“Os papéis passaram-se rápidos e cortaram-me o pulso, há um - TopicsExpress



          

“Os papéis passaram-se rápidos e cortaram-me o pulso, há um sangramento em uma paisagem horizontal. Há também arranhões no piso rústico desde a última vez que uma flor explodiu em uma dor cardíaca e eu o risquei com minhas unhas e meus ossos estalaram no meu contorcionismo. Deitei o meu rosto no chão frio, sem compreender o porquê desta necessidade de querer fundir-se com o solo, vi os vultos correndo nas arestas da porta e senti o tiro das nuvens em uma sincronização assombrosa com o suicídio das minhas lágrimas. A vontade do grito que me consome internamente, o desejo de estourar os tímpanos de todos os surdos que plantaram grades de aço no meu quintal; de abrir suas bocas até as maçãs rasgarem e a mandíbula se quebrar para que a voz destes fuja; agarrar seus pulsos e esfregar suas mãos pelas texturas e traços do mundo para que estes humanoides possam sentir, que sintam a faísca, o espinho, a delicadeza, a dormência; enforcá-los e chacoalhar seus pescoços até que fiquem tontos e suas pupilas saiam do campo de visão centralizado de seus narizes; simplesmente focá-los no mundo ou em seus estados como cru ou cruéis, para que eles possam ver além das superficialidades e sintam-se nus, ensiná-los a compreender como tudo flui mas continua intacto, em como as folhas dormem ou os sábias cantam e algumas serpentes chocalham. Explodir um meteoro dentro de uma de suas cáries para que eles flutuem em estilhaços. Provar à eles de que o silêncio é um tumulto e que a mudez pode fazer com que os ouvidos sangrem, mas também consegue te fazer circular por entre os pontos e ligações. À partir do silêncio, nós conseguimos ser complementares, céu intocável e belo mesmo quando somos cinza; aura, que infla os corpos secos e enrugados pela rotação terrestre; planetas, estrelas e meteoritos em um choro e mudez cadentes que pedem para si o cessamento dos chumbos certeiros que nadam nos ares e do caos que nos incendeia, só por um segundo o universo conspira ou suspira por ti, dentro das células sanguíneas e partículas atômicas. Curvas conexas e crônicas de correntes de papel e cristal, assopros nos epitélios e uma meditação sintônica com os temporais e chuviscos, nuvens e água, caule e espinho, abstrato e só. Memória que pulsa em atos errantes o som da gota sobre a folha ou do grito no ápice de uma insanidade sã, tecidos florais e seda e lã aproveitam da lua pra usar o meu coração de concha e mares eclodem nele, movimento-me nas ondas e metade dos meus estrondamentos são espuma. A minha afonia é cancerígena e está enraizada na ponta dos dedos.” — Vinicius Valentim
Posted on: Thu, 19 Sep 2013 00:46:20 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015