Jatobá vai nascer! Jatobá é a esquina de Seu Manoel - TopicsExpress



          

Jatobá vai nascer! Jatobá é a esquina de Seu Manoel Bala. Pedra 90 ou o Jeep de Mané Bala Eita Jatobá!!!! Manoel Bala é personagem de uma reunião familiar em duas esquinas de Jatobá. Com o dia e o café ainda quentes no sabor, ele sai da cozinha da casa à calçada, e toma duas pitadas de rapé. Antes passará pelo corredor do jardim incensado pelos cheiros de folha de laranja e rosa amélia; atravessa a rua e conversa com ‘Seu’ Joaquim Ribeiro, na “casa de 1º andar”. Fica na calçada, encostado na meia parede que dá à varanda, e o sogro fica, ainda, por dentro. Eventualmente ambos saem até uma, ou ambas, as esquinas que marcam suas casas, próxima à do Cel. Malaquias Barbosa. Dona Zita, a esposa, tem uma personalidade marcante: é tal dócil que sugere distância. Se ainda não foi ao trabalho, na direção do Grupo Escolar Duque de Caxias, depois de ser abençoada pelos pais, instrui Damiana sobre a administração da casa. Depois sentará na área do jardim para conversar com amigos, parentes e ver o movimento da rua e da praça. Damiana vai por a cabeça fora da janela e trocar conversas que, se muita esticadas, lhe tirarão para a calçada. Ouço o silêncio meigo de Dona Zita no mesmo diapasão da “gargalhada” da Negra Damiana: como o mantra original – OM! Em frente à casa de Seu Manuel está o seu Jeep que o levará à fiscalização das propriedades da Pinheira ao Ceará. Na bagagem alguns quilos de sal. Seu Aurélio, irmão mais velho, é vizinho de rua, mais pra cima, e também pode dividir a pauta da reunião ordinária cotidiana. A conversa, em tom sereno, vai girar em torno do tempo, de algum evento público notório, e, talvez, de suas famílias. Seu Joaquim vai se recolher um pouco, e os irmãos vão subir mais para leste, em busca da igreja, onde Né Bala (Manoel Pai) espera para ouvir os filhos, numa mesma reunião cotidiana, da área do jardim à calçada da sua casa. Na casa de seu pai, Manoel se solta mais, porque ouve opiniões mais diversificadas, de irmãos mais jovens ou de sobrinhos mais autorizados. Essa reunião se repetia ao ocaso, para a fraternidade ouvir as prédicas climáticas de Tenente Bala. O Jeep pode estar encrencado - “deu o prego”. Se for assim, é preciso conseguir um meio de transporte. João Vaqueiro, marido de Tunia, que mora mais embaixo, em busca da Várzea, há de ser chamado para algum “adjuntório”. Entre os pitacos que dá ou que ouve, com a sobriedade marcante, Manoel dá uma pitada no seu rapé, que está guardado numa latinha redonda de alumínio, que ele abre como o padre abre o missal e o cirurgião manobra o bisturi. Às vezes ele nem nota que abriu a latinha e que “tomou o rapé”. Entro na história pelo pé de laranja, pelas rosas vermelhas, pela proximidade da casa que ficava em frente à minha - e em cujo muro, por vezes caía minha bola de futebol, obrigando-me à invasão domiciliar -, e por dividir, tanto quanto podia, as festas, especialmente juninas, com os sobrinhos dele que vinham da capital. Quando era menino, eu tive a curiosidade de estudar a origem do nome que seu Manoel herdou de seu pai, Seu Né Bala e este do santo. Seu Né era, para mim, uma face magra e calma, com um cigarro de fumo e um camisa aberta nos punhos toda furada no peito por brasa do cigarro. O nome persa e a função pública do mártir católico bem que se adaptaram a ambos os conterrâneos: verdadeiros embaixadores e pacientes. Um dos filhos de Seu Manoel Bala, Babá de Mané Bala, foi meu companheiro e tutor eventual nas repúblicas estudantis que dividimos na capital da Paraíba. Tenho por ele uma admiração profunda e sempre lhe trato pelo mesmo nome com que agradecia o filé com fritas ou a cartola lá no Bompreço da João Machado: Amigão!!! O Jeep, quebrado, ficou um tempo na rua exposto à chuva, ao sol, ao sereno e às nossas investidas infantis, até que Seu Manoel resolveu trocá-lo por uma camionete laranja. O pé de laranja não está mais lá. Algumas rosas escaparam à nova arquitetura da casa, mantendo um pouco o cheiro. As rosas que eu “roubei”, no jardim, demorei a entregar: nunca fui bom carteiro. Minha casa e o campo de futebol não mais existem. Evito passar por lá tanto quanto posso... ....e seu Manoel Bala cruza os 90 anos com as graças de Deus!
Posted on: Sun, 22 Sep 2013 20:38:51 +0000

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