Convencimento e comunicação Luís Carlos Lopes Universidade - TopicsExpress



          

Convencimento e comunicação Luís Carlos Lopes Universidade Federal Fluminense (Niterói, Rio de Janeiro) Localice en este documento Resumo: Este artigo discute alguns paradigmas das teorias da comunicação, invocando a idéia do convencimento como seu ponto central. Discute as origens históricas das formas de comunicação da humanidade, as vinculando às desenvolvidas com o concurso das máquinas convencionais e digitais de nosso tempo. Faz a defesa da necessidade de se criar uma hermenêutica negativa, crítica e de profundidade, especializada no que o autor chama de cultura das mídias. Procura demonstrar a pertinência da nova retórica, como ferramenta para analisar e avaliar os produtos desta cultura. No seu ponto de vista, a comunicação baseada no páthos aristotélico é de grande significação, não podendo ser abandonada, por se afastar do pensamento racional. As idéias do autor são fortemente influenciadas pelo trabalho de Philippe Breton. Palavras-chave: parole, páthos, hermenêutica negativa. Abstract: This article discusses some paradigms of communication’s theories. The author talks about the idea of importance to convince into the history of human communication, making relations with the present communication by conventional and digital machines. He thinks about the necessity in creating the negative hermeneutic, critical and deeper. His objective is the analyses media’s culture. In your point of view, the communication is also a side of the Aristote’s pathos. There isn’t possibility to be isolated of the rational thinking. The ideas of the author are based in the Philippe Breton works. Key-words: parole, pathos, negative hermeneutic. Résumé: Cet article fait la discussion des quelques paradigmes des théories de la communication, il est basé fortement à l’idée de convaincre. Il discute les origines historiques des formes de la communication humaines et ses liaisons aux machines ordinaires et numériques de notre temps. Il parle du besoin de se créer une herméneutique négative, critique et de profondeur, pour travailler avec au qui l’auteur appelle de culture des médias. Il cherche souligner la pertinence de la nouvelle rhétorique, comme outil pour évaluer les produits de cette culture. Dans sont point de vue, la communication basée au pathos aristotélique est de grande signification, elle ne peut pas être abandonnée, pour effet d’être différent de la pensée rationnelle. Les idées d’auteur sont fortement ancrées au travail de Philippe Breton. Mots-clés: parole, pathos, herméneutique négative. Introdução O conceito de comunicação, na atual fase da modernidade, enquadra-se no sentido que Bourdieu (1987; 1989) entende a palavra ‘campo’. Trata-se de um campo de trabalho e saber, por conseqüência, possível de ser investigado pelas ciências sociais. Não casualmente, os estudos de comunicação são especializações do saber contemporâneo. Sociólogos, antropólogos, filósofos, historiadores e outros produzem há décadas estudos contendo proposições teóricas sobre os temas comunicacionais ou, simplesmente, investigações sobre a empiria da ação nesta área do trabalho e do saber humano contemporâneos. Obviamente, comunicar é uma das características do devir humano. Os objetos portadores de informações, argumentos e expressões estéticas e emocionais, aceitando-se as definições de Breton (2002; 2003) do que é comunicação, provêm da pré-história. As civilizações que inventaram a propriedade privada, o Estado e a escravidão, também desenvolveram cada vez mais os seus meios de comunicação na forma de objetos das mais variadas dimensões e formatos. As características desses objetos representam o modo como inúmeras formações sociais entenderam a si próprias e a tudo que as cercavam. Nada disso, impediu a continuidade dos antiqüíssimos meios de comunicação humanos ligados diretamente ao corpo e a sua capacidade de criar. A gestualidade deve ter precedido a fala, que é uma espécie de gestualidade sonora. A capacidade de representar por desenhos antecedeu a toda comunicação imagética conhecida e se manteve nos meios de comunicação digitais de nosso tempo, na presença dos diversos tipos de designs. Na contemporaneidade, convivem os meios humanos, os baseados em objetos construídos e os meios maquínicos de comunicação. Todos estão entrelaçados e só funcionam como um todo, porque dependem da ação humana para existir. Por isto, é correta a afirmação habermasiana da existência de um agir (comportamento) comunicacional (HABERMAS, 1989). O texto escrito e sua maior expressão - o livro - são antigos objetos falantes, dependentes da ação humana de os ler e compreender, bem como, a de os manter e distribuir. Mas, antes da escrita já havia mídias na forma de desenhos, pinturas, esculturas e arquitetura. Com a escrita, foi possível traduzir a fala, os gestos, as imagens de outros objetos também falantes, que a precederam e a prepararam. A escrita relaciona-se à imagética, consiste em uma representação do mundo físico, como demonstram os estudos sobre a origem dos alfabetos e das escritas ideográficas. Representa, igualmente, a fala, traduzindo-a em signos que podem ser lidos e re-transformados em sons provindos da voz humana. Na dança, por exemplo, se vê a transformação da fala ou do texto em gestos, retornando-se ao ponto seminal. A oposição saussuriana entre a fala (langue) e a escrita (parole) parece tangenciar a uma visão metafísica da história da comunicação. A fala e escrita caminharam próximas, apesar da oposição de classe que sempre as sombrearam. A oralidade é muito mais antiga e universal do que a escrita. A escrita foi concebida como modo de controlar e manter a ordem social, complementando a fala do poder e servindo de comunicação entre os seus detentores. A segunda jamais superou a primeira, enquanto, técnicas de comunicar e representar o mundo. O lento desenvolvimento da escrita e, sobretudo, da capacidade de ler e compreender implicaram a possibilidade de registrar os atos humanos. Permitiram a construção de signos mais próximos da fala, ensejando que os conteúdos e as formas das relações sociais e interpessoais fossem consultados de modo mais perene. A escrita pode a qualquer momento voltar a sua origem, isto é, a da gestualidade especial que é a fala. Deste modo, as sociedades humanas puderam se manter organizadas com o auxílio de uma forma de guardar a memória mais eficiente e duradoura. A presença da escrita aumentou a possibilidade da ritualização e da sacramentação da vida social. Durante séculos, o acesso à tecnologia da leitura e da escrita foi seletivo. A grande maioria dos seres humanos não era convidada a se comunicar para além da oralidade e da gestualidade. Ainda hoje, milhões de pessoas não possuem esta possibilidade e muitos dos que a adquiriram, a exercem de modo incipiente, tendo imensas dificuldades para ler, escrever e contar de modo satisfatório. A cultura letrada ainda é um privilégio de alguns que se confunde com a exclusão da maioria. Nem mesmo a presença de escolas, por si só, garante a socialização do conhecimento disponível na forma escrita. A valorização do texto, como forma de comunicação coletiva e individual, é algo complexo que demanda de tempo e de estruturas capazes de levar as pessoas a ler e a compreender o que lêem. A difusão da leitura e da escrita, feita para grandes contingentes sociais, foi um imperativo da modernidade industrial, com suas novas tecnologias e necessidades de trabalho e de consumo. A difícil generalização da educação básica provocou o letramento da maioria, mesmo que isto tenha sido feito nos limites da estratificação social e dos interesses políticos dominantes. Na modernidade, a fala e a escrita contêm os elementos da cultura, com suas tensões internas e proposições para a continuidade do devir histórico. Saber ler o básico é fundamental para consumir os artigos disponíveis e para trabalhar nas máquinas das tecnologias atuais. Todavia, ‘ler o básico’ pode significar também uma imensa limitação sócio-histórica do uso da leitura. As diferenças dos níveis de letramento entre os povos das nações contemporâneas e dentro das formações sociais de hoje indicam a importância da comunicação como organizadora do tecido social e da multiplicidade de níveis de desenvolvimento econômico, tecnológico e humano. A oralidade e o baixo letramento predominam no hemisfério sul, não casualmente. Isto corresponde às características histórico-culturais dos países da região. O contrário se pode dizer dos países ricos do hemisfério norte, onde, com enormes diferenças de país para país, o letramento é uma exigência do funcionamento global das economias e das sociedades da região. Ele está inserido nas culturas da maior parte dos países como exigência fundamental de inserção no mundo da vida. Uma das peculiaridades da comunicação mediada por máquinas eletro-eletrônicas é que ela relativizou a necessidade da leitura. Centrada na imagem e/ou no som, este tipo de comunicação tornou a leitura e a escrita apenas algo a mais. A rigor, ambas são necessárias em níveis mínimos para lidar com as máquinas de nosso tempo. Não é preciso saber ler e escrever para se ir ao cinema, escutar o rádio, ver televisão ou operar comandos simples de computadores. Há uma demanda básica de leitura facilmente adaptável ao baixo nível de letramento reinante. Os sistemas de ensino dão conta de fornecer os elementos funcionais que inserem as pessoas no uso nas tecnologias disponíveis. O que não é conseguido na escola é providenciado no convívio social, por meio da conversação ou aprendido na prática com o uso das próprias mídias. A comunicação como um negócio e suas objeções Na presente realidade material, a comunicação humana foi estruturada como um dos seus negócios mais afluentes. Em vários países, os lucros auferidos superam os conseguidos com as atividades econômicas tradicionais. O cinema norte-americano, em um dos exemplos possíveis, produz mercadorias vendidas em toda parte, movimentando bilhões de dólares. O uso de micro-computadores e, sobretudo, da internet consistem em lazer para alguns e ferramentas de trabalho para outros. Entretanto, os equipamentos, programas, ações publicitárias, vendas de serviço etc, envolvidos com a ordem informática e internética, movimentam bilhões e bilhões em escala planetária. Grandes fortunas, empresas poderosas e salários gigantescos estão vinculados ao sucesso econômico dos produtos comunicacionais comercializados no ocidente e no oriente. Não há barreiras ou diques de contenção impenetráveis que impeçam a difusão mundial das novas tecnologias de comunicação. A televisão aberta e a por assinatura alcançam cifras multimilionárias e envolvem praticamente populações inteiras. A indústria fonográfica, a livreira, a imprensa escrita, dentre outras, demonstram a potência econômica, política, social e cultural das práticas comunicacionais em todo o planeta Terra. O negócio da comunicação está no centro da agenda econômica e política dos países urbanizados e ordenados de acordo com as regras do capitalismo. As máquinas digitais estão presentes na indústria, no comércio, nos serviços, no ambiente público e na esfera privada. Estão em toda parte. Cada vez é menor o número de ações humanas que prescindam destas máquinas, que são máquinas de comunicar. Em suma, a nova ordem mundial é também a ordem da comunicação mediada por estas máquinas ou por objetos construídos por elas. As esferas públicas e privadas da vida funcionam, cada vez mais, em dependência deste construto humano que tem aspectos materiais e simbólicos. Está em curso uma revolução tecnológica centrada no uso das tecnologias digitais da comunicação, também chamadas da informação (TICs). Adotou-se o nome mídias para se referir tanto aos meios de comunicação tradicionais, como aos meios baseados nas máquinas digitais. Usou-se o mesmo nome para designar os produtos físicos dos meios de comunicação: jornais, filmes, discos rígidos, impressos etc. A mesma palavra vem sendo usada para se chamar à atenção para o poder das empresas de comunicação. As mídias, nos seus múltiplos sentidos, invadiram o mundo atual parecendo que o controlam e ditarão seu futuro para sempre. Frente a esta realidade, levantaram-se as objeções tecnofóbicas, propondo um retorno impossível, a um mundo pré-midiático. A única solução seria a de voltar, utopicamente, ao passado das relações sociais e interpessoais sem a influência hegemônica das novas mídias. O ponto mais positivo da tecnofobia tem sido o de alertar para as questões sociais e políticas derivadas da revolução digital. Os riscos de desumanização, sujeição e controle, representados pela prevalência dos artefatos digitais, vêm sendo denunciados e apontados como um dos sérios problemas de nosso tempo. Paul Virílio (1999) criou um observatório particular dos riscos da cibercultura e do que ele chamou de “bomba informática”. Os adeptos da ordem informática são hegemônicos, a tecnofilia tem inúmeros apologistas. Estes a apresentam como algo de novo e revolucionário. Acreditam que as máquinas desenvolvem, ampliam e/ou substituem a inteligência humana. Fazem a defesa sistemática da cibercultura e da idéia da ‘informação’, vistas, com variações, como símbolos do ‘progresso’ de nosso tempo. Não foi difícil a formação de uma legião de fiéis. Quando questionados, os adeptos fervorosos desta nova ordem tecnológica e social reagem violentamente, a partir do poder que representam. Portam-se como apóstolos convictos de suas verdades e virtudes. Há uma reverência às mídias de natureza religiosa. Elas representam para muitos de seus usuários uma espécie de conexão com um mundo metafísico, apartado dos problemas do cotidiano. Neste novo Nirvana, tudo se propõe e tudo se resolve ou, o contrário, tudo que se propõe transforma-se em nuvens de bits e nada se resolve, sem considerar o que existe fora deste mundo fantasmagórico (LOPES, 2004). Um terceiro e, ainda, minoritário grupo, capitaneado por Philippe Breton (2000), defende uma solução intermediária. Reconhece como válidas as críticas tecnofóbicas, quando elas apontam para o problema da desumanização. De outro mirante, pensa que não se pode imaginar um mundo apartado das novas tecnologias da comunicação, mas crê que se pode domá-las e impedir que a utopia tecnofílica, dogmática e alienante, domine o cenário do uso das mesmas. Postula, por isto, um uso crítico das TICs, cuidadoso com os riscos de desumanização e preocupado com os seus efeitos sociais e culturais. Esta discussão normalmente é circunscrita ao problema do uso da internet. Acredita-se que ela deveria ser ampliada ao uso social do conjunto das tecnologias da comunicação. Na questão da televisão, por exemplo, argumentos semelhantes são usados para se aderir ou para achar que ela é em si mesma um mal ou algo que beneficia a vida social. A tecnofobia e a tecnofilia estão presentes nas visões construídas para se compreender o uso das tecnologias da comunicação do passado recente e de nosso tempo. A busca de uma visão mais equilibrada implica abandonar um olhar que foca os meios de comunicação e os produtos midiáticos passando-se a ver o fenômeno da comunicação através de outros paradigmas. O que mais importa são as relações que os homens e as mulheres desenvolvem no contexto da midiatização do mundo. Sempre lembrando que esta jamais poderá ser completa, a não ser que a espécie humana desaparecesse e fosse substituída por máquinas. Por isso, a tese midiocêntrica é um silogismo sofístico, carecendo de qualquer possibilidade de comprovação.
Posted on: Thu, 12 Sep 2013 11:26:02 +0000

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