O que é a vontade de Deus? E acaso algum humano poderia por-se no lugar dele para que então a imponha a seus semelhantes? E, obrigatoriamente, esta vontade de Deus deve ter algum significado relevante a qualquer grupo humano que seja, ou é flexível a ponto de entender as diferenças de valores existentes entre as vivências de uma grande metrópole do mundo ocidental e uma tribo de aborígenes, por exemplo? Sobre a mulher, para o cristão, a vontade de Deus é que ela seja submissa ao marido como é ao próprio Deus; para o muçulmano, a vontade de Deus é que ela use o véu; para o judeu, a vontade de Deus é que ela não durma na mesma cama que o marido no período menstrual, por estar impura. E, para ambas as crenças mencionadas, a vontade de Deus no momento da criação foi criar a mulher apenas por causa das necessidades sociais do primeiro homem, Adão, a partir de sua própria costela; de igual modo, segundo a vontade de Deus, tais religiões impedem mulheres, em acordo com seus livros sagrados, de ocuparem cargos de liderança ou sacerdócio dentro das comunidades religiosas, em uma perspectiva ortodoxa. É interessante questionar-se acerca das razões que motivam tal segregação feminina. Os motivos teriam a ver com o suposto fato de que Deus quis revelar à humanidade, através de tais grandiosos sistemas de crenças, sua vontade em relação à posição da mulher? Ou teriam a ver com o fato de essas três religiões monoteístas terem se originado no seio de sociedades patriarcais e até mesmo opressoras em relação ao feminino? Na verdade, me parece ainda mais pertinente e instigante questionar-me sobre quem legitima a nós que isto ou aquilo é, sem sombra de dúvidas, a vontade de Deus. Estas coisas nos seriam dadas através de sonhos, revelações, livros sagrados, profetas, mártires? O quão confiáveis e imparciais e atemporais são essas fontes (Essa pergunta poderia estar sendo feita ou eu estou adotando uma postura de herege? Fés podem ser discutidas? Se sim ou se não, por quê?) ? O quanto seus discursos têm condições de serem sustentados em quaisquer sociedades humanas, tornando a cultura e os costumes locais como meros fatores irrelevantes? E será que essas fontes realmente não foram em nada influenciadas pela cultura de seus próprios meios sociais de origem? Se realmente não, ou seja, se realmente tudo o que apregoam vem do Divino, até que ponto realmente tudo o que apregoam vem do Divino? O que pode ser mais subjetivo do que aquilo que eu decido crer que seja a vontade de Deus? Se, segundo essas grandes religiões monoteístas, a vontade de Deus (sobre as mulheres) sempre parte de uma (coincidente?) convergência para a manutenção do modelo familiar patriarcal, então receio que haja apenas duas conclusões possíveis: ou o Criador decidiu fazer o ser humano mulher apenas para papeis secundários e/ou escondidos nas sociedades humanas (Quem sabe este Deus não seria um misógino não declarado? Ainda estou soando herege? Ou o leitor ainda não percebeu minha provocação?) ou então, na verdade, a questão maior do Cristianismo, do Islã e do Judaísmo não seja exatamente respeitar a vontade de Deus, mas tão somente perpetuar as tradições antiquadas e preconceituosas dos homens que fundaram tais sistemas de crenças_ tradições estas que, decerto, os beneficiavam e privilegiavam de algum modo, e, portanto, seria necessário que fossem perpetuadas através das gerações sendo protegidas pelo status que possuem de Lei Divina. A meu ver, aqui faz-se pertinente, portanto, o questionamento que John Stuart Mill estabelece em seu livro A sujeição das mulheres: Mas houve qualquer domínio que não parecesse natural para aqueles que o possuíam?
Posted on: Sun, 17 Nov 2013 01:30:31 +0000
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