Samba no Alto Laranjeiras – Uma ode a Zona Sul (B) A grande - TopicsExpress



          

Samba no Alto Laranjeiras – Uma ode a Zona Sul (B) A grande verdade é que eu nem queria sair de casa nessa noite de Sábado. Foram a inquietude da minha esposa e o convite de um grande amigo que me fizeram, então, dar uma passada no tradicional samba realizado na Quadra da Cardoso Júnior, em Laranjeiras. Eu não imaginava, confesso, que um batuque ao lado de casa me faria perceber tanta coisa sobre mim mesmo. Quem vai a um samba em Laranjeiras sabe que o clima é diferente dos demais sambas da cidade. Laranjeiras não é Lavradio, até lembra Santa Tereza e está anos-luz a frente das batucadas emergentes recheadas de maquiagem, ouro e salto-alto lá da Barra da Tijuca. Para começar: pode causar, para quem é de fora, um espanto a enorme profusão de camisas do Fluminense no local. Mas quem vai a um samba em Laranjeiras, sabe que o discurso do “somos todos menos alguns”, tão vendido pela grande mídia (e tão facilmente comprado pelos incautos), é daquelas falácias brabas que não se sustentam um segundo na vida real. Laranjeiras é terra dos filhos de Ézio, dos discípulos de Assis e das eternas namoradas de Renato Gaúcho. Laranjeiras é Fluminense, quer você queira ou não. Subindo a Rua Cardoso Junior, é impossível não pensar naquele que é um dos mais importantes e valorosos Blocos de Carnaval do país: o Cardosão de Laranjeiras. E foram os seus membros, todos eles rapazes cientes de que representam algo que é “MAIS QUE UM BLOCO”, que fui cumprimentando ao longo da minha subida. Chegando na quadra, fui tomado por um sentimento de pertencimento que, ultimamente, só tenho experimentado dentro das arquibancadas do Botafogo. Lá estavam amigos, conhecidos, antigas rixas, amores desfeitos, paqueras incompletas, desafetos declarados e todo o tipo de gente que, sozinha, parecia me lembrar de uma época diferente da minha vida de Zona Sul. O primeiro que avistei foi o Ique, uma lenda viva do Botafogo. (Na verdade, ele é uma lenda DE Botafogo). Fui diretamente lançado ao final dos anos 90, década que terminava já apontando o declínio do nosso time de coração. Eu era um moleque quando o Ique levava o Pólo-Aquático do Glorioso nas costas, pagando do próprio bolso as despesas do time e, principalmente, fomentando a presença da nossa torcida nas batalhas realizadas nas piscinas da Zona Sul. O respeito que tenho por ele é gigante, pois foi ele, o Ique, que despertou dentro de mim essa que é a primeira das virtudes do homem: a coragem. Não importava que do outro lado estivessem o dobro, o triplo!, de pessoas para enfrentarmos, seja no grito ou na porrada mesmo. Ique fazia a estrela solitária de cada moleque da Torcida Jovem do Botafogo brilhar mais alto, nos tornando verdadeiros espartanos do Mourisco, prontos para enfrentar quem estivesse na nossa frente. (A melhor coisa que fiz enquanto conselheiro do Botafogo foi votar a favor de sua benemerência no clube. Mais do que merecida). Com o samba de alto nível tocado pelo pessoal do Rebarbas, qual não foi a minha felicidade ao ver que Chico do Catete, um dos personagens mais folclóricos da minha Zona sul, assumia os vocais para cantar “Chico não vai a Curimba”. Sucesso Total! Os que ali estavam, assim como eu, cresceram vendo o Chico desfilar sua malandragem pela rua do Catete, gingando em cada esquina e, vez outra, até apresentando relativa sobriedade. A quadra da Cardoso Junior é, realmente, um instituto a parte dentro do Rio de Janeiro. Celeiro de bambas do samba e reduto de craques da bola, essa quadra também já fez as vezes de arena política. É nela que tenho a maior lembrança da minha vida política: a “invasão” que fiz ao comício do então candidato a Prefeito Marcelo Freixo, que, a ocasião, falava para seu enorme fã-clube de Laranjeiras. Jamais me esquecerei do franco debate que tivemos, das sonoras vaias que levei de sua claque e, principalmente, da minha coragem por estar lá. (Obrigado, Ique)! O presidente da Associação do Alto Laranjeiras, o amigo Gustavo , definiu assim a cena: “você invadiu a torcida do Flamengo e gritou bem alto: FOGOOO!” Inesquecível. Cada rosto daquele samba em Laranjeiras me fazia ter a certeza de que eu sou onde nasci. Eu sou Laranjeiras, eu sou Botafogo, eu sou Catete, eu sou Largo do Machado. Eu sou Zona Sul, com muito orgulho. Desculpem-me os senhores Luiz Simas e Eduardo Goldenberg, bastiões da enorme e verdadeira beleza além-túnel da cidade. Desculpe-me também o meu Prefeito Eduardo Paes e o seu discurso fácil “anti-burguês”, tão eficiente para captar votos dessa sociedade que gosta de maldizer o que é belo e romantizar o que não é. O fino dessa minha São Sebastião do Rio de Janeiro é, e vai ser para sempre!, a Zona Sul. Quer vocês queiram ou não.
Posted on: Sun, 20 Oct 2013 15:22:51 +0000

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