Caminho de volta pra casa. Vejo a vida como uma viagem de treem, - TopicsExpress



          

Caminho de volta pra casa. Vejo a vida como uma viagem de treem, cheia de embarques e desembarques, ao longo da jornada nos deparamos com alguns passageiros que sem nos questionar acreditamos que estarão sempre conosco, infelizmente em alguma estação desconhecida elas descerão sem avisar e deixarão espaços vagos, lacunas que por vezes outras pessoas preencheram, outros ao descerem seus bancos vazios nem serão notados, porem alguns passageiros deixaram eternas lacunas, ao longo dessa estrada lembraremos de alguns desses viajantes e homenagearemos com um sorriso, uma historia contada ou e uma lagrima em momento de silencio profundo. Dores que ninguém nunca sentiu é o sentimento mais comum, Joe já viu o fim do mundo algumas vezes e na manhã seguinte estava tudo bem, mas dessa vez não fora tão simples assim, para ele haverá sempre um lugar vazio a sua direita. Era dezembro e a chuva de verão caia lá fora sentado na penúltima poltrona, recostou a cabeça na janela do trem, a velha jaqueta de couro e uma calça jeans desbotada a espessa barba negra por fazer, otimizando o queixo largo e os cabelos cumpridos, profundos olhos introspectivos, tão azuis quando o céu sem nuvens, braços cobertos por desbotadas tatuagens. Toda sua bagagem caberá em uma mochila. Consciente de que nada do que já foi, será de novo, do jeito que já foi um dia, vinha na expectativa de rever o Rio e os montes da Curruirá. - O belo por do sol que se faz daqui é lendário - Exclamou contando ao homem sentado na poltrona contraposta a sua frente. - Passo da Lagartixa? Perguntou o estranho. - Não, Serra da mãe Curruirá, a Lagartixa já fico pra trás! Contou Joe, enquanto inutilmente tentava limpar o Ray Ban na camisa. No celular de alguém por ali tocava Angie – Rolling Stones, Joe colocou as mãos nos bolsos vazios da jaqueta e riu sozinho pela ironia, tirou-a, embrulhou e colocou no compartimento para bagagens de mão, aproveitou e abriu a janela para que pudesse sentir a brisa suave do vento, era possível ver o sol se pondo sobre o lendário Rio dos Sonhos, o céu avermelhado e o arco-íris anunciando o fim da chuva, o voo de centenas de andorinhas e o cantar dos Sabias, os manguezais e a longínqua estrada de ferro que paralela ao rio some entre as imensas cordilheiras, que entre si vão remando o rio até que caia no mar. - Tu vem de onde? Perguntou o estranho. - Eu to vindo lá das encruzilhadas do morro do sapé, Ornitorrinco azul. - O Que tu tava fazendo naquelas quiçaça? Tem uma casa de “loco” lá pra aquelas quebrada, eu não curto passa por lá, da pra ouvir os gritos de longe. - Sim, sim, eu to ligado! Eu vim de lá, quarto 13. Joe respondeu mostrando a fitinha hospitalar, ainda no pulso. E o silencio repentino se fez por alguns minutos. -Como é teu nome? - Joe. Isso não é nome. Ironizou o estranho. Respondeu apenas com um sarcástico sorriso. - E tu? - Urubu. Ah, isso sim que é nome, pensou Joe, recostou a cabeça e adormeceu, acordou com o motorista avisando que haviam chegado em Brisalem, a euforia por estar de volta era tão grande que só lembrou da mala quando o taxista resolver brincar. - Engraçado o senhor viajar sem bagagens! O porteiro sorriu quando viu Joe na rua. - Ta de volta meu patrão? - O senhor permite nós volta “morá” ai? Brincou. Entre aqui, disseram que você vinha. - Só vou entrar se o senhor abrir o portão! - Veja só que cabeça a minha, queria que você pulasse... a idade vai pegando a gente! Mas o apartamento de vocês ta sem luz pia, já que não tinha ninguém morando desliguei pra economiza, justificou seu Nicolau. Um homem magro e beirando a dois metros, barba grisalha e um chapéu coco, ostenta a moda do suspensório, usa sandália no verão e bota no inverno, tira chapéu pra moça bonita e faz cara feia pra macho estranho, já tem mais de oitenta anos, a mais de três décadas é porteiro e esse era o plano de aposentadoria dele, quando éramos menores ele furava qualquer bola de futebol que aparecesse no pátio, já vi o seu “Nico” correr só de cueca atrás de um ladrão que pegou ele desprevenido na portaria. Republica Junkie é nome do apartamento 69 do edifício leste, do antigo condomínio do solar, na rua das Tumeleiras. As paredes deixam nítido o som que predomina, a lateral pintada em forma de muro, ao fundo na parede preta um imenso triângulo com listras coloridas, na esquerda, o desenho de uma vaca branca com manchas pretas olhando pra trás, na direita um quadro gigante da Abbey Road, ao lado John Lee Hooker, uma boca com a lingua de fora, em preto e branco um Zeppelin antigo, por toda a casa dezenas de quadros espalhados, gigante o John e a Yoko pelados, sobre um baixo e rústico armário amarelo, um velha TV de dezenove polegadas que só é ligada em dia de jogo, livros por todo lado, de gibis da Mafalda à clássicos sonetos de camões, um sofá de couro vermelho com furos de cigarro, uma estante feita toda de imbuia, e nela bolachões, as quatro Estações e a tempestade ou Livro dos dias, o poeta não morreu, alguns Jazz Modern e Elligton, a implacável coleção com todos os Bob Dylan’s, todos os quatorze Pink Floyd, vários led, Doors, MPB, clássicos de samba e vários outras relíquias, do outro lado da sala uma imensa vitrola à mais de quarenta anos rodando, fora do pai do tiú do primo de alguém que vendeu por duzentos cruzeiros para o irmão mais velho de Joe, um telescópio Takahashi virado pro lado da varanda que por ser em uma parte mais alta da cidade dispunha de uma linda vista. Os vários filtros coloridos presos junto a porta da varanda, para que recebam a primeira luz do dia, o gavião da fiel grafitado na parede da cozinha, resultado de uma aposta na final do mundial. Os pratos e talheres sobre a mesa, os pacotes de miojo, a gaiola do quico e do pardo, com ambos mortos dentro, as roupas espalhadas pela lavanderia, cada detalhe do apartamento exatamente como havia deixado, não que Joe tenha reparado algo no escuro, dormiu sem tirar os tênis, apenas desmaiou sobre a cama de madrugada precisou de um pit stop, um ardume desgraçado exalava do banheiro, alguém usou o vazo e não puxou a descarga, a seis meses atrás! Na volta para a cama tentou abrir a porta do meu quarto, mas estava trancada, deitou no sofá, levou um sustou e sentou pra ver melhor o que sua mão havia achado na mesinha de centro da sala, juntou com cuidado e foi pra varanda procurar uma réstia de luz da lua pra conferir se aquilo em forma de cigarro era mesmo um presente de Jah, constado que era uma ponta, Joe flamejava de alegria, até lembrar que não tinha fósforos nem isqueiro, no escuro revirou a cozinha inteira atrás de fogo, achou um bic velho, quase sem gás, dormiu no sofá pensando no quanto aquele Isqueiro amarelinho o fez sentir um estranho dentro da própria casa. Acordou com o sol forte da manha e leves batidas na porta, ao mesmo tempo em que tocaram o interfone, abriu a porta era o pequeno George, um garotinho com pouco mais de cinco anos e um metro de altura, olhos azuis esbugalhados, bochechas fartas e um jeito encantador de ser. - A mãe já ta subindo. - Eu imaginei que você não ia vir da tua casa até aqui, sozinho! Retrucou em tom de brincadeira. - Tudo bem contigo tiú? Questionou George enquanto Joe esperava escorado da porta. - Tudo bem contigo tiú? Repetiu, arremedando o garoto e fazendo caretas enquanto o cutucava a procura de cócegas. Antes que pudesse dar conta da presença de Thor, já havia sido derrubado e levava calorosas boas vindas caninas em forma de lambidas na cara, Thor é uma mistura de Labrador e alguma raça siberiana com pelagem toda amarela e uma feroz mancha negra sobre o olho esquerdo, apesar do seu tamanho intimidador, é um bobão que não faz nada alem de comer, babar e dormir. A vários anos em um dia de maio ou abril, voltando da faculdade encontrei dentro de uma em uma caixa de sapato, abandonado para morrer entre os lixos de um mercado, o choro desesperado em forma de grunhido me chamou atenção, com um extenso bocejar faminto por leite ganhou meu coração , como poderia eu, deixar para morrer tão indefesa criatura? Deitado de forma pimposa, Thor se sentia com o rei na barriga, o centro das atenções. - Flor chegou ao apartamento justificando que não tinha como fechar a porta do Holl de entrada com ele puxando, fora obrigada a soltar a coleira, Cabelos lisos e compridos, pele morena, olhos negros, um sorriso esbranquiçado que fragiliza a alma, uma mulher tão delicada quanto as asas de uma borboleta, mas que sabe trocar o pneu do carro e desentupi calha, mãe solteira. - Eu to com fome tiú! Exclamou George. - Então somos dois. Respondeu Joe gesticulando com as mãos e voltando a provocar o garoto. A dispensa ta vazia e o que tiver ta podre. - Margarida sentou no sofá, abriu uma sacola e tirou três sanduíches de dentro. - O vegetariano pro Joe... o de frango pro George e o de Hambúrguer pra mim, explicou estendendo cada um ao seu respectivo dono. - Você lembrou que eu sou vegetariano. Disse Joe dando uma mordida equivalente a de um tigre siberiano faminto depois de seis meses de hibernação. - Como que não vou lembrar que por causa de você a Vó fazia o macarrão sem carne, falando nisso nós vamos lá hoje a tarde. Quer ir junto? - Quero sim, só preciso organizar a bagunça. Lamentou. Alias, você está com a Nardume? -Capaz, nunca que eu ia chegar perto daquela aranha, ultima vez que eu vi foi quando vim buscar roupas pra você e aproveitei pra levar o Thor, mas ela estava dentro do aquário, me certifiquei disso antes de entrar no quarto. - Você deu comida pra ela? Capaz. -Viu se a portinhola estava fechada direito? - Acho que sim, não tenho certeza, eu preciso ir, só vim te trazer essa bola de pelo e ver como você esta. - Vai pra onde? - Pra casa fazer almoço - Vai como? - Ônibus, passa de meia em meia hora! - Eu te levo. - Mas será que teu carro ainda ta andando, depois de todo esse tempo parado? - Vamos lá descobrir, falou já juntando a chave na mesa de centro da sala. Joe é dono de um lendário opala metálico azul, 6 cilindros motor 4100, inteiramente conservado graças a seu Nicolau que desde sempre, engraxa, limpa, coloca água do radiador, troca óleo e faz revisão, por pura paixão. - Me diga uma coisa Marga, o David ta a onde? Perguntou enquanto fazia curvas entre as colunas pra sair da garagem subterrânea. - Lá onde foi o velório. Exclamou Flor com um gesto de objetividade. Você não pode ir né? Eu tinha esquecido perdão. Ele ta lá na escada do paraíso. - Na volta vou passar por lá. Contou inclinando para ver o carro que vinha na preferencial para entrar na saudosa avenida beira rio. Eu não tenho medo, explicou o garoto franzindo as sobrancelhas. Estacionou o possante na esquina do cemitério, em um bairro de família italiana, pode ver as crianças jogando bola no campinho pra baixo e alguns “tchs” tomando chimarrão na varanda, ajeitou os cabelos com as mãos afagando as orelhas e suspirou fundo. Mãe, posso esperar no carro? Claro filho. Não era você o corajoso? Os finitos túmulos brancos e a montanha verdes ao fundo dão a idéia de uma imensa escadaria pra quem entra pelo portão principal, como não tinha nome alguns Hippies brisados tiveram a idéia de “Stairway To Heaven”, o padre sugestivo indicou ao prefeito o nome de escada do paraíso. Entraram pelo portão da frente do cemitério, seguiram pelo jardim varias covas a diante, pela fileira do meio, três a esquerda, reconheceu a foto na lapide, sentou na catacumba, fecho os olhos, suas pernas estremeceram, deitou-se sobre o túmulo, Margarida sentou-se ao seu lado e nada foi dito por minutos a fio. O silencio é o derradeiro grito da alma quando lagrimas e palavras já não são capazes de expressar o que verte do coração. Do outro lado das montanhas passa o rio pouco antes da alta estrada, a vinte e alguns km pela BR, pouco depois da policia rodoviária tem alguma chácara, um lugar cercado pela natureza, aonde só se vê longe as luzes da cidade e raramente se escuta carros que passam na rodovia é um lugar no meio do nada, de dia se escuta o cantar do Sabia e de noite o chirriar das corujas, sem sinal de celular e luz elétrica a base de gerador. O rio demarca a propriedade. A casa de dois andares, toda de madeira, com lareira, um porão enorme, quartos com vista para os montes da Curruirá. A seis meses atrás teve uma festa lá, a despedida da Moly.
Posted on: Fri, 16 Aug 2013 07:27:44 +0000

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