Uma oração cantada, clamor que chegou ao céu “Tudo bem se - TopicsExpress



          

Uma oração cantada, clamor que chegou ao céu “Tudo bem se eu cantar uma canção?”. Em um espaço aberto do monastério uma jovem síria veio em nossa direção assim que terminamos nossa primeira entrevista. Ao nosso redor crianças nos observavam a certa distância. Senhores idosos discutiam o que deveriam dizer. “Eu não quero ser filmada”, continuou ela, “Mas eu quero entoar essa oração”. Ela parou, começou a cantar e então o pátio ficou em silêncio. “Oh Senhor, por favor, abençoe o povo sírio, em todos os lugares do país”. Alto, cada vez mais alto, a oração foi entoada, atravessou o pátio e chegou ao céu. “Essa é uma canção que eu gosto muito. Ela significa muito pra mim. Ela pede ao Senhor por paz na Síria”, concluiu Cristina*. Há 11 meses ela chegou de Aleppo com seu marido e uma filha de 4 anos. Ela chegou à conclusão de que era hora de partir quando uma forte explosão destruiu parte de seu apartamento. O estrondo foi tão alto que minha filha foi lançada para outra parte da sala. “Por causa disso, ela ainda está traumatizada”. Cristina e seu esposo fizeram uma pequena mala e então partiram. Primeiro eles foram para Damasco e depois em direção ao Líbano. “Isso foi muito estranho. Eu conhecia um pouco do Líbano, nós fomos lá como turistas para um período de descanso. E agora eu estou aqui como uma refugiada, deixei tudo pra trás. Isso me entristece muito”. Nesses nove meses de fuga da pequena família, eles gastaram todo o dinheiro que possuíam. “Ficamos num hotel onde esperávamos passar pouco tempo. Nosso desejo era voltar assim que as coisas melhorassem. Mas tivemos que estender nossa permanência no Líbano mês após mês. E então ficamos sem dinheiro. Nos perguntávamos para onde poderíamos ir, e então encontramos abrigo no monastério. Estamos aqui há apenas duas semanas”. De repente uma menina sobe no colo de Cristina. É Rosa, sua filha. A garota encontrou aconchego e segurou a mão de sua mãe. Havia um olhar triste em seu rosto. “Com muita frequência fico triste por causa de minha filha. Ela está traumatizada com o que aconteceu. Ela tem sofrido de estresse compulsivo, o que nunca tinha acontecido. Essa semana fomos a um casamento e eles estouraram fogos de artifícios, ela entrou em pânico”. Cristina tem formação universitária na área da Educação e atua como professora. Esse conhecimento tem possibilitado a ela cuidar de sua filha. “Mas geralmente é difícil. Eu tinha esperança de que ela pudesse ser matriculada numa escola libanesa. Isso a ajudaria a se relacionar com outras crianças e a aprender coisas novas. Mas infelizmente essa possibilidade não existe, não temos dinheiro e as escolas são muito caras no Líbano. Nossa esperança agora é que possamos conseguir um visto de alguma embaixada do Ocidente. No momento não levamos em consideração a possibilidade de retornarmos à Síria, mas temos esperança de que isso aconteça um dia”. Cristina sente muita saudade de seus pais. Ela é filha única. Seu pai já é um senhor idoso e não pode mais viajar. “O que me conforta é saber que não estou sozinha, mas que sou parte de uma família. Vivemos juntos com respeito e amor. As pessoas daqui se tornaram minha nova família. Eu sempre imagino que há pessoa em situação pior que a minha, por exemplo, aqueles que perderam seus pais”. Quando vivia na Síria ela não enfrentou ameaças por ser cristã. “Os cristãos são pacíficos. Para nós é melhor fugir do que nos envolvermos em um conflito armado. A maioria das pessoas está armada e pode se defender, nós cristãos não podemos”. Os cristãos não têm esperança de ter um vida normal na Síria, a curto prazo, mas encontram coragem em sua fé. “Eu sempre tenho fé que Deus está trilhando um caminho para seguirmos. Que caminho é esse? Eu não sei, não me importo desde que Deus me guie. Eu não questiono o que aconteceu, mas me rendo à sua vontade. Hoje tento viver minha vida. Isso não é fácil, porque às vezes tento esconder minha fragilidade e às vezes eu simplesmente choro”. Há alguns dias, pouco tempo depois que a equipe retornou pra casa, a Portas Abertas recebeu notícias terríveis de que Cristina sofreu um acidente no monastério e que no momento está em coma. Ela sofreu rachaduras em seu crânio. O momento exato do acidente é desconhecido, mas um dos membros da equipe que viajou ao Líbano disse: “Não sabemos a causa disso, mas as escadas e pisos do monastério são todos de mármore. Com as fortes chuvas que caíram elas ficaram bem escorregadias. Meus pensamentos se voltam para sua pequena filha que já é uma criança traumatizada”.
Posted on: Wed, 03 Jul 2013 19:43:27 +0000

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