Não quero avaliar nada aliás. Não adianta à vida, a imensa que teve, nem à morte, a súbita que deixa. Fica-me o sabor amargo, de cada vez que alguém parte assim, sem aviso prévio, que a morte é minha também, dói-me tudo o que não pude ser junto a esse ser. E não pude tanto, agora que o revejo. É tarde, é sempre tarde. E a vida afinal nunca tarda no seu acontecer. Nem o desfecho da mesma. Transportei este amigo por vinte anos. Teve uma discoteca em Ourique. Teve um bar em Albufeira denominado “Falência Bar”, coisas da vida na altura e que pelos vistos pouco alteraram. Teve sempre uma alma grande com ideias vastas de um país melhor, mais a sua existência a pensar o seu papel e equidistante das algazarras e barafundas conturbadas socialmente. Um cidadão que acabou fodido afinal. Enviei hoje, após o ocorrido, este sms a alguém que amo: “Sitiados, exilados no nosso país cultural, tal como o disse ao Vergílio Ferreira um dia, encurralados de desespero agora, cadáveres históricos em breve.” Fica em paz onde já tenhas chegado que nós por cá continuamos e alguns de nós pensando-te.
Posted on: Tue, 25 Jun 2013 23:41:16 +0000

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