o cristão e a politica numa visão ética Introdução Ao fazer a - TopicsExpress



          

o cristão e a politica numa visão ética Introdução Ao fazer a leitura de um artigo certo dia, chamou-me atenção uma matéria que falava de política; o titulo deste artigo era: ”O descrédito da classe política”.Nele, o autor expunha a insatisfação da população com relação aos seus governantes e enfatizava que ,de forma geral, a classe política não se beneficia de uma imagem muito favorável junto do chamado povo da nação.Como disse em seu discurso, o Dr. Hernandes dias Lopes cita uma recente pesquisa em que figuram como as três mais desacreditadas classes sociais os políticos , os policiais militares e os pastores evangélicos; matérias como essa nos fazem refletir até que ponto o cristão deve ou não ter um envolvimento com a política. É através do artigo de Solano Portela intitulado “A legitimidade do governo e da política em Calvino, Kuyper e Dooyeweerd”, e de uma das mais importantes mensagens que tive o prazer de assistir em que o Drº Hernandes dias Lopes discursa sobre o tema: “ Neemias, um político incorruptível” que irei desenvolver um texto que apresente uma visão panorâmica destes artigos e contrastá-los com a realidade hodierna do Rio Grande do Norte. Desenvolvimento Em seu artigo “A legitimidade do governo e da política em Calvino, Kuyper e Dooyeweerd”, Solano Portela trata sobre a participação do Estado em relação à Igreja e vice-versa, trazendo à luz, a visão de cada um destes expoentes da teologia mundial, temática muito relevante em tempos em que se percebe, nitidamente, o desconhecimento de uma teologia política, como uma das dimensões da ética, dentro da teologia sistemática.Devo começar como parece sensato, por uma definição dos três pensamentos. Já dizia Sócrates: “Se queres conversar comigo, define teus conceitos”. Definindo os pensamentos A visão calvinista: No célebre pensamento de João Calvino, um dos teólogos clássicos que mais escreveram sobre o governo civil, firma-se a tradição reformada sobre política em que o autor traça claramente os limites de atuação do Estado e especifica com clareza a esfera da igreja.Em sua obra Institutas da Religião Cristã,Calvino denomina “magistrado civil” o servidor público. Nessa obra,no Livro Quatro, Capítulo 20 (o último capítulo dessa obra), que tem o título: “Do Governo Civil”, Calvino exalta o ofício do magistrado civil e extrai da escritura definições e parâmetros que mais tarde iriam fazer parte da tradição reformada, especialmente de documentos importantes como a Confissão de Fé de Westminster. Calvino começa indicando que o governo civil é algo diferente e separado do Reino de Cristo, uma questão que ele diz não ser compreendida pelos judeus. Assim, ele já toca na separação entre igreja e Estado, dizendo: “Aquele que sabe distinguir entre o corpo e a alma; entre a vida presente efêmera e aquela que é eterna e futura não terá dificuldade em entender que o reino espiritual de Cristo e o governo civil são coisas completamente separadas”. Dando continuidade na segunda seção, entrando na terceira, ele afirma que, mesmo restrito à esfera temporal, o governo civil é área legítima ao cristão. Calvino chama de “fanáticos” os que se colocam contra a instituição do governo. Entre as funções primordiais do Estado, ele relaciona: “… que a paz pública não seja perturbada; que as propriedades de cada pessoa sejam preservadas em segurança; que os homens possam tranqüilamente exercitar o comércio uns com os outros; que seja incentivada a honestidade e a modéstia”. Nas seções quarta a sétima, ele fala sobre a aprovação divina do governante, ou seja, do ofício do magistrado civil, ancorando suas observações em Provérbios 8.15-16 e em Romanos 13, respondendo também a objeções. Entretanto, ele insiste que a primeira conseqüência dessa aprovação é a grande responsabilidade que os próprios governantes têm perante Deus. Existe, pois, a necessidade de um auto-exame constante, para aferirem se estão sendo justos e se estão se enquadrando com toda propriedade na categoria de ministros de Deus. Próximo da conclusão, Calvino examina três formas de governo: monarquia, aristocracia e democracia. Ao fazer isso ele está adentrando na política em toda a sua extensão e conclui que a monarquia tende à tirania; na aristocracia, a tendência é a regência de uma facção de poucos; na democracia, ele vê uma forte tendência à quebra da ordem(é importante notar que a “democracia”, na forma como a entendemos nos dias de hoje, não foi um conceito praticado, ou até discutido amplamente, senão alguns séculos depois de Calvino). Finalizando, Calvino não dá abrigo a pensamentos de revolta contra as autoridades, até mesmo contra os tiranos. Ele diz: “insisto intensamente em provar isto, que nem sempre é perceptível aos homens, que mesmo um indivíduo do pior caráter, aquele que não é merecedor de qualquer honra, se estiver investido de autoridade pública, recebe aquele poder divino ilustre de sua justiça e julgamento que o Senhor, pela sua palavra, derramou sobre os governantes. Assim, no que diz respeito à obediência pública, ele deve ser objeto da mesma honra e reverência que recebe o melhor dos reis.” A visão de Kuyper Teólogo e estadista holandês, Abraham Kuyper foi um dos maiores expositores de Calvino. A semelhança do reformador francês, ele teve atuação marcante na vida eclesiástica, embora estivesse igualmente envolvido com a sociedade civil e o Estado, chegando ao cargo de primeiro ministro de seu país. Kuyper diz que o calvinismo “não apenas podou os ramos e limpou o tronco, mas alcançou a própria raiz de nossa vida humana”. Na sua concepção, Kuyper vê o calvinismo como a mola motivadora de conceitos muito progressistas no campo político. Assim sendo, ele respeita as posições calvinistas, porem enfatiza o que para ele é o grande fator que não pode ser ignorado:o pecado e as implicações da realidade pecaminosa– o “Estado” é uma estrutura formada por Deus após a desobediência adâmica que resultou na queda. Isso está em harmonia com o que temos afirmado desde o início e se constitui no pensamento da grande maioria dos teólogos reformados. Kuyper diz: “sem pecado não teria havido magistrado, nem ordem do estado; mas a vida política em sua inteireza teria se desenvolvido segundo um modelo patriarcal da vida de família. Nem tribunal de justiça, nem polícia, nem exército, nem marinha, é concebível num mundo sem pecado; e se fosse para a vida desenvolver a si mesma normalmente e sem obstáculo de seu próprio impulso orgânico, conseqüentemente toda regra, ordenança e lei caducaria, bem como todo controle e afirmação do poder do magistrado desapareceria. Quem une onde nada está quebrado? Quem usa muletas quando as pernas estão sadias?”. Assim, no conceito de Kuyper, o povo não era a coisa principal, mas a conscientização de Deus e a busca de sua glória – mesmo na esfera política, entre todas as nações. O pecado desintegra a humanidade, e o Estado, restabelecendo a ordem e a lei, torna-se necessário. Mas nenhum homem tem o direito inerente de governar sobre outro – este é um poder que pertence a Deus. Consequentemente, os governos existem por delegação divina. Portanto, a força e o poder do governo não vêm de um mero “contrato social”, que não teria força sobre os descendentes que não haviam originalmente firmado tal contrato, mas do próprio Deus. Por isso falamos da soberania de Deus no Estado: “Deus ordena os poderes que existem, a fim de que através de sua instrumentalidade possa manter sua justiça contra os esforços do pecado”, e assim “... tem dado ao magistrado o terrível direito da vida e da morte. Portanto, todos os poderes que existem, quer em impérios ou em repúblicas, em cidades ou em estados, governam pela graça de Deus.” Mesmo assim, Kuyper alerta que o pensamento reformado não defende uma teocracia. “Uma teocracia somente foi encontrada em Israel, porque em Israel Deus intervia imediatamente”. No entanto, ele reafirma que a soberania de Deus vale para todo o mundo e está “forçosamente em toda autoridade que o homem exerce sobre o homem; até mesmo na autoridade que os pais possuem sobre seus filhos”. A visão de Herman Dooyeweerd Sintetizar o pensamento tão detalhado e elaborado de Dooyerweerd é uma tarefa impossível. No entanto, nele podemos discernir, primeiramente, harmonia com o pensamento de Calvino, legitimando a instituição do governo e seus governantes. Temos também através de Dooyeweerd um desenvolvimento adicional e marcante no conceito de Kuyper sobre as esferas do poder, delimitando em uma estrutura lógica e coerente com o todo da existência, as atividades e autoridades dos governantes. Dooyeweerd ajuda a organizar o entendimento daqueles que acreditam em um Deus soberano, que é o autor da ordem e da lógica no mundo sobre as diversas atividades da vida – como elas se relacionam entre si e como se autolimitam. Ainda assim, nenhuma dessas esferas é autônoma, no sentido de possuírem independência intrínseca dos deveres perante o soberano Deus, mas devem ser administradas na firme crença na existência do Deus trino, que se identifica conosco em Cristo, e que age, como Deus Espírito Santo, na concessão tanto da graça comum (possibilitando a vida à humanidade) como da graça especial, no plano de redenção. As exigências e diretrizes do Deus verdadeiro se aplicam, portanto, a todas as áreas de atividade humana. Essas só preenchem conscientemente seus objetivos quando ele é reconhecido e racionalmente glorificado. A realidade hodierna do Rio Grande do Norte em contraste com os artigos e o video em questão. Políticos sem vocação, sem preparo, sem ética, sem coragem, verdadeiros aventureiros, “massa de manobra” de um sistema que facilmente se corrompe: assim é a realidade do Rio Grande do Norte e por que não dizer realidade brasileira.Políticos cristãos que são raríssimas exceções, geralmente não possuem uma formação política e tampouco chamado,instrumento imprescindível sem o qual não há vocação, tornando impossível o sucesso numa carreira política,sucesso esse que na perspectiva apresentada neste artigo é a junção de agradar o povo sem desagradar a Deus. Levando em consideração os princípios bíblicos e morais que norteiam as relações cristãs para aqueles que são “sal da terra e luz do mundo” em contraste com a afirmação de Calvino “que, mesmo restrito à esfera temporal, o governo civil é área legítima ao cristão”. Enxergamos na atualidade um governo formado por cada vez menos pessoas verdadeiramente cristãs. As lacunas governamentais são hoje preenchidas por políticos que primam pela hipocrisia de promessas de campanha que quase sempre não são cumpridas. Sendo o governo civil uma área legitima ao cristão, os poucos que ocupam cargos públicos são quase sempre citados nas fraudes administrativas que por vezes, acabam em “pizza”. Que maravilhoso seria aqui poder citar pelo menos um político cristão da atualidade que pudéssemos denominar de incorruptível, assim como Neemias.Esse problema continuará até que o povo não acerte nas suas próprias escolhas.Enquanto isso,continuaremos tendo um governo hipócrita, medíocre e corrupto que teremos que respeitar mesmo que ele ame e cometa aquilo que para o escritor e estadista holandês, Abraham Kuyper é o grande fator que não pode ser ignorado: “o pecado”. Conclusão: Não há nada mais cientificamente inexato e conceitualmente impossível do que a pretensão de ser apolítico. Ser político é algo inerente à condição do ser humano. Política significava, originalmente, o conhecimento, a participação, a defesa e a gestão dos negócios da polis. É impossível a existência da sociedade civil sem autoridades, normas, sanções, mecanismos de participação, formas de decisão. Ser apolítico é fazer uma opção para fora, uma opção pelo não ser, pela omissão. A atitude apolítica é uma elaboração de desculpa para o indesculpável, revestida, no caso do cristão, de uma embalagem espiritual, uma “espiritualização” do pecado. A ignorância, o medo, o preconceito, o egoísmo e a não-autenticidade são causas de tão danosa escolha. Na história da batalha entre o reino de Deus e o reino da perdição, a tarefa do cristão é derrotar o demônio e empurrá-lo para fora desse domínio. É afirmar o senhorio de Jesus Cristo na história. A luta por um sistema mais justo ou por leis mais justas não pode ser travada à custa do esquecimento de que é necessária a graça de Deus para transformar o velho homem. E que qualquer mobilização ou ação política deve começar de joelhos. Pastor William Cabral(trabalho do CETEM-Natal)
Posted on: Mon, 12 Aug 2013 21:35:13 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015