“O ÚLTIMO ESTÁGIO DA DOR HUMANA.” – Rayo - TopicsExpress



          

“O ÚLTIMO ESTÁGIO DA DOR HUMANA.” – Rayo Francis. (Copyright © 2013 – Todos os direitos reservados ao autor.) Estava sentado, de braços cruzados diante da vida. O rosto estático, de semblante apático e olhar morto, denunciava um corpo vazio, quase sem alma... Sua aparente frieza e concentração era um profundo contraste com os gritos mudos que sua alma proferia, querendo livrar-se logo daquele corpo doente, mas dependia dele para por fim ao terrível sofrimento...! Pois, estava em suas mãos a chave para o esperado desligamento...! Estava sentado, de braços cruzados diante da morte. Queria se mexer, mudar de posição, mas faltava-lhe forças para mover um dedo sequer... Apenas respirava, sob o olhar sereno da morte. Envergonhado, queria agir, precisava agir, mas nada... Covarde, o corpo desobediente parecia dormir. Mas, nenhum dos dois arredava o pé dali. Já houve quem dissesse que ele foi alguém, mas quem? E se foi, de que lhe valeu? Já houve quem o motivasse a viver, mas para que? Se vivo estava, como um desfigurado zumbi, invisível para a sociedade...? Já houve quem afirmasse que a dor é passageira, mas para quando? Os anos sim, foram passageiros, mas ela só aumentava... Era a dor do corpo, a dor da alma, a dor que salga, que sangra...! As ricas memórias de uma vida repleta de feitos e vitórias já se apagaram... A certeza de uma velhice tranquila e aquecida de afeto e respeito lhe foi arrancada... Acompanhavam a sua triste jornada, a dor que não parava de consumir-lhe e a mão desumana do abandono: virou um traste, inútil e pesado demais, para ele e para os outros – sobretudo para àqueles que já dependeram dele – os que amava...! Sozinhos, um corpo, uma alma e a morte. Um trio esperando pela mesma sorte. Lá fora, ainda ecoavam ao longe as hipocrisias humanas: As mensagens instantâneas de amor à vida e ao próximo; a importância da fé em Deus, na amizade sincera da família, dos amigos; as vantagens de ser honesto, justo e bom... Era o ilusório consumismo salvacionista alimentando a fé dos que ainda podiam lutar de pé, podiam sorrir, podiam andar, para serem escravos úteis da máquina dos apegos e das insanas satisfações mundanas...! Lá dentro, a dor constante de uma alma que grita sem voz, e que chora sem lágrimas, ensanguentada, despedaçada, esquartejada, sem dó, apoio nem consolo... Prisioneira de um corpo fraco, frouxo, frágil, que mal respira, mas que, instintivamente sobrevive sem viver, ocupando um espaço que já não o suporta, um embrulho inútil de vida morta... Defronte, em silêncio, a morte. A sua bendita sorte. A mão amiga que livra a alma eterna do peso do corpo encarniçado, mas que não pode tocá-lo porque não é assassina! A morte é apenas a emissária de um passaporte, mas precisa de alguém que assine o visto, com o sangue do viajante... Mas, ela é a funcionária mais doce e paciente do universo. Nunca se intromete, nunca intervém, nunca se move, apenas sorri para o moribundo, generosamente, como quem diz, com uma voz pausada e aveludada: - Arrume suas malas com calma. Eu espero o tempo necessário. Rayo Francis. (Texto do livro: “Crônicas da Depressão”.) PS: O objetivo desse trabalho é dividir uma pedacinho da terrível realidade de alguns pacientes com depressão severa, com o nobre intuito de orientar aos parentes e amigos dessas vítimas que procurem compreender essa dor da alma, e que nunca lhes abandone, nem lhes virem as costas... A atenção, o afeto e o respeito podem ser remédios poderosos, e são gratuitos para quem doa, mas caríssimos para quem os recebe. REPASSEM. SEJAM PORTADORES DE BOAS ATITUDES E INICIATIVAS. GRATO.
Posted on: Tue, 27 Aug 2013 18:39:27 +0000

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