A morte não tem fim. Isso pensava Serafim Vital enquanto errava - TopicsExpress



          

A morte não tem fim. Isso pensava Serafim Vital enquanto errava pelas ruas. Não se lembrava do que vinha acreditando para depois. Mal podia recordar situações recentes. Tinha ido ao banco. Sim, tinha ido ao banco. O caixa lhe dissera alguma coisa desagradável e grosseira, irritado com sua surdez, algo que o havia magoado. Não há mais velhos neste mundo, resmungava ao esbarrar nos jovens apressados. Invejava os jovens aidéticos. Ele há muito deixara de ir à farmácia, não tomava remédio algum. Tinha vontade de dizer a todos: “Desculpem. Me desculpem. Que posso fazer? Não consigo morrer. A morte não tem fim.” (ainda entre os jovens:) Um dia fui um desses príncipes. ...e decidira deixar-se morrer desde que o médico lhe dera um ano de vida, quatro anos atrás. Já havia desmaiado de fome, numa praça esvaziada pela noite de inverno, aos pés do busto de Bilac. “Oh imortal!”, pensou dizer como evocando a morte. Acordou ali na manhã seguinte, pássaros e sol, presságio de primavera, gente transitando por toda parte. Levantou-se, encarou o poeta de bronze: “Imortal! Oh imortal!” Bateu a poeira do casaco. “Imortal, não é?” Saiu andando. “Mas morreu.”
Posted on: Sun, 27 Oct 2013 18:35:25 +0000

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