Pelos trilhos de Percival Farquhar - Imagens 01.09.13 (44 - TopicsExpress



          

Pelos trilhos de Percival Farquhar - Imagens 01.09.13 (44 fotos) Pelos trilhos de Percival Farquhar Em meio às comemorações do 101 anos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em Porto Velho/RO, parte do patrimônio permanece esquecida e ameaçada por usinas hidrelétricas - imagens dos trechos entre Jaci - Paraná, Mutum Paraná e Abunã todos distritos de Porto Velho - imagens em 01.09.2013 Nas últimas décadas, trilhos foram furtados, estações estão caindo aos pedaços, e as locomotivas formam um cemitério em Porto Velho. Para completar, duas usinas hidrelétricas estão sendo construídas nesta região, a de Santo Antônio e Jirau. Parte da lâmina d’água e das obras estão destruindo trilhos, algumas construções antigas e um pequeno trecho perto de Porto Velho. “As hidrelétricas estão empurrando as medidas com a barriga. Ficou evidente que não se sentem compromissadas com o patrimônio. Um dos problemas mais recentes foi o enchimento do reservatório da Hidrelétrica de Santo Antônio, maior que o previsto. A água acabou alcançando uma ponte que fazia parte da ferrovia, no distrito de Jaci Paraná. E o pior de tudo: com a conivência do governo estadual. “Os deputados de Rondônia criaram uma lei, em 2007, que desprotegia alguns trechos da estrada que seriam cobertos de água pelas hidrelétricas. Isso foi feito por debaixo dos panos. Já a proteção do Iphan foi criada em 2005 e se restringe ao pátio ferroviário no centro de Porto Velho, a estrada de ferro até Santo Antônio, o cemitério de Candelária, onde eram enterrados os operários, e três caixas d’água do período da construção da estrada de ferro. Entre as medidas compensatórias, uma das mais interessantes e difíceis de serem realizadas é a reativação do passeio turístico de trem, criado nos anos 1980, do Centro de Porto Velho a Santo Antônio. O trajeto de sete quilômetros, que também será financiado pelas usinas, terá uma parada no meio do caminho, onde há diversas sucatas de locomotivas, o Hospital da Candelária e o cemitério de mesmo nome, criados para tratar e enterrar os trabalhadores da ferrovia nos primeiros anos do século XX. Um dos poucos responsáveis por divulgar a situação da EFMM, apelidada de “Ferrovia do Diabo”, foi o sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917), contratado em 1910 para controlar o avanço das epidemias de malária e de outras doenças tropicais, que só nos últimos cinco anos de construção mataram cerca de 1.600 pessoas. Há quem acredite que boa parte das mortes sequer entrou nas estatísticas oficiais. Cruz redigiu um relatório no qual descreve as péssimas condições dos trabalhadores, que chegavam em levas mensais de 300 a 350 pessoas, de diversos cantões do mundo. Ele afirmou sobre o então povoado de Santo Antônio, a sete quilômetros de Porto Velho: “A população infantil não existe, e as poucas crianças que se veem têm vida por tempo muito curto. Não se conhecem entre os habitantes de Santo Antônio pessoas nascidas no local: essas morrem todas. Sem o mínimo exagero, pode-se afirmar que toda a população de Santo Antônio está infectada pelo impaludismo”. A malária, também conhecida como impaludismo, atrasou ainda mais as obras da ferrovia, só finalizadas na terceira tentativa, de 1907 a 1912. Segundo Júlio CesarSchweickardt, pesquisador do Instituto Leônidas e Maria Deane, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), depois que os operários contraíam a doença, a produtividade caía a um terço, e eles não se curavam totalmente. “Era praticamente impossível eliminar a malária, porque havia muitos focos de criação de mosquitos e os trabalhadores resistiam ao tratamento com quinina, já que a droga poderia provocar efeitos colaterais como surdez e cegueira. Oswaldo Cruz foi chamado para tentar controlar a situação, mas também para neutralizar as críticas contra a ferrovia, já que ele era a principal autoridade em matéria sanitária na época”, afirma Schweickardt. Mesmo com o relatório de Oswaldo Cruz e algumas publicações como A ferrovia do diabo (Melhoramentos, 1981), primeiro livro sobre o tema, escrito por Manoel Rodrigues Ferreira, todas as tentativas fracassadas de construção da EFMM, suas vítimas e as décadas de abandono do patrimônio continuam esquecidos por boa parte da população. A situação só piora com a dificuldade permanente de se definirem os responsáveis pela ferrovia e seu acervo. Agora, em pleno ano do 101 anos, a estrada construída a ferro e sangue só escapará de ficar com parte de sua história debaixo d’água se as iniciativas tantas vezes anunciadas se tornarem realidade. Pelos trilhos de Percival Farquhar
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 04:31:49 +0000

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