A propósito do brutal assassinato de uma moça pelo marido, no - TopicsExpress



          

A propósito do brutal assassinato de uma moça pelo marido, no bairro Augusto Franco, em Aracaju, ouvi mais de um comentário do tipo: “Viu? É o que dá conhecer alguém pela internet”. Não é bem assim. A violência está em todo lugar e é protagonizada por pessoas de históricos mais diversos, sem falar que há inúmeros casais que se conheceram pela internet e mantêm uma relação sólida e sem surpresas. Mas reconheço que há algo nas relações virtuais que fascina e assusta, e por isso elas são vistas com tamanha desconfiança: é a rapidez com que se cria o vínculo. Não há outro relacionamento que queime tantas etapas. Nas relações ao vivo você primeiro estuda o terreno, depois convida para um chope, aí liga na semana seguinte, e assim vai. Trocando e-mails você faz tudo isto em poucas horas. Meia dúzia de mensagens é o que basta para a intimidade – bem relativa, diga-se – começar a se impor. O casal, cada um no seu micro, fica livre da timidez e cria um personagem muito mais sedutor e atraente, que não gagueja, não vacila, nas embola as frases: as contrário, reescreve-as quantas vezes for preciso até que elas saiam bem...naturais. Nada de mal nisso, é apenas mais uma forma de encontro, e com inúmeras vantagens. Porém a ligeireza da internet está sendo reproduzida fora dela, e é aí que ficamos vulneráveis. As pessoas querem saltar da tela do computador num efeito rosa púrpura, como se passar do virtual para o real fosse uma mera questão de continuidade, e não é. É preciso retroceder a fita, reiniciar o programa, valer-se da cautela. Mas parece que todos querem ser livres da solidão o quanto antes, e acabam casando poucos meses depois de se conhecer, com a mesma urgência das primeiras mensagens trocadas priorizando a paixão e dispensando o bom senso, esse pobre-diabo desprestigiado. Escrevi sobre isso outro dia, e volto a bater na tecla: conhecer alguém exige uma certa demanda de tempo. Uma vida inteira, às vezes, não basta. É sempre uma loteria. Há os sortudos que batem o olho de primeira e são tomados pela certeza divina: É ele! É ela! Mas quem não tem esse radar ultrapotente, que vá com calma. Pressa pra quê? Viagem juntos, almocem juntos, fiquem sem dinheiro juntos, conheçam os amigos um do outro, testemunhem as relações familiares de cada um, observem as reações de ciúmes, as paranóias, dividam pizzas, dividam o banheiro, passem por uns sufocos. Se depois de tudo isso a vida a dois continuar um paraíso, aí tomem a bênção aqui da tia: podem unir seus nicknames, já sabem onde estão se metendo. -M.M (ajustado).
Posted on: Tue, 06 Aug 2013 13:25:51 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015