"Se tem um recado evidente deixado pelas manifestações nas ruas, é a urgência de uma nova democracia. Acostumados com o acesso horizontalizado a tudo e a todos, por meio de um click, uma multidão de mãos foi às ruas para interferir na realidade, mas não encontraram muitos espaços onde pudessem atuar. Então foram impondo esta participação, empurrando a realidade pra frente, e interferindo diretamente nela. Mas, para que esta interferência continue acontecendo, precisamos criar canais de participação popular, que possam de fato possibilitar esta interferência, cotidiana, na sociedade. E isto exige uma nova democracia. Não podemos ignorar as relações em rede permitidas pela tecnologia. Conheci um trabalho voluntário, coordenado por uma fundação, que cadastrava pessoas de uma comunidade para contribuir, online, com a avaliação de políticas públicas ali realizadas. Cada morador cadastrado informava todos os dias a situação da comunidade, seus desafios, seus ganhos, o que acelerou consideravelmente o trabalho realizado ali. Se, além da informação, a comunidade pudesse optar pelos investimentos a serem feitos, se pudesse participar do planejamento destas ações governamentais, e se ainda tivesse o poder de vigilância sobre estas ações, não apenas garantiríamos uma ação direta nas comunidades, como diminuiríamos o número de vereadores, deputados, senadores. E tudo isso pela rede, sem reuniões burocráticas, sem palanque, sem egos exacerbados, sem nomes próprios, apenas cidadãos exercendo sua cidadania.Precisamos não apenas de uma reforma política, mas de uma reforma administrativa, que substitua a burocracia, conjunto de gestos criados com a intenção de dificultar a corrupção e que somente a possibilitou, por um sistema de controle e vigilancia compartilhado pela população, em rede. Não apenas a burocracia deve ser atacada, mas o modelo piramidal de gestão, que concentra as decisões sempre em uma única pessoa, personalizando o poder e incentivando a corrupção. Se a gestão de um posto de saúde, de uma escola, for de um grupo composto por representantes do estado e da comunidade, se as decisões, os investimentos a serem feitos, as escolhas, forem uma decisão da comunidade, a escola da Rocinha será da Rocinha, e a escola da Gávea será da Gávea. Esta apropriação pela comunidade dos seus bens, daquilo que é dela, é o que possibilita uma boa educação, um bom atendimento de saúde. E este modelo participativo de gestão, devemos admitir, é hoje amplamente permitido pelas tecnologias. Porquê não utilizá-la?." Via page Viviane Mosé
Posted on: Mon, 22 Jul 2013 13:42:03 +0000
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