VOCÊ SE LEMBRA? Este texto é de pura ficção, no entanto - TopicsExpress



          

VOCÊ SE LEMBRA? Este texto é de pura ficção, no entanto qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais e vividos... não será mera coincidência! Era uma quente e poluída tarde de terça-feira de carnaval A multidão a se comprimir na ânsia de encontrar um melhor lugar bem mais próximo do trajeto principal dos intermináveis blocos carnavalescos, formava uma massa compacta tomando toda a imensa praça. Não deixava espaços, era um irrequieto e ululante mar de gente. Empurra daqui... Empurra dali... Apertos... Encontrões... Todo o imenso repertório de bolinagens libidinosas se fazia presente por todos os cantos e com elas, os costumeiros desentendimentos, as ásperas discussões, as agressões, as correrias e a pancadaria a cantar solta, com direito a uma enérgica interferência policial com prisões e demais adereços. Era a folia carnavalesca engolfando a todos na sua esfuziante e desordenada alegria, eram as loucuras carnavalescas com todas as suas etílicas consequências. Os bares cheios, as barracas superlotadas. Os vapores alcoólicos pairando no ar... E haja cerveja! Foi nessa mistura de alegria e confusão desordenada, um verdadeiro labirinto de gente etilizada que se envolveu o nosso amigo Marin, um bom e simpático baiano, físico atlético, praticante assíduo dos esportes náuticos, com apaixonada predileção pela natação em piscinas, curtas e longas. Frequentador assíduo dos pódios náuticos, com enorme constância nos seus degraus mais altos. Era em resumo um verdadeiro “sportman”. Muito bom de língua, falando e lendo fluentemente o inglês; leitor inveterado era um companheiro ferrenho dos bons autores. Culto, sério e absolutamente avesso às folias momescas. Muito embora já tendo alcançado a casa dos sessenta e muitos anos, com a cabeça já bastante grisalha, possuía ainda com um porte atlético e forte, apresentando uma configuração bem mais jovem com sua figura simpática e robusta. O nosso amigo Marin nunca foi nem era apreciador das loucuras carnavalescas, muito pelo contrário, delas queria sempre a maior distancia possível. Estava ali acidentalmente. Sem alternativa de outro caminho procurava o melhor meio de alcançar o outro lado da passarela para poder fugir daquela loucura generalizada. Viu-se de repente sem opção para ir avante, procurava firmemente se aproximar o máximo possível da área do desfile, na expectativa de poder atravessar a passarela, na primeira oportunidade, no primeiro descanso que dessem os infindáveis blocos, fugindo pelo outro lado daquele caótico inferno etílico. Empurra aqui, é empurrado ali, conseguiu suportar o bafo, o cheiro corporal e a torturante conversa de um inveterado folião desses que, conservados em álcool, curtem todo o período da louca folia num imenso e interminável torpor etílico. Um porre continuo e interminável. O folião estava tão trôpego, tão alcoolizado que mais parecia um fanático terrorista, um autentico “homem bomba”, tal a quantidade de vapores inflamáveis que exalava ao falar. Foi dentro dessa angustiante confusão e sufoco que, de repente e para sua imensa surpresa, o Marin sofreu um macio encontrão de um passado deveras distante. O encontrão de uma avassaladora paixão perdida no imenso buraco negro do mais longínquo espaço sideral da memória. Voltou tudo repentinamente... Reviveu todo, todo um passado já adormecido... Toda uma história de um quente romance já esquecido... ou convenientemente recalcado na caixa do esquecimento. Susto, surpresa! Mas uma doce e macia realidade estava ali presente em sua frente. Real e viva como nunca. Não podia ignorá-la, era palpável. Carne e vida; um lindo sonho que voltava. Era o passado que se tornava presente! Uma robusta e bonita senhora, com os cabelos honestamente grisalhos, quase brancos, porte elegante, mostrando nas feições os firmes restos de uma beleza discreta, porém firme e sólida! Fora ela a autora involuntária do encontrão do passado. Inicio da década de cinquenta, Rua Franco Fera (mais conhecida como Bairro Velho), casa número 25. Ali morava, naquela época, a autora daquele involuntário encontrão do passado. Será que foi mesmo tão involuntário assim? Pode ter sido, mas... Era na época uma jovem de corpo esbelto e bem feito, com uma beleza discreta e agradável. Propositalmente não vou recordar seu nome, vou deixá-lo resguardado no anonimato da memória. Basta o susto e a surpresa do Marin, basta a repentina volta ao presente de uma avassaladora e vulcânica paixão da juventude que ele julgava morta e enterrada no passado e que, de repente, se fez presente, tão presente! A contragosto, ele empurrou aquela lembrança de volta ao longínquo e esquecido espaço da memória onde devia permanecer soterrada para todo e sempre! Será que o conseguiu? Eu cá tenho minhas dúvidas! Desculpe meu velho, mas... Você se lembra? OUTUBRO ∕ 05 Luiz Sampaio
Posted on: Sat, 03 Aug 2013 16:17:24 +0000

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