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Texto extraído do Blog Acerto de Contas, por Pierre Lucena, recomendado pela minha sempre mestra Maria Do Carmelo Poroca "Estive hoje no protesto no Centro do Recife. Como moro na Boa Vista, bastou uma caminhada de uns duzentos metros e lá estava eu, no meio do furacão. Encontrei com o Presidente da Adufepe, o Professor José Luiz, e fomos caminhando juntos e conversando. Percebi que existia um clima de Fora Collor no ar, o que para mim vem com uma grande nostalgia, já que á época já era líder estudantil, e participei ativamente da organização das passeatas em Recife. Vi no protesto muita gente que nunca foi às ruas, o que é muito bom. Sem essa de ficar rotulando as pessoas pela sua característica despolitizada. São cidadãos como qualquer um de nós, que por algum motivo resolveu sair do sofá e ir às ruas. Para entender o que está acontecendo, é preciso compreender que esta é basicamente uma crise urbana, e majoritariamente de classe média. Novamente, não há nada de pejorativo nisso, já que a classe média é imensa hoje no país. Falo isso porque é impossível não perceber que, apesar da melhora do padrão de renda dos últimos anos, a vida nas grandes cidades tem piorado bastante em alguns aspectos, em especial a mobilidade urbana, estopim desta crise. E a inflação, localizada de maneira aguda no setor de serviços, tem afetado fortemente a classe média. Uma família com uma renda alta, em torno de R$ 10 mil mensais, sempre resolveu seus problemas colocando seus filhos na escola privada, pagando plano de saúde e tendo dois carros em casa. Com um grupo de jovens indo às ruas por causa de um aumento de passagem, e observando os preços dos serviços aumentarem muito, inevitavelmente as pessoas começaram a parar para pensar: Por que diabos eu pago R$ 1500,00 de escola para meus dois filhos? Por que eu gasto mais R$ 1 mil em plano de saúde? Por que preciso de dois carros na garagem, ao invés de usar o transporte público? E a absoluta incapacidade do Estado em responder com serviços públicos decentes, presos a uma burocracia medonha, gerou uma onda de rua que talvez o país nunca tenha visto, nem mesmo em outros movimentos, já que todo dia tem passeata neste país. E aí onde quero chegar. O movimento tem alguns pontos importantes que devemos prestar atenção. 1 – Por ser um movimento de insatisfação urbana por serviços públicos, está atraindo todo mundo. É um movimento desprovido de ideologia. Quem está nas ruas é o que chamam de sujeito médio (termo horrível), que é aquele que não se preocupa com o noticiário político. 2 – É um movimento sem liderança alguma. Como não temos experiência em mobilizações horizontalizadas via rede, é impossível qualquer comando. 3 – Carrega um forte teor de rejeição a movimentos sociais e partidos políticos. Observando este itens, percebemos um caldo sinistro se formando. A rejeição aos partidos não tem nada de despolitizado. É simplesmente uma fortíssima crise de representação. O “sujeito médio” mobilizado neste momento não consegue visualizar saída democrática pelos partidos que aí estão, muito menos pelos políticos que aí estão. Quando olham para os movimentos sociais, percebem que a abdução destes foi clara, já que algumas entidades se assemelham a cartórios de grupos, quando não sindicatos familiares. Estão insatisfeitíssimos com o PT, e quando olham para o lado, só o que aparece é o PSDB. Ele não quer ir para a esquerda do PT, muito menos para a direita do PSDB. Ele quer alguém que coloque o Estado a seu serviço, e na cabeça deles, os dois fracassaram. O resto, para ele, é resto. E esta crise de representação teve sua senha dada na eleição presidencial de 2010, com a votação de Marina Silva nas capitais. Mesmo que não se enxergasse Marina como alternativa confiável, optaram pelo voto nela, com o objetivo de mandar um recado. Recado este que não foi ouvido pelo PT. E como este movimento está imenso e sem comando, o perigo ronda o tempo todo. Não há com quem negociar, e com a ausência de conhecimento deste tipo de movimento horizonta de característica meio anárquica, abre-se espaço para todo tipo de aventura. Hoje vimos invasões de prédios públicos, vândalos em escala crescente e cada vez mais gente nas ruas. Isto sem falar no absurdo de agressões a partidários nas passeatas. Obvio que levar bandeira de partido que está no poder, como PT e PCdoB, é algo desproposital e sem noção neste momento, já que o protesto leva muita gente contra estes partidos, a democracia se faz com a participação de todos. Não estou falando do protesto de Recife, que foi marcado em sua maioria pela tranquilidade. Não devemos desmerecer o clima ameno da passeata. O que vimos aqui foi um belo exemplo de democracia e civilidade. Já em outros lugares, não está sendo bem assim. Ver o PT vaiado, com bandeira queimada, é algo de assustar. Não foram fascistas, como alguns querem mostrar, mas de um teor anárquico explosivo, principalmente porque tem o apoio da maioria. Ainda mais com manifestações praticamente diárias e cada vez mais ousadas. E neste ambiente horizontal, sem ter com quem negociar, sem pauta clara de reivindicação, com os Governos aturdidos por falta de experiência em movimentos desta forma, e vendo extremistas de esquerda e direita de mãos dadas a uma massa revoltada e sem perspectiva política clara, só posso chegar a uma conclusão… Estamos brincando de revolução. E já sou vivido o suficiente para acreditar que isso pode não acabar muito bem."
Posted on: Sun, 30 Jun 2013 02:06:29 +0000

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