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Para aula de teologia do SECULO XX nessa segunda-feira na ESTEF Jürgen Moltmann Publicado por Jblibanio em 13/5/2012 (1204 leituras) Jürgen Moltmann A intenção de outorgar a Jürgen Moltmann um doutorado honoris causa por uma Universidade Católica no Brasil funda-se no seu significado importante para a nossa realidade teológica e para o diálogo ecumênico. A teologia católica no Brasil mantém excelente diálogo com a teologia protestante das Igrejas oriundas da Reforma e para as quais a figura de Moltmann tem relevância. Além de ter visitado várias vezes o país, manteve diálogo teológico com a teologia latinoamericana. Já desde o início a teologia da libertação se nutriu do pensamento de Moltmann, encontrando semelhanças e diferenças [H. Assmann, Teología desde la práxis de la liberación. Ensayo teológico desde la América dependiente. Salamanca: Sígueme, 1973, p. 86-88] Apesar das críticas que ele fez à teologia latinoamericana, apreciamos o valor de seu labor teológico e lhe agradecemos ter aceitado o debate. Da seriedade dele todos nos enriquecemos [G. Cook, La teología de J. Moltmann y la teología latinoamericana, in F. Hinkelammert: Teología alemana y teología de la liberación. Un esfuerzo de diálogo. San José: DEI, 1980, p. 85-102]. Reconhecemos nele um dos inspiradores da teologia da libertação com a paradigmática obra Teologia da Esperança que se transformou também numa esperança para a teologia. Conseguiu traduzir para a realidade de hoje, marcada por tanta injustiça e desigualdades sociais, as esperanças bíblicas. Marca-lhe o pensamento a dimensão escatológica da existência humana. Em profunda ressonância com o Concílio Vaticano II, especialmente com a Constituição Pastoral Gaudium et spes, a valorização da ressurreição de Jesus, como sinal da presença do fim já a acontecer nos sinais do Reino e como esperança da realidade definitiva a realizar-se na plenitude, tem animado as comunidades cristãs na luta pela justiça, sem esmorecer nem deixar-se seduzir por ideologias materialistas. A centralidade escatológica do pensamento de Moltmann tem-nos alimentado constante compromisso com a libertação dos pobres. No discurso inaugural da Conferência dos Bispos da América Latina em Aparecida, Bento XVI lembrava-nos a implicação cristológica da opção pelos pobres. Sem dúvida, o pensamento teológico de J. Moltmann tem-nos servido para fundamentar biblicamente o significado do Reino de Deus, da presença da Trindade, do sentido da criação para nossa teologia e pastoral às voltas continuamente com o problema da justiça e das exigências do Evangelho. A outorga do Doutorado a Jürgen Moltmann revela nossa gratidão por suas mundialmente reconhecidas obras teológicas e abre-nos espaço para avançar no diálogo ecumênico. Naturalmente não cabe justificar a relevância das conceituadas e amplas publicações do autor alemão. Entra em questão para nós o quanto um teólogo europeu, labutando em outra região e de tradição protestante, aporta para o pensar teológico brasileiro e para a atuação pastoral. Nesse breve arrazoado justificativo, salientamos, além da obra pioneira da Teologia da Esperança que esteve no berço da teologia latinoamericana, a leitura do Deus crucificado que ilumina a existência humana, especialmente a dos sofridos de nosso Continente. Quantos em nossos países gritam, como Cristo na cruz, a Deus do profundo de seu sofrimento e se sentem tocados pela interpretação de J. Moltmann, ao pôr na boca de Deus dirigindo-se a Cristo: “Abandonei-te por um breve instante, para que te tornasses irmão dos homens desamparados e para que, em tua comunhão, nada mais pudesse separar qualquer pessoa de nosso amor. Não te abandonei eternamente, mas estive contigo em teu coração”. A beleza dessa frase já aponta a atualidade dessa leitura do sofrimento de Cristo na cruz para nossa realidade. A atualidade de J. Moltmann vai além do período que alimentou os primeiros passos da teologia latinoamericana. No momento, a preocupação ecológica cresce. E, de novo, Moltmann nos enriquece com o maravilhoso livro de Deus na Criação. A própria vida de Moltmann o preparou para trabalhar com verdadeiro pathos a teologia da esperança, da cruz, da nova criação. Nascido em Hamburgo na Alemanha em 1926, de origem familiar protestante liberal, no final da adolescência conheceu os horrores da guerra, ao ver sua cidade natal ser destruída pelo bombardeio inglês com o saldo de 40 mil mortos. Experimentou as agruras de prisioneiro de guerra na Bélgica, Holanda. Nessa dura situação de sofrimento até as raias da desolação, ele se defronta com a fé cristã, fonte de esperança para dar conta daquele momento existencial terrível. Entende-se que um homem, como este, articule também dois extremos da fé cristã. Num primeiro momento, estabelece a ressurreição como fonte de esperança e princípio para pensar a teologia: teologia da esperança. Noutro momento, mergulha no sofrimento humano até a amargura extrema e encontra na cruz de Cristo luz e princípio para teologizar. Prolonga tal reflexão para dentro da compreensão do próprio ser humano e do futuro da história. “No Crucificado está presente o final da história no meio das situações da história. Por isso se encontra nele reconciliação no meio da luta e esperança para superar a luta”. Serve de modelo para os teólogos da América Latina pelo fato de conjugar tão bem a vida pastoral e o labor teológico, a esperança gloriosa da ressurreição e a cruz de Cristo, a vivência do ser humano em terras europeias e a pertinência de um pensar antropológico para a situação de sofrimento, de opressão de tantos injustiçados de nosso país. Ele traduz, de maneira lúcida, a relevância da teologia da cruz de Cristo para a realidade dos povos crucificados. Dessa maneira, a fé em Deus crucificado ilumina a concepção de pessoa humana e a própria existência cristã. A obra de J. Moltmann vai muito além dessas já apontadas que tiveram amplo influxo em nosso meio. A marca trinitária de sua teologia, num momento cultural de religiosidade difusa, de diálogo com outras tradições religiosas, de um contexto de teologia negra e indígena de nosso Continente, assume importância singular. Na fé trinitária se mostram a novidade e a originalidade cristã, cuja consciência se faz tão necessária para qualquer diálogo. Seria longo percorrer a riqueza do pensamento de Moltmann. Mencionemos ainda um último ponto que nos animou a dar-lhe esse título de Doctor honoris causa. Na obra Deus na criação nos traz luzes para a crise ecológica que agita o Ocidente. Em oposição a uma razão instrumental devastadora, oferece a doutrina do Espírito que penetra todas as coisas e estabelece, habitando nelas, uma relação de comunhão. Substitui o nexo mecanicista de modo que as coisas são vistas numa relação entre elas de comunhão. Reage à maneira fragmentária de ver o mundo para inseri-lo em pensamento integrante, na perspectiva da aliança. Recupera o sentido originário de ecologia – ciência da casa -, ao entender que o Criador, através de seu Espírito, mora na sua criação como um todo e em cada uma das criaturas e as mantém unidas e vivas na força desse mesmo Espírito. Por todos esses méritos teológicos de valor universal e de relevância especial para nosso contexto de América Latina, julgamos a J. Moltmann merecedor de nosso apreço. E, de modo simbólico, o exprimimos pela outorga do referido título. J. B. Líbanio 31 de maio de 2010 0 Comentário
Posted on: Sun, 17 Nov 2013 18:42:57 +0000

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