PARA LER E REFLETIR :NÃO PRECISA CONCORDAR , sobr ea posição - TopicsExpress



          

PARA LER E REFLETIR :NÃO PRECISA CONCORDAR , sobr ea posição os manifestantes , mas ajuda a entender . A adesão de grande parte das pessoas, estimuladas pela mídia, às manifestações, está de acordo com as propostas genéricas que vi surgirem numerosas na multidão. E a adesão à agressividade contra os partidos em geral encontra sua explicação na distância que esses partidos sempre mantiveram da maioria – apesar de defendê-la e ter a pretensão de falar em seu nome –, no comportamento histórico dos partidos em geral e no condicionamento permanente da mídia. Com televisões em 99% dos lares brasileiros, os meios de comunicação dominantes anestesiam as consciências, criam valores falsos, impõem comportamentos consumistas e competitivos, plantam verdadeira repulsa pela política e pelos políticos. Afinal, são reles marionetes, em sua esmagadora maioria, fáceis de trocar se for preciso acalmar a fúria do povo, para criar uma impressão de mudança, continuar mentindo e distorcendo a realidade. E, sobretudo, pros reais poderes, os econômicos, continuarem dominando a sociedade. EDUARDO MARINHO: Se eu pudesse falar com a esquerda....(Texto reproduzido na integra do blogueiro e escritor Eduardo Marinho) segunda-feira, 24 de junho de 2013 Se eu pudesse falar com a esquerda... Tenho um apanhado de informações a respeito das grandes manifestações, vídeos, textos, mas ainda estão bem desorganizados. Tenho minha vida pra levar e o que paga minhas contas são as coisas que faço com as mãos. Não tenho muita folga neste sentido, não tenho salário e ganho só com as vendas de desenhos, basicamente, mas também pinturas, livros, zines e outras coisas esporádicas. Devo organizar tudo, provavelmente acrescentar algo que me chegue, depois pretendo postar. Por mim, será a próxima postagem. O texto abaixo se deve aos últimos acontecimentos, a rejeição dos partidos e bandeiras nas últimas manifestações, as infiltrações sujas nos movimentos, o "apoio" cooptador da mídia, esvaziando as propostas reais com uma quantidade enorme de propostas vazias. Enfim, velhas táticas de dispersão. Confesso que estou pegando antipatia pela palavra fascista. É o insulto mais utilizado no momento pelos meus camaradas de esquerda, de todos os tipos e variantes que podem ser classificados assim – embora alguns poucos tenham a mesma postura intolerante, arrogante e agressiva dos fascistas. Agora qualquer um que esteja envolvido na bandeira do país é taxado de fascista. Qualquer rejeição aos partidos políticos é fascismo. Isso é uma redução simplória e capenga. Não é porque os fascistas se apegam neste e em outros símbolos “pátrios” que qualquer um com a bandeira faça parte desse grupo tão insignificante no meio da população tão vasta. Há quem use a bandeira por amor, os siglescos e partidários parecem não perceber a desideologização e os condicionamentos dominantes. Inclusive a rejeição à política e aos políticos. Desde há muito tempo percebi a arrogância das esquerdas doutrinárias. Estava ainda na faculdade, em 1980 – ao entrar me encantei com as teorias esquerdistas, com os estudos que revelavam os porquês da pobreza, da miséria e apontavam caminhos pra superar essas condições –, participando dos debates, das discussões e de algumas ações de rua, meio espantado com a rivalidade entre grupos que discordavam, violentamente, se insultando por pensarem diferente, insultos pesados, morais. Sempre estranhei isso. Depois percebi a falta de penetração nas classes periféricas, o isolamento em que essas pessoas se colocavam, restritas às academias e às suas agremiações, o que fazia que manifestações de rua fossem vazias de gente comum, a esmagadora maioria, e me parecessem melancólicas, infrutíferas, sem nenhum resultado real de contaminação e mobilização do que chamavam de “as massas”. Aquele monte de bandeiras, palavras de ordem repetitivas, punhos erguidos – e as pessoas atravessavam a rua pra evitar o contato. Eram como clubes fechados, barulhentos e chatos. Os militares já agonizavam na gerência da ditadura e a mudança de fachada era iminente. Eu aproveitava qualquer oportunidade pra viajar de carona, pras aldeias e povoados bonitos, cachoeiras e matas e praias, a descarregar e pensar minhas angústias da vida, num momento tão decisivo quanto o final da adolescência e o início da juventude – havia servido o exército dos 16 aos 17 anos. Não sabia o que fazer da vida e o que me ligava à universidade – estudava direito, mas não tinha o menor pendor nem pretendia ser advogado – era muito mais o sentimento de dívida com a família e o movimento estudantil efervescente, que já começava a me desencantar. Nos momentos de convívio com os mais pobres, percebia a distância entre aqueles “revolucionários” e a população. E o que tinha me parecido solução pras injustiças sociais foi se diluindo aos meus olhos. O grupo dominante na política estudantil, na época, era o PC do B, stalinista – na época. Mas havia uma constelação de agremiações e fui pulando de uma pra outra, sem nunca me filiar, encontrando sempre uma arrogância, uma intolerância, uma certeza religiosa de saber o caminho certo (o “único”), que me causava certa repulsa. Eu não tinha certeza de nada e me sentia desrespeitado a cada vez que não me deixava convencer por aquelas certezas e mantinha minhas dúvidas – as acusações e os insultos eram inevitáveis. Por fim, me refugiei entre os anarquistas, me sentindo mais respeitado, mas percebi que eles não respeitavam os outros grupos e os ridicularizavam e provocavam por sua vez, da mesma maneira ácida e insultuosa. Com o esboço de consciência que já tinha da existência da enorme maioria despolitizada nas periferias, na pobreza, nas classes baixas e médias, constatei a esterilidade social dos universitários, sua distância da realidade popular – “por aí não vai”, concluí. Por esse e muitos outros motivos pessoais, larguei a escola, pus uma mochila nas costas e “sumi no mundo”, peguei a estrada. Aprendi artesanato e passei a viver nas periferias, vivendo nas ruas e estradas, morando em casebres de taipa, de palha, em pardieiros e puteiros, expondo meus trabalhos nas calçadas, nos bares da noite. Nestes, às vezes, encontrava pessoas daquele tipo engajado, com suas crenças, mas já não os levava a sério, onde eu vivia não se sentia seu cheiro, eram ausentes no meio do povo, restritos ao meio acadêmico, ao meio partidário, aos auditórios. Sentia agora, neles, preconceito, ingenuidade e a mesma arrogância de sempre, o que confirmava minha impressão de que, por ali, jamais viria uma revolução de verdade. Em minha própria arrogância, achava que se eles fizessem como eu e fossem viver em meio à pobreza, as “massas”, com humildade e espírito de serviço, haveria mais chance de conscientizar partes mais significativas da população e espalhar uma visão mais clara da nossa sociedade. Mas não, fechados em seus grupinhos socialmente insignificantes, discutiam e esbravejavam disputando qual o caminho pra “conduzir as massas”, numa ilusão a meu ver absurda e ingênua. Em seu sentimento de superioridade intelectual, não aprendiam as linguagens da população e esperavam que esta os seguisse, por algum motivo que não entendo até hoje. Com o tempo, percebi que eles também eram condicionados a terem medo das áreas pobres, das favelas, das periferias, por não as compreenderem, por não conhecerem seus códigos e costumes e pelo sentimento de superioridade intelectual, que também fragiliza. Como disse Darcy Ribeiro, em Confissões, há grandes e excelentes intelectuais analfabetos ou semi-alfabetizados - em outras palavras, mas isso mesmo (Confissões, pp 169). Vivendo no meio dos despossuídos, sentindo em minha própria vivência as precariedades materiais, aprendendo, ávido, os valores espontâneos que brotam ali, os códigos de comunicação, o desenvolvimento intuitivo, percebi a profundidade da penetração do sistema com a força da mídia, alienando, distorcendo a visão de mundo, provocando sentimentos de inferioridade diante dos “ricos”, os mais bem vestidos, os de curso “superior”, que moravam em casas “boas” e tinham carro – um abismo intransponível. Apesar disso, fui crescendo em respeito pela força que eu via na sobrevivência, no dia a dia, na capacidade de superação de imensas dificuldades cotidianas, pelos saberes que passam despercebidos dos revolucionários de auditório e academia. Peguei antipatia daquelas bandeiras partidárias, dos gritos de ordem, dos punhos fechados, dos grupelhos intelectualizados cheios de soberba e sem nenhuma penetração no meio popular, afora algumas exceções insignificantes. Não era uma antipatia pessoal. A identidade da motivação - a inconformação diante da miséria, da exploração, das injustiças sociais - mantinha o afeto. Mas lamentava sua distância da maioria, achava um desperdício tanto conhecimento da realidade tão incapaz de se comunicar. E percebia, à minha volta, o sentimento de estranheza e repulsa com relação a esses mesmos grupos, que “falam uma língua que a gente não entende e chegam querendo mandar”. As raras vezes que via tentativas deles em se comunicar, era evidente a impossibilidade. Seu linguajar rebuscado – e creio que essa é a melhor forma de manter o conhecimento restrito a pequenos grupos, sem uma proibição formal – causavam imediato desinteresse na audiência já escassa. E eles se retiravam irritados com a falta de interesse da população, “muito ignorante e alienada”, voltando a se restringir às bolhas acadêmicas, sem questionar a própria incapacidade de serem entendidos. Estavam ali pra ensinar, como quem faz um favor. O orgulho cega. Continua... Enquanto isso, via a televisão conservadora se comunicar de forma perfeitamente compreensível com todas as camadas da população, falando alternadamente a língua de cada “público alvo”, mentindo, enganando, induzindo, deformando a realidade como sempre, com uma eficiência invejável. Dentro do meu alcance, eu tentava desfazer essas mentiras e tinha alguma eficiência, porque falava na língua que eu aprendera nas periferias, onde eu vivia, usando palavras, expressões, gestos, interjeições familiares aos meios, sem impor nada, sem nenhuma verdade, com a humildade de quem tem opiniões, mas não certezas, e colhia compreensão, sentia enorme prazer ao perceber pessoas vendo o que não viam antes e concluindo por conta própria as evidências que eu tentava demonstrar sem arrogância, de igual pra igual. Eu já tinha percebido a precariedade dos conhecimentos acadêmicos diante da sabedoria popular espontânea que rolava à minha volta – e isso quebrou aquele sentimento de superioridade tão comum aos acadêmicos, tão estimulado pela própria academia e tão esterilizante no contato com a população. O saber acadêmico freqüentemente resvala pra arrogância, enquanto a sabedoria contém em si a humildade - ou não é sabedoria. Muitas vezes expus meus trabalhos em universidades, por esse Brasil afora e ao longo dos anos. Percebi o processo que chamei de “despolitização da estudantada”, entre a tristeza e o desânimo. As academias estavam sendo infestadas pela mentalidade empresarial, que se infiltrava nas escolas e as colocavam a serviço dos seus interesses. Cada vez mais eram desvalorizadas as ciências sociais e priorizadas as ciências tecnológicas, um processo, aos meus olhos agora bem externos, gradativo e implacável. Os grupos “revolucionários” estavam cada vez mais isolados, cada vez mais repelidos, cada vez mais fechados. Eles sentiam, lamentavam, mas não percebiam em si, nos seus sentimentos, valores e comportamentos boa parte da causa desse isolamento. Isso me causava um sentimento muito ruim com relação a eles, de forma geral. Uma espécie de raiva, não essa destrutiva, odiosa e violenta, mas como uma raiva em família, como a que se sente por um irmão arrogante e metido, cheio de verdades precárias, que desperdiça oportunidades de ser útil à causa comum – a repulsa às injustiças sociais, a solidariedade com os sofrimentos da maioria, o desejo de mudança nas estruturas da sociedade me dava o sentimento de união. Presos a velhas fórmulas, repetiam os mesmos comportamentos já desqualificados pelo trabalho eficiente da mídia e eram rejeitados pela massa da população, conduzida pelos condicionamentos do inconsciente. Sem se dar conta, confirmavam esses condicionamentos com seu apego às velhas palavras de ordem, sem se renovar, sem se misturar com a população, condicionados por sua vez aos sentimentos de superioridade, de posse da verdade, de certezas precárias e imutáveis. Gerações de estudantes passavam e continuavam repetindo os mesmos comportamentos, os mesmos sentimentos, os mesmos argumentos, as mesmas palavras, as mesmas discordâncias entre as mesmas correntes e tendências, os mesmos insultos. Desacreditei da mudança vinda por ali, concluí que o mundo está em constante mutação, embora por demais lenta pro meu gosto, me apliquei na minha própria mudança pessoal, em meus sentimentos, visão de mundo, nos comportamentos e nos condicionamentos que agora reconhecia em mim mesmo. E me contentei em colocar minha vida na direção das mudanças que eu desejava, procurando antes mudanças internas, mas aplicando em meu trabalho as minhas propostas básicas – sensibilizar, esclarecer, questionar, conscientizar. Já não esperava ver a sociedade dos meus sonhos, igualitária e centrada no ser humano, mas perderia o sentido na vida se não a colocasse na direção desses sonhos. Trabalhar pela mudança, sem esperar colher os frutos desse trabalho, a não ser vendo as pessoas refletindo e enxergando as mesmas coisas de sempre com outros olhos. Era isso que me realizava, procurando exercer o meu trabalho pessoa a pessoa, com humildade e constância, sem impor verdades, mas opiniões, sem doutrinar, apenas questionar e sugerir. Isso era bem eficiente, pois deixava margem à discordância sem criar discórdia, sem cobranças ou acusações. Várias vezes tive o privilégio de ver pessoas concordarem comigo depois de discordarem em muitos encontros, pelo simples fato de eu ter respeitado as discordâncias sem acusar ou insultar – o que permitia que as portas ficassem abertas e o tempo e as coisas fizessem seu trabalho. A meu ver, a mudança coletiva se daria com muito tempo, mais do que minha vida, resultado da evolução individual de cada um e dos agentes de conscientização que eu já percebia no meio da população, sem ideologias pétreas, trabalhando muito mais o sentimento, a intuição, do que a razão e as convicções. Era, a meu ver, um processo planetário com o ritmo da natureza. Tive a oportunidade de encontrar, muitos anos depois, com vários dos meus colegas de faculdade, já formados, casados, enquadrados, aqueles mesmos revolucionários de várias linhas. Encontros melancólicos e fúnebres, pois o veio revolucionário havia morrido. Sem nenhuma exceção, estavam todos amargurados e descrentes, “isso nunca vai mudar”, vivendo vidinhas convencionais de emprego, consumo e contas. Alguns viraram empresários e exploravam seus empregados, como antes execravam, e sinalizavam a angústia raivosamente, “já que o mundo é assim, vou é tratar da minha vida”. Os novos estudantes falavam igualzinho a eles no tempo da faculdade, o que já anunciava seus caminhos. Depois de formados, vão se lembrar desses como “os tempos em que eu pensava em mudar o mundo”, como se fosse uma ilusão adolescente e inconsistente – e da forma que viviam e se comportavam, era mesmo - exatamente como os meus ex-colegas ex-revolucionários. Deixei de expor nas universidades e passei a freqüentar os meios sindicais pra vender o meu artesanato reflexivo, com boa receptividade. Gostaria de descrever as mudanças que foram acontecendo nesses meios, à medida que iam se colocando nas estruturas institucionais do “poder”, mas o texto ficaria por demais extenso. Pra resumir, com o passar dos anos fui vendo esses movimentos sindicais sendo engolidos pelas convenções, à medida em que iam se aboletando gradativamente nos poderes constituídos, se aburguesando, se esvaziando daquela sede de mudança que eu achava tão bonita. Mantinham-se as mesmas bandeiras, mas o conteúdo ia piorando, a meu ver. Da mesma forma que repelia essas mudanças pra pior, eu me sentia pouco a pouco sendo repelido. Participava das passeatas e manifestações, mas lamentava o isolamento constante desses grupos, sem que eles fizessem muita coisa pra mudar isso, sem se misturar com a população “ignorante”, apesar de muitos terem sua origem nela. A última vez que me engajei de corpo, alma e trabalho numa campanha político-partidária, foi em 1989. Vou dar um pulo na história. Nos últimos tempos, com essas manifestações em massa iniciadas por um grupo de esquerda (MPL) e logo estendidas e incorporadas por milhões de pessoas – a maioria sem nenhuma identidade com esses grupos, mas pressionada por uma situação social absurda – os partidos de esquerda encontraram uma rejeição inesperada às suas bandeiras. Cegos em seu umbiguismo egocêntrico, não perceberam a decepção popular com essas agremiações, muitas delas já estabelecidas nos poderes vigentes visíveis – enquanto os verdadeiros poderes permanecem invisíveis à esmagadora maioria. Era de se esperar mudanças reais com a chegada dos antigos partidos de esquerda no governo dessa estrutura que mantém milhões na exclusão, na exploração, na ignorância. Mas a vida continua um inferno e o massacre, constante. No transporte público, nos direitos trabalhistas destruídos, nos maus tratos das instituições públicas, a vida piora a cada dia. As entidades que se dizem revolucionárias estão, no olhar da maioria da população, desmoralizadas, o que vejo é que não se acredita nelas – a mídia difama rotineiramente e seu comportamento não convence do contrário. A ignorância da linguagem, dos códigos e costumes dessa maioria periférica não permite a comunicação das entidades "mais à esquerda" com a esmagadora maioria. Na manifestação do dia 17 de junho eu percebi claramente a rejeição às bandeiras partidárias, na fisionomia das pessoas, nas reações à minha volta – não gosto, nessas ocasiões, de estar nos grupos engajados, prefiro estar solto no meio da multidão. Creio que assim avalio melhor o efeito das propostas e ações que pretendem mudar essa estrutura social nojenta. Mas ainda não havia a franca hostilidade que percebi no dia 20, a maior manifestação que vi, desde a das "diretas já". Estava com o Wesley Denílio na praça da Candelária, assistindo às falas que se produziam, aparentemente espontâneas, e vimos um grupo chegando em fila e indo para perto de onde se falava. Colocaram-se lado a lado e, de repente, levantaram um monte de bandeiras e faixas vermelhas, atrapalhando nossa visão e a de todo mundo daquele lado. Nós nos olhamos, puta que pariu, já chegaram os partidários, com sua costumeira falta de respeito, fazendo o merchandaise, o márquetim das suas siglas, sem se ligar na antipatia que isso causa nos outros. São convictos da sua própria importância, da sua superioridade intelectual, ideológica, moral e social, numa arrogância estúpida e contraproducente. A mídia, os governantes, inicialmente contrários às manifestações, que foram brutalmente reprimidas, mudaram de postura ao vê-las crescer e agora diziam apoiar e entender – mentira, não estavam entendendo nada, apenas faziam seu jogo, apavorados com a dimensão alcançada. Com a penetração e a mentalidade construídas pelos meios de comunicação privados, foram introduzidas idéias vagas e vazias, “contra a corrupção”, “pela paz”, eslôgans midiáticos, “sou brasileeeiroo, com muito orguuuulhoo, com muito amoooooooooooor...”, palavras de ordem dos conservadores apoiados pela mídia, “fora Dilma”, “governo corrupto” e outras expressões dos conservadores golpistas. Os engajados, em seu isolamento e arrogância, não esperavam, por não conhecer, a rejeição às suas bandeiras e propostas repetidas e contraditas pela aparente esquerda que chegou ao poder visível, o governo. Nem perceberam que as enormes diferenças entre suas correntes e entidades não aparecem aos olhos da maioria. Pro povo, são todos a mesma coisa. E o povo se sente traído pela esquerda – também é uma percepção minha, apenas uma opinião – encontrando respaldo e estímulo constante na mídia, essa sim, eficiente na comunicação com a massa. Pequenos grupos, esses realmente fascistas, encontraram um campo fértil pra contaminar com sua psicopatia raivosa. Os grupos revoltados com sua própria situação social, pressionados e massacrados em sua vida cotidiana, aderiam com facilidade a esses repulsivos comportamentos. Ali mesmo Wesley e eu vimos o primeiro estranhamento, quando alguém de um grupo aparentemente anarquista, depois de gritos de “abaixa a bandeira” - dos quais participei, me sentindo desrespeitado pelo bloqueio da minha visão - puxou uma bandeira pra baixo quando ela passou sobre nossas cabeças. Houve um princípio de tumulto rapidamente contornado. Era o primeiro sinal que eu via claro da rejeição generalizada. Eram bandeiras vermelhas. Havia um grupo de amarelas, mas eles pelo menos estavam de lado, na beira da praça, e não atrapalhavam ninguém. Coros de “sem partido” brotavam aqui e ali. E não me pareciam de grupos organizados, mas sim uma rejeição construída pelo sentimento de que essas bandeiras eram parte do sistema enganador, haviam perdido o pouco crédito que um dia tiveram, pelas suas próprias características que colaboravam com a difamação midiática pesada. Os infiltrados faziam seu papel, alguns juntos com os psicopatas hidrófobos. Vendo as reações raivosas, segurei minha rejeição, achando exagerada a animosidade contra eles. Não tenho raiva deles, repito, apenas discordo dos seus sentimentos e ações, por não ver resultados palpáveis. Fariam melhor, sempre na minha opinião, se se espalhassem pelas periferias com humildade – o pensamento que há mais de trinta anos mantenho –, aprendendo primeiro a respeitar os saberes populares, sua linguagem, seus códigos, convivendo de igual pra igual, pra depois passar sua visão de mundo não como verdades incontestáveis e sim como sugestões para reflexão, como questionamento dos valores impostos, da visão de mundo implantada, com respeito, com afeto. Mas não, se agrupam, andam em bandos, criticam, condenam e insultam os que discordam ou não estão em condições de concordar. E assim fecham as portas da receptividade necessária à conscientização, isolam seus grupos, esterilizando-os. E, absurdamente, não se dão conta, não conseguem olhar pra si mesmos e reconhecer que alimentam a rejeição, com sua inflexibilidade, com seu sentimento de superioridade que ofende e afasta as pessoas. Hoje penso que, se os que se julgam revolucionários tivessem se espalhado no meio da população das periferias naquela época, há trinta anos – ou antes – descendo dos seus pedestais acadêmicos ou partidários, fazendo o trabalho de conscientização com humildade e afeto, com tolerância e persistência, duvido que essas infiltrações raivosas e fanáticas surtissem um efeito tão devastador. Não estou falando da doutrinação que chamam de formação política, mas de esclarecimento, com respeito às opções de cada um. Agora é hora de fazer um exame em si mesmo, com profundidade, sinceridade e humildade - apenas uma sugestão. Constatar que, apesar de ter as injustiças sociais como foco principal, os grupos de esquerda nunca representaram as massas populares. Entre tantos motivos, pelo fato de não as compreender, não as respeitar e nem falar uma língua que se entenda. A linguagem popular precisa deixar de ser tratada com desprezo, porque é preciso se comunicar com o povo, a parte mas sacrificada, a grande maioria. Com respeito, com cuidado, com carinho e com humildade. E de forma serena, tolerante com as opiniões condicionadas, tratando de esclarecer sem doutrinar. De aprender antes de ensinar e seguir aprendendo enquanto se ensina. A sabedoria é, a meu ver, muito superior ao saber. A revolução de verdade começa dentro da gente. E não apenas lendo, estudando os ícones das esquerdas, mas no próprio comportamento, nos valores, nas relações com pessoas, com as idéias diferentes, com atenção ao linguajar, aprendendo mais que ensinando aos que pra sobreviver precisam se superar a cada dia, encarando dificuldades permanentemente. É preciso parar de insultar e rotular tudo o que não está de acordo com o que se acredita. Nem todo mundo que veste a bandeira brasileira é fascista. A maioria não tem ideologia politizada, nem sabe o qie significa essa palavra. E é essa maioria que devia estar no foco dos revolucionários, desde sempre. A adesão de grande parte das pessoas, estimuladas pela mídia, às manifestações, está de acordo com as propostas genéricas que vi surgirem numerosas na multidão. E a adesão à agressividade contra os partidos em geral encontra sua explicação na distância que esses partidos sempre mantiveram da maioria – apesar de defendê-la e ter a pretensão de falar em seu nome –, no comportamento histórico dos partidos em geral e no condicionamento permanente da mídia. Com televisões em 99% dos lares brasileiros, os meios de comunicação dominantes anestesiam as consciências, criam valores falsos, impõem comportamentos consumistas e competitivos, plantam verdadeira repulsa pela política e pelos políticos. Afinal, são reles marionetes, em sua esmagadora maioria, fáceis de trocar se for preciso acalmar a fúria do povo, para criar uma impressão de mudança, continuar mentindo e distorcendo a realidade. E, sobretudo, pros reais poderes, os econômicos, continuarem dominando a sociedade. FONTE:observareabsorver.blogspot.br/2013/06/se-eu-pudesse-falar-com-esquerda.html#more Postado por José Eduardo Brondi Brondi
Posted on: Sun, 30 Jun 2013 10:01:32 +0000

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